Com fechamento de campos terrestres, Castello Branco acelera efeito dominó para destruição da Petrobrás

A paralisação das atividades dos campos terrestres de petróleo na Bahia – assim como em outros estados do Nordeste e Norte do Espírito Santo – pode provocar um impacto gigantesco na cadeia de produção de petróleo e consequentemente na economia de diversos municípios e estados. No caso da Bahia, além da demissão de cerca de 4 mil trabalhadores terceirizados e transferência de 900 empregados diretos da estatal para outros estados, a hibernação desses campos afeta uma grande cadeia de negócio e de produção da primeira e da segunda geração da indústria podendo provocar, entre outros danos, o desabastecimento do mercado nacional de parafinas. É como um efeito dominó, que só para quando todas as peças estiverem no chão, destruídas.

Entenda

A indústria do petróleo funciona em cadeia, mobilizando atividades diversas em vários setores da economia. A Bahia é um bom exemplo para entender como esse mercado funciona, pois foi nesse estado, na cidade do Salvador, que em 1939, jorrou o petróleo pela primeira vez no Brasil, na zona rural de Lobato. Em 1941 o óleo negro passou a ser comercializado, a partir da descoberta do poço Candeias 1. Descoberta essa que, em 1953, levou à oficialização do monopólio estatal sobre a atividade petrolífera e a criação da empresa “Petróleo Brasileiro S.A.”, mais conhecida como Petrobras. Até 1965, a Bahia foi o único estado nacional a produzir petróleo.

Foi no recôncavo baiano que a empresa deu inicio à sua exploração e produção do petróleo na chamada RPBA (Região de Produção de Petróleo da Bahia) hoje denominada UO-BA (Unidade Operacional da Bahia). Como é intrínseco à atividade, logo surgiu a necessidade de processar esse óleo e seus derivados. Assim, em 1948, foi criada a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no município de São Francisco do Conde, próximo à cidade de Candeias, onde o promissor campo de petróleo atuava a todo vapor produzindo, no seu auge, cerca de 10 mil barris de petróleo por dia.

Um dos objetivos da construção da RLAM foi diminuir os custos da transferência do petróleo que era enviado para o Rio Grande do Sul para ser processado na refinaria Ypiranga (primeira do Brasil).

Mas a produção do óleo do recôncavo baiano trazia mais um desafio: o gás. Para dar vazão a esse derivado do petróleo foi criada a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados, a FAFEN (antiga Nitrofértil), localizada no Polo Petroquímico de Camaçari, que no ano de 1993 foi incorporada à Petrobrás. A partir da Bahia, a produção de petróleo e gás em campos terrestres avançou Nordeste afora.

Tendo como ponto de partida a produção da UO-BA nasceu uma grande indústria ancorada na produção do petróleo e seus derivados explorados nos campos terrestres da Petrobrás.

Esse foi só o começo de uma grande história que levou à ampliação do Sistema Petrobràs, à criação do Polo Petroquímico de Camaçari – o mais integrado do hemisfério Sul – e à aceleração do desenvolvimento econômico da Bahia.

Valor agregado

Mas a integração da cadeia produtiva de petróleo tem infinitas possibilidades de geração de atividades e de empregos. O petróleo produzido nos campos de terra tem um alto teor de parafínicos na sua composição, que é o petróleo que mais agrega valor na sua cadeia produtiva porque dá inicio a uma cadeia de lubrificantes, tipo de óleo – mais caro por causa das suas especificações – muito utilizado em diversas indústrias a exemplo da locomotiva. Além dos lubrificantes há o mercado de parafinas, produtos que estão presentes em vários tipos de indústrias a exemplo das de cosméticos.

Só há duas refinarias da Petrobrás com capacidade para processar esse tipo de petróleo: a Refinaria de Duque de Caxias (REDUC) e a Refinaria Landulpho Alves (RLAM). Na REDUC, após processamento, 20% desse óleo vira parafínico e 80% lubrificante. Já na RLAM acontece o contrário, 80% do óleo processado se transforma em derivados parafínicos e 20% em lubrificantes.

Dentro da cadeia de petróleo esses são os derivados de maior valor agregado, mas perdem em escala porque sua produção é menor.

Portanto, vimos que a partir do petróleo tem-se uma gama de produtos que podem ser gerados e que alimentam indústrias da segunda geração como cosméticos (creme, batom), alimentação (proteção para frutas e queijos), revestimentos (vernizes). Enfim, uma cadeia que nasce a partir do processamento desse petróleo que é produzido no recôncavo baiano e na região do nordeste.

Na Bahia, esse tipo de petróleo, conhecido como petróleo baiano, é processado na unidade 9 (U-9) na RLAM. Atualmente a U- 9 processa 112000 m3 de petróleo baiano e nordestinos de terra (Sergipe terra e outros) na campanha de lubrificantes e parafinas e mais 96 000m3 de nordestinos na campanha de combustíveis. Além disso na campanha Baiano a U-9 produz carga para as Unidades 30 e 31, cujo principal produto é N-C10/C13, matéria prima para a empresa Deten, localizada no Polo de Camaçari, produzir insumos para as indústrias de detergentes e sabão em pó que com a pandemia teve seu consumo ampliado.

Logística

Há várias fábricas de velas localizadas próximas à RLAM, em diversos municípios no entorno da refinaria, no Centro Industrial de Aratu (CIA) e Polo de Camaçari. Elas consomem diariamente diversas toneladas de parafina processadas pela RLAM a partir do petróleo produzido na UO-BA através de seus vários campos terrestres.

Muitos empresários, como o da fábrica de velas Luz Divina, pertencente ao grupo Guanabara, proveniente de Curitiba, optaram por abrir as suas fábricas na Bahia para eliminar a figura do intermediário, comprando diretamente do produtor, a RLAM.

Mas essa proximidade não surtirá mais efeito. Além disso, a escassez da parafina na Bahia pode levar ao aumento do preço da vela e à crise no setor, gerando o fechamento de fábricas e o desemprego.

O diretor do Sindipetro Bahia, que também é funcionário da RLAM, Attila Barbosa, vê na movimentação da atual gestão da Petrobrás uma articulação orquestrada para quebrar a cadeia de petróleo no Nordeste e assim justificar a venda e fechamento de unidades da estatal. “A Petrobrás transformou em commodities o preço do gás produzido por ela mesma, inviabilizando economicamente as suas próprias fábricas de fertilizantes. Ao passar a cobrar de si mesma o gás a preço internacional a Petrobrás decretou o fechamento das Fafens Bahia, Sergipe e Araucária, saindo do negócio de fertilizantes”.

Com a FAFEN parada, no caso da Bahia, não há mais demanda de gás, o que acaba inviabilizando a produção de gás dos campos terrestres da UO-BA, tornando esses campos também inviáveis financeiramente.

Além de todo esse prejuízo, a paralisação das atividades dos campos terrestres da UO- BA (já há cinco sondas paralisadas no Campo de Dom João) pode afetar não somente a U-9 na RLAM, mas também outras unidades da refinaria como as unidades 11, 12, 13, 16, 18, 23 e 24, que de uma forma ou de outra fazem parte da cadeia de parafínicos e lubrificantes, alerta Attila, ressaltando que isso atingirá a força de trabalho e os resultados financeiros da refinaria. “Há uma integração no Sistema Petrobrás que é base e fortaleza de qualquer empresa petrolífera e ela está sendo quebrada para justificar a entrega e privatização dessa grande empresa, orgulho dos brasileiros”.

[Via Sindipetro Bahia]