Coragem e mobilização são os ingredientes da vitória dos trabalhadores


Depois de 15 dias, chegou ao fim a paralisação dos bancários dos bancos privados, do Banco do Brasil e da Nossa Caixa. Enfim, os trabalhadores do ramo financeiro conseguiram fazer com que a Federação dos Bancos (Fenaban), um dos setores que mais ganha dinheiro no Brasil, apresentasse uma proposta contemplando aumento real e participação nos lucros e resultados atrelada ao lucro e não à variação de crescimento, conforme queiram os banqueiros.

Apenas quem já participou de uma greve sabe quantas dificuldades os sindicatos enfrentam. Da pressão dos chefes para que os trabalhadores voltem aos seus postos até o enfrentamento à polícia, sempre utilizada pelos patrões para coibir a democracia, é preciso, acima de tudo, ter coragem e a certeza dos motivos comuns que levam à luta.   
 

Neste ano, as dificuldades foram ainda maiores, já que os empresários tiveram uma desculpa a mais para tentar evitar a divisão dos lucros que acumularam durante 2008: a crise econômica.

Mesmo o Brasil sendo o primeiro país a sair da crise, mesmo com a economia apresentando crescimento e mesmo com a produção e as vendas retornando aos índices do período anterior à turbulência, muitos espertalhões tentaram usar o argumento da recessão para evitar a distribuição de tudo que conquistaram graças aos trabalhadores.
 

Somente entidades representativas com poder de negociação são capazes de enfrentar uma postura patronal como essa. Caso também dos metalúrgicos do ABC, que precisaram paralisar as fábricas para conquistar 6,53% de reajuste salarial e abono igual a um terço do salário médio.

Os resultados seguem a tendência dos cinco primeiros meses deste ano. Conforme avaliação do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), 96% das negociações asseguraram ao menos a recomposição das perdas, contra 89% do ano passado, no mesmo período. O percentual de negociações que não alcançaram aumento real também caiu de 11%, em 2008, para 4%, em 2009.
 

No final das contas, os aumentos obtidos favorecem tanto trabalhadores como empresários, já que a elevação do poder de compra resulta em aumento da produção e conseqüentemente, dos lucros. Um exemplo é a região do ABC, que deve receber a injeção de R$ 94 bilhões na economia após os acordos firmados pelos metalúrgicos.

Porém, a lógica não parece ser inteligível para muitos governos. É o caso do Estado de São Paulo. Mais uma vez, o ponto negativo das campanhas salariais cabe ao governador José Serra, que ainda recusa estabelecer um canal de negociação e permanece defendendo a privatização, terceirização e sucateamento dos serviços públicos, mesmo após a crise ter ensinado a importância do Estado como indutor do desenvolvimento.
 

Na capital paulista, a Guarda Civil Metropolitana mostrou qual a linguagem que as gestões comandadas por DEM e PSDB entendem, ao conseguir estabelecer uma mesa de negociação permanente, depois de entrar em greve pela primeira vez na história.

A Central Única dos Trabalhadores surgiu para defender um país mais justo e democrático, por isso, mesmo durante o recente período de dificuldade, defendeu o desenvolvimento com emprego e renda.
 

Permaneceremos nesse caminho ao lado de nossos sindicatos e agora em defesa da redução da jornada sem redução de salário para que todos possam ter emprego e receber decentemente por colaborar com a formação de um novo Brasil baseado na distribuição de renda.