Rede Brasil Atual
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) reservará o final do ano para elaborar um balanço preliminar das atividades realizadas em seus primeiros seis meses de trabalho. Um relatório parcial deve ser divulgado ainda em novembro, provavelmente no dia 26, durante evento em Brasília, onde está sediada a CNV. Amparado pela Lei Federal 12.528/2011, o grupo foi empossado em 16 de maio pela presidenta Dilma Rousseff com a incumbência de investigar, em dois anos, as violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura (1964-1988).
A sistematização deve postergar algumas atividades da Comissão. Um dos eventos que deve ocorrer apenas em 2013 é o seminário com jornalistas sobre a Operação Condor, que articulou os órgãos da repressão no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Bolívia, e orquestrou sequestros e assassinatos conjuntos. “Os profissionais de imprensa têm muito a informar sobre essa questão”, revela Rosa Cardoso, membro da CNV e responsável por conduzir os trabalhos sobre o convênio secreto das ditaduras sul-americanas. “Vamos envolver também a comunidade acadêmica e a universidade nesse trabalho.”
Outras atividades, porém, permanecem na agenda. Hoje (16), a psicanalista Maria Rita Kehl, membro da CNV que conduz os trabalhos sobre a repressão a camponeses e indígenas, fará uma viagem de três dias à região do Araguaia, no Pará. A comissionada visitará a terra indígena Sororó, foco da guerrilha nos anos 1960 e 1970, e participará de audiência com a Comissão da Verdade Suruí, criada pelo povo Aikewara. A agenda prevê ainda reuniões na cidade de Marabá, em parceria com o Comitê Paraense da Verdade, e o depoimento de três ex-soldados que atuaram na repressão ao movimento armado que lutou contra a ditadura no norte do país.
Em conversa com a RBA, Maria Rita Kehl está otimista quanto às investigações relacionadas aos abusos cometidas pelos agentes do Estado contra as populações indígenas. “Talvez não haja tanta falta de documentação, porque o Conselho Indígena Missionário (Cimi), ligado à igreja, foi muito ativo aí e tem muitos relatórios”, prevê a psicanalista. “Talvez tenham desaparecido menos documentos sobre os indígenas do que em relação aos presos e desaparecidos nas áreas urbanas.”
Maria Rita diz que se surpreendeu com a quantidade de violações contra as tribos brasileiras durante o regime, sobretudo na região amazônica. “As mais graves se deram no governo Ernesto Geisel (1974-1979), durante a política de integração da Amazônia, com a abertura de rodovias e concessão de terras para garimpagem”, lembra. “Isso significou a dizimação de algumas tribos que estavam no caminho e resistiam a perder suas terras.”
A membro da CNV afirma que o balanço que tem a fazer sobre as investigações da subcomissão indígena é “bastante preliminar”, mas cita algum avanço no caso dos Waimiri-Atraori, no Araguaia, “que foram torturados para ajudar a encontrar os guerrilheiros”. Ainda há outros que precisam de mais atenção: “por exemplo, os Arara, na região entre Pará e Maranhão, que foram sendo empurrados cada vez mais pra longe porque o governo cedeu suas terras para uma empresa fruticultora americana”, pontua. “Há muitos casos. Precisamos investigar mais pra falar.”