Congresso do NF começa com análise sobre momento difícil e formas de organização

[Da imprensa do Sindipetro-NF]

Com um número recorde de 220 inscritos, começou na noite de hoje o XVI Congresso Regional dos Petroleiros e Petroleiras do Norte Fluminense (Congrenf). Uma mesa de abertura que durou duas horas fez uma análise da conjuntura brasileira e dos desafios dos movimentos sindical e social.

Participaram o coordenador geral licenciado da FUP, José Maria Rangel; a professora da Uenf, Luciane Soares; e o editor da revista Forum, Renato Rovai, em exposições moderadas pelo coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

A gravidade do cenário foi destacada por todos os expositores, que também se solidarizaram às famílias dos quase 60 mil mortos pela covid-19 no Brasil. Os participantes procuraram fazer um diagnóstico do momento, suas possíveis causas e apontar para caminhos possíveis de saída.

Isolamento do Brasil

Para Luciane Soares, “o governo Bolsonaro tenta criar uma falácia de que é preciso escolher entre a vida e o emprego. O Brasil se tornou um pária, com total incapacidade de lidar com a pandemia. O país está atravessado por mais de mil mortes diárias e o governo demonstra desprezo pelos dados”.

A professora avalia, no entanto, que há boas perspectivas, “embora ainda tímidas”, que estão vindo das ruas, como os protestos organizados por torcidas de times de futebol e movimentos contra o fascismo e contra o racismo. Ela destaca que o governo Bolsonaro pode estar enfraquecido, mas o neoliberalismo não está, mostrando o tamanho do desafio da classe trabalhadora.

País cravado no ódio

José Maria Rangel fez um histórico dos cenários políticos brasileiros que levaram ao momento atual, passando pelos protestos de 2013 que foram capturados pelos setores conservadores e da extrema direita, a vitória difícil de Dilma Rousseff nas eleições de 2014, a agenda de pautas-bomba da oposição no Congresso Nacional em 2015, o Golpe de 2016, os ataques do governo Temer em 2017, a prisão do ex-presidente Lula em 2018. Depois de toda essa sequencia, “o país chegou nessa aventura cravado no ódio”, afirma.

Na economia, avalia Rangel, “é falsa a afirmação de que estamos em uma crise por causa da pandemia. A economia já vinha capengando. O governo não tem projeto para nada. O Brasil já estava com a imunidade baixa. E ainda seguem com a política entreguista”. Ele destacou também que “na Petrobrás, eles agem da mesma forma. Estão intensificando os ataques à categoria.
Para o sindicalista, os trabalhadores “não vão abaixar a cabeça em nenhum momento para este modelo que está aí”. Ele defendeu que os movimentos sindicais e sociais, que ainda atuam de modo prudente na prevenção à pandemia e não estão massivamente nas ruas, em breve vão intensificar as campanhas “fora, Bolsonaro; fora, Mourão; e fora, Paulo Guedes”.

Conservadorismo

Para Renato Rovai, um dos desafios brasileiros é enfrentar o conservadorismo da própria população, que, como mostram pesquisas, podem até manifestar uma aprovação vaga à ideia de democracia, mas sem que essa defesa seja por razões progressistas.

Ele citou pesquisas como a da Forum mostram que pelo menos 25% da população se declara de “extrema direita” ou muito próxima desse campo político no Brasil. A base bolsonarista ainda se mantém sólida em torno dos 30%, independentemente das ações do governo. “A base bolsonarista é mais vinculada a valores morais e políticos do que a resultados, que são desastrosos”, avalia.
Para Rovai, um dos desafios do movimento sindical é organizar uma nova classe trabalhadora, que foi convencida de que é “empreendedora” e em grande parte se mantém em adesão ao projeto conservador do bolsonarismo e do neoliberalismo, que é a formada por trabalhadores das plataformas digitais, como os entregadores do Ifood.

“Temos um novo trabalhador, que inclusive está chamando uma greve para 1º de julho, que o governo vê como empreendedor. Temos que saber como lidar com essas novas formas de trabalho. Vai ser decisivo. Temos que construir formas de dialogar com eles, que estão de alguma forma vinculados a essa ideologia do Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, numa nova lógica de meritocracia”, disse o jornalista.

Rovai também destacou o papel estratégico da categoria petroleira, que sempre foi um símbolo de resistência. “Se tem uma categoria que não vai ganhar nada de mão beijada é a petroleira”, afirmou, avaliando que os petroleiros são símbolos do que o neoliberalismo quer destruir. “É por isso que, muitas vezes, muitas lutas são importantíssimas, mesmo que não tragam resultados imediatos, mas são formas de resistência”, concluiu.

Saiba mais sobre o Congrenf

O XVI Congrenf segue até a próxima sexta-feira, totalmente online. As mesas e palestras também serão disponibilizadas em vídeo nas redes sociais do Sindipetro-NF. Mais informações sobre o evento estão disponíveis em congresse.me/eventos/congrenf.