MST
Cerca de 750 Sem Terrinha e professores das áreas rurais ocupam na manhã desta quarta-feira (12/02) o Ministério da Educação (MEC), em Brasília. As crianças saíram em marcha do Ginásio Nilson Nelson, onde acontece o VI Congresso do MST, e permanecerão no Ministério até às 12h.
“Viemos aqui para denunciar à sociedade e ao governo o descaso com a educação. Nossa intenção não é sentar com o ministro, não viemos pedir, viemos denunciar”, afirma Márcia Mara Ramos, que integra o setor de educação do MST.
O MST denuncia o fechamento de 37 mil escolas no campo nos últimos 12 anos, a ausência de uma política de erradicação do analfabetismo e a desvalorização dos profissionais da educação. As crianças produziram uma carta-manifesto, que será lida no Ministério.
Situação
“Quando as escolas são fechadas na área rural, as crianças são obrigadas a andar muito ou ficar muito tempo em ônibus precários para chegar às salas de aula”, relata Márcia. “A maioria dos ônibus que fazem esse deslocamento está em situação lamentável, sem as condições mínimas de segurança. Em alguns estados do Nordeste, esse transporte é feito ainda em pau de arara”, exemplifica.
Márcia explica que o Movimento reivindica a construção de 400 escolas nos assentamentos da Reforma Agrária, para atender à demanda das famílias.
“Hoje, existem apenas 76 mil escolas no campo, e muitas delas funcionam sem biblioteca, laboratórios, algumas até sem água encanada”, destaca.
Rian da Silva Carvalho, de 11 anos, mora no assentamento Dorcelina, no Mato Grosso do Sul. Ele gasta todo dia duas horas para chegar na escola e voltar pra casa.
Além de querer estudar mais perto de onde vive, ele reclama que a estrada é ruim e o ônibus não é confortável. “Também acho que deveria ter mais professores na escola. Às vezes falta. E também que a comida fosse mais gostosa, mais saudável”, diz.
Marcha
Os 16 mil participantes do VI Congresso Nacional do MST realizam uma marcha por Brasília nesta quarta-feira (12/02). Os Sem Terra saem às 14h do ginásio Nilson Nelson, onde acontece o Congresso, e irão até a Esplanada dos Ministérios.
O ato vai denunciar a atual estagnação da Reforma Agrária no Brasil. Para o MST, este é um dos piores períodos para a Reforma Agrária: apenas 7.274 famílias foram assentadas em 2013, a partir da desapropriação de 100 áreas, em 21 estados.
Dados do Incra apontam que foram assentadas 30 mil famílias, número superestimado, já que inclui áreas públicas na Amazônia.
Leia abaixo o manifesto dos Sem Terrinha:
MANIFESTO DOS SEM TERRINHA À SOCIEDADE BRASILEIRA
Nós somos Sem Terrinha de acampamentos e assentamentos de todo o Brasil e estamos participando do VI Congresso Nacional do MST e da Ciranda Infantil Paulo Freire. Viemos protestar pelos nossos direitos, por Reforma Agrária e lutar por um Brasil melhor.
Tem gente que tem preconceito com os Sem Terra e com os Sem Terrinha. Nos acampamentos e assentamentos do MST tem animais, pessoas, escolas, árvores e plantações. A plantação é muito importante para nós, não tem como viver sem alimentos.
O agronegócio é apenas uma monocultura, é uma coisa que só planta uma lavoura. Para que as plantas não estraguem é preciso usar muito veneno, que trazem doenças e perda da qualidade da comida. No agronegócio tudo é mercadoria!
Já nos acampamentos e assentamentos plantamos para comer e para vender para o povo da cidade. É uma policultura, há várias plantações e criações de bichos. Lá tem macaxeira, feijão, milho, melancia, galinha, bode, gado e suíno. E não precisa usar veneno, porque com a criação de bichos pode diminuir bastante os besouros e as lagartas que estragam as plantações. As terras são todas roçadas para poder plantar.
Mas queremos um assentamento melhor, que tenha saúde, divertimento e escolas. As atividades feitas nas escolas tem que melhorar, pois não dá pra ser assim. Existem muitas escolas que não estão dentro dos nossos acampamentos e assentamentos e que não tem transporte para nos levar.
O transporte é muito difícil, porque quando precisa ir para a escola da cidade é preciso andar muito para conseguir chegar no ponto de ônibus. Quando chove não tem ônibus e faltamos na aula. Queremos que o transporte não vá para lugares muito longe.
Somos dos acampamentos e assentamentos e queremos que lá no campo tenha escola. Precisamos de uma educação melhor. Queremos que nossos professores sejam do assentamento para que não faltem muito. Como é difícil o transporte entre a cidade e o campo os professores acabam faltando e os alunos perdendo aula.
Queremos também uma alimentação saudável para que nós, os alunos, não passemos mal na escola. Em nossas escolas precisamos de atividades extra-curriculares, fazer da escola um lugar de lazer, aberta para a comunidade nos finais de semana. Precisamos de cursos de informática, piscina de natação, quadra esportiva e muito mais.
Nós, Sem Terrinha, estamos chamando os outros Sem Terra, os amigos do MST e o povo para ajudar a conquistar nossos direitos e cobrar isso do MEC. Como a luta não é fácil, precisamos de mais gente!
Sem Terrinha pelo direito de viver e estudar no campo!
Brasília – DF – 10 a 14 de fevereiro de 2014.