Flexibilização nas medidas de contenção à pandemia acontecem em paralelo ao aumento de 30% dos casos de covid-19 entre os trabalhadores da refinaria
[Da imprensa do Sindipetro Unificado SP]
Justamente no momento em que o país se aproxima da marca de meio milhão de mortes decorrentes da pandemia de covid-19, a Refinaria de Paulínia (Replan) está diminuindo as medidas de proteção contra o vírus e flexibilizando atividades, mesmo após registrar alta de contágio entre os trabalhadores.
Segundo a gestão da refinaria, no mês de maio houve um aumento de 30% nos casos de trabalhadores que testaram positivo para covid-19, dos quais 67% pertencem ao quadro efetivo da companhia. A empresa, entretanto, não forneceu números de quantos petroleiros foram ou estão contaminados e/ou afastados.
Simultaneamente ao aumento nos casos de trabalhadores contaminados, o Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) foi informado sobre um treinamento de brigada, realizado no início de junho, que expôs 25 pessoas ao vírus por realizarem metade da prática junto a um trabalhador que testou positivo para covid-19.
Antes de descobrir que estava com o vírus ativo no corpo, o petroleiro realizou treinamento de 12 horas junto aos demais participantes, que durou dois dias, sendo diagnosticado por meio do teste rápido apenas no segundo dia do exercício, que mesmo assim não foi suspenso. “Somente o trabalhador contaminado foi afastado, os demais continuaram no treinamento”, relatou um trabalhador que preferiu não se identificar.
O teste RT-PCR, considerado o padrão ouro e com maior confiabilidade para identificar o vírus no corpo humano, foi realizado apenas no petroleiro que positivou para o vírus no teste rápido.
A empresa ainda utilizou um único ônibus para transportar todos os petroleiros até o local das atividades. “E isso aconteceu sem nenhum rastreio de contato com o funcionário que havia positivado para covid-19”, revelou outro trabalhador que também preferiu não ser identificado.
Médico do trabalho e assessor do Sindipetro-SP em questões de saúde, Adilson Campos explica que, principalmente por conta do atraso na compra de vacinas por parte do governo federal, ainda não é o momento apropriado para qualquer tipo de aglomeração. “Qualquer aglutinação de pessoas é um crime contra a saúde pública e, mesmo com a vacinação, não está indicada a aglomeração”, informou.
O recente treinamento de brigada adotado pela refinaria também divergiu do modelo aplicado antes da pandemia, que era realizado durante horário de serviço, por 6 horas diárias e fracionado em quatro dias por ano.
Medidas preventivas deficitárias não são novidades
A diminuição nos cuidados da Petrobrás com os funcionários não é recente. Em maio, a empresa, sem negociar com as entidades sindicais, anunciou aos trabalhadores em teletrabalho que todas as atividades presenciais estão previstas para voltar a partir de outubro, mesmo com os calendários de vacinação prometendo, até meados da data estipulada, a aplicação somente da primeira dose.
Também no último mês, em reunião com a gerência da Replan, foi informado ao Sindipetro-SP que as máscaras fornecidas à maioria dos trabalhadores são as de três camadas, que possui proteção entre 78% e 87%, e não a PFF2, o modelo mais indicado por especialistas por apresentar eficácia de até 98% contra partículas que contenham o vírus.
Para o médico Adilson Campos, todas as medidas de prevenção ao vírus precisam ser seguidas à risca até que se tenha pelo menos 80% da população brasileira vacinada. “É preciso continuar com os protocolos de higiene, distanciamento social e uso de máscara, e a melhor delas é a PFF2 porque tem filtro. Não podemos afrouxar as medidas de segurança agora”, afirmou.
Ainda de acordo com ele, uma das ações mais eficazes na contenção da doença é a informação, o que contrasta com a omissão da Replan. “É importante sabermos todos os números de infectados para que tenhamos maiores condições de conter a pandemia. Falta de transparência só interessa ao governo e ao vírus”, concluiu.
O Sindipetro-SP, que aguarda agendamento de reunião com a gestão da Replan para discutir como serão realizadas as próximas paradas de manutenção, é contra a flexibilização de qualquer medida restritiva para a contenção da pandemia e estuda ações em prol da garantia de saúde para todos os trabalhadores.
Aumento de mortes em toda Petrobrás
Segundo o 61º Boletim de Monitoramento da Covid-19, divulgado nesta terça-feira (15) pelo Ministério de Minas e Energia (MME), em dois meses e dez dias a Petrobrás registrou 45 mortes em decorrência da covid-19, o que representa uma alta de 125% em relação ao boletim divulgado na primeira semana de abril, que registrava 20 mortes.
O número de petroleiros contaminados também aumentou e contabiliza um total de 7.205 trabalhadores infectados desde o início da pandemia. Somente nos seis primeiros meses de 2021, foi registrada uma alta de 78,9% na quantidade de casos nos trabalhadores da estatal – que não detalha os números por unidades de produção e nem contabiliza os funcionários terceirizados.