No mês da mulher, a categoria petroleira vai saber um pouco mais sobre como funcionam os Coletivos de Mulheres Petroleiras e como participar. Leia a entrevista que a coordenadora do Coletivo de Mulheres Petroleiras da Bahia, Rosângela Maria dos Santos, concedeu ao jornal do Sindipetro-BA. Ela explica o objetivo do Coletivo, as formas de ações e convida a todas as trabalhadoras diretas e indiretas a participar de mais este instrumento de luta a favor das mulheres. Rosângela fala também sobre as cotas e importância da participação das mulheres na política e instâncias sindicais.
Como surgiu a ideia da criação do Coletivo Regional de Mulheres Petroleiras da Bahia e qual o objetivo deste Coletivo?
O coletivo surgiu da necessidade de atender as demandas da categoria, fortalecer a luta das trabalhadoras. E também aumentar a participação feminina nas tomadas de decisão e nas direções sindicais, dando voz a essas mulheres que, muitas vezes, tiveram seus direitos sufocados em um local de trabalho predominantemente masculino. Temos ainda como objetivo principal o fortalecimento de nossa identidade.
Comemoramos o Dia Internacional da Mulher em 2014 com muita expectativa. Afinal, este é um ano de eleições, inclusive no Sindipetro Bahia. Como a mulher petroleira vai se inserir neste processo e fazer com que escutem a sua “voz”?
O Dia Internacional da Mulher deve ser, para as trabalhadoras, motivo de muita celebração e orgulho, não apenas pela data em si, mas pelo simbolismo que ela traz consigo, nos dando visibilidade. É um momento de sair ás ruas e gritar alto para que o mundo ouça as necessidades e direitos das mulheres, assim como promover debates, palestras e cursos com o objetivo de aumentar o nível de conhecimento e compreensão da sociedade acerca da importância das questões de gênero.
A participação da mulher nos espaços de decisão deve ser estimulado por meio da implementação de ações voltadas à inclusão das mulheres no movimento sindical, que é uma importante ferramenta para equilibrar a relação de gênero na sociedade. Deve ser de responsabilidade de cada dirigente a garantia de espaço de participação das mulheres, seja nas lutas da categoria, na direção do sindicato, nas negociações coletivas e, não menos importante, no quadro de sindicalização. Por isso é fundamental o estabelecimento de cotas em todos os espaços de discussão e a promoção de ações voltadas às mulheres, como curso de formação sindical específicos, campanha de sindicalização direcionada às mulheres, creches nos locais onde se realizem atividades sindicais, entre outros.
A participação politica é importante, o Brasil tem um dos piores índices de números de mulheres nos espaços de poder. Não raras às vezes empresas com contingente majoritariamente feminino tem homens em seus cargos de supervisores e gerentes. Nos cargos públicos não é diferente.
E a presença da mulher neste momento crítico pelo qual passa o nosso sindicato é de importância fundamental. A clareza dos fatos tem que ser evidenciada e queremos ajudar e estar junto nessa reconstrução do caráter sindical da nossa categoria.
Como o coletivo pretende atuar na categoria?
Nossos objetivos são:
Desenvolver ações que incentivem a participação das mulheres nas atividades sindicais.
Atuar de forma a combater o assédio moral e sexual por que passa algumas mulheres. Criar uma linha de comunicação saudável, estabelecendo uma relação de confiança entre nós.
Desenvolver políticas sindicais voltadas á mulher.
Trabalhar atuações que exijam das empresas o compromisso com a igualdade de gênero, raça e orientação sexual.
Promover e oportunizar espaços de interação das trabalhadoras e trabalhadores no ambiente de trabalho, apontando as contradições existentes.
As petroleiras trabalham em um ambiente que até pouco tempo era predominantemente masculino. Ainda é difícil para a mulher trabalhar em áreas operacionais?
Por incrível que pareça ainda é porque o machismo continua de forma camuflada muitas vezes, mas ainda nos atingi fisicamente e moralmente. As mulheres representam hoje 17% dos trabalhadores da Petrobras. A grande maioria dessas petroleiras atua em áreas administrativas, sendo que praticamente 50% delas estão lotadas nos escritórios. Apesar de a Petrobras ser presidida por uma mulher, apenas 6% dos cargos de liderança são ocupados por petroleiras, sendo que menos de 2% têm autonomia.
Eu comecei minha vida profissional aos 22anos como técnica de instrumentação, nessa época eu era a única mulher na área operacional e a primeira mulher a trabalhar no regime de turno da extinta Petromisa e de lá prá cá aumentou o número de mulheres, mas não mudou muita coisa, ainda continuamos sem alojamentos adequados. Só agora estamos conquistando os uniformes com corte feminino.
Existem pautas específicas relacionadas às mulheres na Petrobrás? Caso positivo, cite algumas.
Nossas principais bandeiras são o combate aos assédios moral e sexual, melhorias das condições de trabalho, saúde e segurança dos trabalhadores do petróleo, igualdade de oportunidades. E ainda a instalação de programas de mobilidade interna dentro da
Companhia. Não adianta a empresa conter em seu código de ética a intenção de “promover condições de trabalho que propiciem o equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e familiar de todos os empregados” se na prática não existir o esforço e facilitação nas movimentações de funcionários deslocados (lotado) para outro ponto dentro do território nacional com o objetivo de manter as famílias unidas.( E aqui incluo a situação dos Anistiados).
Reivindicamos a facilitação do compartilhamento de responsabilidades familiares para homens e mulheres.
O Coletivo irá garantir a participação das mulheres na mesa de negociação?
O coletivo vai atuar de forma que todas as mulheres possam se unir, a intenção é aproximar as trabalhadoras e estabelecer um elo de comunicação com distribuição de conhecimentos sobre as condições das petroleiras na empresa e na sociedade.
Como anistiada durante a caminhada na conquista da minha anistia e dos meus companheiros aprende o valor do conhecimento e da resistência.
Por isso sei a importância de se investir na formação política nos capacitando para as negociações coletivas, pois sabemos que isso é um excelente instrumento de mudança para a construção de igualdade.
E quanto à paridade nas diversas instâncias sindicais?
É um processo de construção, de conscientização, que pouco a pouco estamos conquistando, o sistema de cotas estabelecido por lei é fundamental e tem que ser respeitado pois a presença da mulher nas decisões sindicais é de suma importância para reforçar o processo democrático e construir unidade. Mas apesar da indicação nem sempre é possível preencher as vagas. Muitas vezes é preciso sensibilizar as mulheres para a questão do preconceito e desigualdade vivenciada por elas, sobretudo, e insisto nisso. É preciso também capacitar as dirigentes sindicais na negociação de temas além daqueles relacionados à questão de gênero, de maneira que a pauta de negociação traga a questão da igualdade de gênero de forma transversal a todas as reinvindicações.
Por que é importante que as mulheres petroleiras participem do Coletivo?
Pensar em igualdade de gênero nos dias de hoje passa pela ideia de empoderamento político das mulheres, ou seja, colocar mulheres nos espaços de decisão. Esse conceito traduz uma estratégia de representação equitativa das mulheres nas estruturas de mando, formal ou informal, sejam elas dentro da empresa, na politica ou no movimento sindical, concedendo direito à voz na formulação de politicas e ações que afetam a sociedade. O coletivo é um espaço de aprendizado de discussão, de reflexão, construção e capacitação de maneira que possamos trazer a questão de gênero de forma que possam beneficiar a todos Mulheres e Homens. Por isso acredito na importância da participação de todas as mulheres nesse processo. Convidamos a todas petroleiras, próprias e terceirizadas, para participarem das atividades.