Com mais de 300 mil óbitos causados pela negligência do governo Bolsonaro no combate à pandemia da Covid-19, Brasil tem média diária superior a 75 mil contaminados. Sobrecarga dos profissionais de saúde e falta de equipamentos poderiam ser evitados com planejamento e unidades industriais
[Do Brasil de Fato/Paraná]
No Brasil de hoje, por um lado faltam insumos, materiais e até mesmo oxigênio medicinal para o atendimento ao número de internados por covid-19, cada vez maior. Por outro lado, o Brasil aprofundou recentemente o desmonte de estruturas produtivas que poderiam estar a serviço da produção e do combate à covid-19.
Essa foi a contradição central exibida pelo programa Brasil de Fato Paraná Entrevista, na última segunda-feira (22), com a participação de Gerson Castellano, trabalhador da Fafen Fertilizantes, de Araucária, fechada em 2020, que poderia produzir cilindros de oxigênio. Veja a íntegra do programa no final da matéria.
O Ministério Público do Paraná recomenda a reabertura dessa subsidiária da Petrobras para dar conta da demanda de produção.
Participou também do programa a fisioterapeuta Paula Prates, Graduada em Fisioterapia pela Universidade Paulista, com pós-graduação em Fisioterapia cardiorrespiratória Neonatal e Pediatria pela Faculdade de Medicina do ABC. Paula está na linha de frente no combate contra a Covid em três hospitais com atuações distintas (pediatria, hospital público e um hospital de campanha).
O relato da jovem trabalhadora da saúde é fortíssimo.
Revela a sobrecarga a que os profissionais são submetidos neste momento em que a pressão se intensifica cada vez mais.
“Desde o início, vivemos o problema de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e faltaram máscaras, muitos hospitais fechando no começo por contaminação de seus funcionários. Isso foi acontecendo ao longo de 2020 e ainda hoje os hospitais têm essa dificuldade em EPIs. A criação de hospitais de campanha conseguiu isolar algumas pessoas com sintomas. Ainda faltam medicamentos de sedação, como fisioterapeuta preciso de sedação para a ventilação mecânica”, relata.
Oxigênio não precisaria faltar
Levantamento recente de Frente Nacional de Prefeitos (FNP) indica que o oxigênio para pacientes de covid pode acabar em pelo menos 76 municípios de 15 estados. Em São Paulo, 54 cidades aventam esse risco.
No Paraná, foram cedidos 200 cilindros, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa), vindos do Amazonas. Castellano aponta como prefeitura municipal e sobretudo o governo do Paraná têm sido indiferentes ao apelo de reabertura da Fafen. “O governador justifica que o oxigênio não é o problema, apenas a produção de cilindros”, critica o sindicalista.
A unidade de Araucária foi fechada em janeiro de 2020, por decisão da Petrobras no governo Bolsonaro, causando 1000 demissões diretas, além das indiretas. Por parte da sociedade, relata Castellano, há forte pressão pela reabertura da planta industrial, o que passa por articulações na Câmara de Vereadores de Curitiba, na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Ao longo da entrevista, vários trabalhadores enviaram mensagem questionando a Petrobras, que poderia ter posição mais atuante no combate à pandemia. “A prioridade neste momento tem que ser a vida”, enfatiza o sindicalista.
Fake news
Ao lado da ausência de estrutura, profissionais na linha de frente no combate contra a Covid apontam a dificuldade de combater preconceitos e criação de notícias falsas, disseminadas entre a população.
“Buscamos questionar a pessoa, fazer com que ela entenda apenas a informação – as pessoas não querem acreditar, que é uma doença grave, fatal, comprovadamente no mundo, isso impacta sim na lotação dos hospitais e no tratamento que acaba sendo tardio, mascarando um pouco os sintomas e evolui para algo mais grave”, afirma Paula.
Publicado por Gerson Castellano em Segunda-feira, 22 de março de 2021