A oficina “Transformações no Mundo do Trabalho e Respostas Sindicais”, realizada nesta quarta-feira (14), no Fórum Social Mundial (FSM2018), em Salvador, debateu com militantes e dirigentes sindicais de vários países, acadêmicos e estudiosos do tema, como o neoliberalismo, o domínio do sistema financeiro sobre a economia e as novas tecnologias configuram um novo ciclo do sistema capitalista.
A oficina realizada pela manhã na Tenda da CUT, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), discutiu também a reorganização da produção em cadeias globais, o avanço tecnológico, a robotização e a digitalização da economia que vêm provocando transformações sem precedentes no mundo do trabalho e colocando inúmeros desafios às sociedades e às organizações sindicais.
“É preciso uma reorganização sindical para que os sindicatos e representantes dos trabalhadores e trabalhadoras possam se apropriar dessa transformação tecnológica”, diz Valter Sanches, secretário geral da IndustriALL Global Union, da Federação Internacional dos Trabalhadores na Indústria.
Segundo ele, 60% por cento do trabalho que existe hoje pode ser automatizado totalmente ou parcialmente.
“É um processo de risco e oportunidades. Precisamos lutar juntos enquanto classe trabalhadora. Assim, teremos mais força para negociar e garantir a transição dos empregos eliminados e criados. Precisamos mudar para não sermos derrotados e assistirmos ao aumento do trabalho precário e concentração de renda no planeta”, analisou.
Já Victor Baez, da Confederação Sindical de Trabalhadores/as das Américas (CSA), considera que o movimento sindical está atrasado em sua reorganização para enfrentar essas mudanças.
“É preciso ter os mesmos interesses, ser uma só cadeia para que os trabalhadores e trabalhadoras conquistem suas reivindicações. Devemos apresentar alternativas a essa imposição neoliberal”.
Para o professor Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, o mundo trabalho sempre foi afetado pelas mudanças tecnológicas, mas os trabalhadores também foram protagonistas dessa transformação por meio dos sindicatos e dos partidos políticos e de alguma forma se beneficiaram com as transformações.
”Os trabalhadores não defendem o passado. Pelo contrário, são favoráveis aos avanços tecnológicos porque ele permite produzir mais com menor custo”.
O que precisa ser discutido, diz o professor, é como esse ganho deve ser distribuído com a sociedade.
“A questão chave é como se distribui esses bens e quem fica com o ônus dessa mudança. O trabalhador não pode ficar com o ônus. É preciso uma reflexão coletiva, especialmente dentro da CUT, que é a Central compromissada com um futuro melhor para todos”, disse Pochmann.
O auditório onde foi realizada a oficina “Transformações no Mundo do Trabalho e Respostas Sindicais” ficou lotado. O evento contou com o apoio da Fundação Friedrich Ebert Brasil, da Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), da Confederação Sindical Internacional (CSI) e do escritório de Atividades para os Trabalhadores (ACTRAV) da Organização Internacional o Trabalho (OIT).
O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, avaliou positivamente a participação do público, que não só assistiu as palestras, como fez perguntas e debateu esse tema tão importante para a classe trabalhadora.
Os ataques aos trabalhadores no Brasil
Dirigentes da CUT nacional aproveitaram o evento para denunciar aos sindicalistas internacionais o retrocesso nas relações de Trabalho e os ataques aos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras desde o golpe de 2016.
“Além das novas tecnologias tem um ataque muito grande aos direitos trabalhistas. É preciso se contrapor a essa onda conservadora no mundo de exploração da mão de obra da classe trabalhadora”, afirmou Graça Costa, Secretária de Relações do Trabalho da CUT.
Para Rosane Bertotti, secretária de Formação da CUT, “as novas tecnologias não podem representar um assalto aos direitos dos trabalhadores”.
Segundo ela, também foi discutido na oficina, ”como garantir que as tecnologias tragam mais qualidade de vida e renda a todos os trabalhadores e trabalhadoras”.
“Essa é a luta, o grande desafio para a formação política e profissional da Central Única“, concluiu a dirigente.
[Via CUT]