Correios emperram negociações e insistem em descontar dias parados

Trabalhadores organizam grande caravana a Brasília no dia 4.





CUT

Escrito por William Pedreira

O autoritarismo e a inflexibilidade da direção da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) continuam emperrando o desfecho da greve iniciada no dia 14 de setembro. A reunião desta quarta (28) entre o Comando de Negociação e Mobilização da Fentect/CUT (Federação Nacional da Categoria) e o Comando de Negociações dos Correios na Procuradoria do Trabalho mostrou que para a Empresa é uma questão de honra o desconto dos dias parados no contracheque dos trabalhadores.

Para sustentar esta posição intransigente, a direção da ECT se ancora em duas alegações: que não poderia voltar atrás de uma decisão tomada pelo Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que descartou a possibilidade de não cobrar os dias parados e que o desconto deve ser feito para não seja feita uma injustiça com os que continuaram trabalhando. Como se todos, indiscriminadamente, não fossem posteriormente beneficiados com o acordo.

“A direção da Empresa quer jogar a responsabilidade do acirramento das negociações nas costas dos trabalhadores. Mais uma vez, pela imprensa, usaram da mesma falácia para dizer que a recusa de uma possível proposta por parte dos sindicatos estaria inviabilizando o fim da greve. Esta é uma grande mentira porque em toda negociação que se preze é apresentada uma minuta, uma ata com a proposta para avaliação, o que não ocorreu em nosso caso. Então, como que eles podem dizer que rejeitamos uma coisa que não existe? O que estamos fazendo são conversas e negociações, onde sempre deixamos claro que qualquer proposta que inclua o desconto dos dias parados será rejeitada”, declara Saul Gomes da Cruz, do Comando de Negociações da Fentect.

O próprio procurador do Trabalho, Ricardo Brito Pereira, que esteve à frente das conversas, apontou como decisão mais sábia a recomposição dos dias em greve por compensação e não por desconto salarial.

A Fentec parte do principio da negociação e reafirma sua preocupação com a população, reiterando que assim que finalizada a greve, estes dias parados serão compensados e toda a carga dos correios será colocada em dia, seja através de jornadas mais extensas, regime de hora extra compensatória, mutirões ou trabalho nos finais de semana.

Enquanto isso, os trabalhadores vão colecionando vitórias em ações impetradas na Justiça do Trabalho. Depois da Bahia, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba e Campinas-SP, ontem foi a vez de Santa Catarina obter uma liminar impedindo que o desconto dos salários fosse efetuado. Caso a Empresa descumpra a decisão terá de arcar com uma multa de R$300 mil.

Quanto às clausulas econômicas, foi apresentado aos trabalhadores um teto de R$800 milhões para cobertura da folha de pagamento. “Dentro desse valor abrimos mão do abono salarial, mas queremos ganho real. Os Correios apresentaram um aumento linear de R$ 80 a partir de janeiro de 2012, mais reajuste de 6,87% sobre salário e benefícios. Nossa data-base é agosto, então ficaríamos até lá sem esse aumento. Queremos dividir esse valor para receber R$50 agora e R$30 em janeiro ou vice-versa. Outra proposta seria mudar nossa data-base para dezembro”, relata Saul.

Hoje, os trabalhadores da ECT apresentam um dos piores salários entre as estatais, com um piso de R$ 807,00. O último aumento salarial da categoria foi em janeiro de 2010, ainda referente à campanha salarial do ano anterior.

Os trabalhadores organizam para a próxima terça-feira (4) uma grande caravana com a presença de sindicatos de todo o País, unindo forças em passeata conjunta com os bancários, também em greve. Hoje, o prédio central dos Correios em Brasília amanheceu fechado e encontra-se cercado pelos trabalhadores.

 

 

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