CUT
Iniciativa que reúne mais de 40 movimentos do campo popular, a Jornada de Lutas da Juventude foi um dos temas debatidos durante a reunião do Coletivo Nacional de Juventude da CUT nesta terça (18), em São Paulo.
Na primeira mesa, representantes da CUT, MST, UNE, PT e Fora do Eixo fizeram uma análise da atual conjuntura. Em comum, a necessidade de ampliar a unidade da esquerda em contraponto a agenda conservadora e neoliberal.
No ano passado a amplitude das ações organizadas a partir da Jornada de Lutas foi fundamental para que alguns avanços fossem consolidados. Destaque para a aprovação do Estatuto da Juventude e a abertura do diálogo com o governo federal, inclusive com a realização de uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff.
Alfredo Santos Jr., secretário nacional de Juventude da CUT, recorda que a articulação coletiva dos movimentos de esquerda também possibilitou uma reação imediata a tentativa da direita em cooptar a agenda das manifestações de junho.E foram justamente essas manifestações, com a presença massiva de jovens, que colocaram em cheque as atuais instituições políticas e evidenciaram a urgência na mudança no sistema político brasileiro.
Conforme assinala a presidenta da UNE (União Nacional dos Estudantes), Virgínia Barros, salta aos olhos a necessidade de alteração do atual sistema político brasileiro. “Precisamos construir espaços de democracia direta. O principal desafio está no financiamento das campanhas e na sub-representação das mulheres, negros, população LGBT e, principalmente da classe trabalhadora no Congresso Nacional”, afirmou.
Pesquisa realizada pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em conjunto com o IPEA (Instituto de Pesquisa Estatística Aplicada) mostra que aproximadamente 95% dos financiamentos de campanha são provenientes de bancos e empresas. “Enfrentar o lobby das grandes corporações no Congresso Nacional é fundamental para modificarmos a correlação de forças”, explica Virgínia. ”Exemplo é o próprio deputado federal Eduardo Cunha (líder do PMDB na Câmara) que se coloca contrário ao marco civil da internet e do Plano Nacional de Educação justamente porque teve sua campanha financiada pelas teles e empresas da educação privada e agora defende os interesses de quem o financiou”, completa.
Nesta conjuntura, o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político surge como uma alternativa e oportunidade para consolidar uma reforma estruturante que permita maior participação popular e limite a intervenção do poder econômico.
“Este é um desafio colocado como prioritário na agenda de todas as organizações e da nossa Jornada de Lutas. Precisamos construir comitês em locais onde não há, fortalecer os já existentes e mobilizar as massas porque é evidente a frustração do povo que não se enxerga na atual estrutura. É preciso radicalizar a democracia e construir espaços efetivos de participação popular”, exaltou Raul Amorim, coordenador do coletivo de juventude do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra).
Combater o patriarcado – apesar de representarem quase 52% do eleitorado brasileiro, o percentual de mulheres no Congresso Nacional não atinge 10%, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Como fonte de análise, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), somente 45 mulheres foram eleitas para a Câmara dos Deputados nas últimas eleições gerais em 2010. A Casa possui 513 parlamentares.
Para Tica Moreno, integrante da Marcha Mundial das Mulheres, a raiz da desigualdade está no estado patriarcal e patrimonialista brasileiro.
No mundo do trabalho a realidade não é diferente. São situações que combinam exploração do capital, machismo e controle do corpo e do trabalho das mulheres. “Neste mês de março, que marca o Dia Internacional das Mulheres, estamos nas ruas do campo e da cidade na luta por um outro mundo, com igualdade de oportunidade e direitos, com participação e protagonismo das mulheres, fim da violência”, ressaltou.
Sobre a questão da violência, Tica avalia positivamente a conquista da Lei Maria da Penha, mas destaca importância de construir novas políticas de enfrentamento, já que a violência segue crescendo e sendo banalizada pela mídia tradicional e redes sociais. “Nosso desafio é politizar o debate sobre a violência, seja ela doméstica, nos espaços públicos, no trabalho”, disse.
Disputa de projeto – é consenso entre as lideranças que 2014 é um ano atípico, com uma agenda movimentada que inclui Copa do Mundo, eleições, 50 anos do golpe civil-militar.
De acordo com Dríade Aguiar, representante do Coletivo Fora do Eixo, as redes sociais terão um papel decisivo, em especial durante as eleições. “São projetos distintos que estarão em disputa. Temos que dominar a narrativa, o conteúdo, a estética das mídias digitais ou teremos dificuldades no debate eleitoral”, pontuou.
Na opinião da presidente da UNE, a passagem dos 50 anos golpe civil-militar (1º de abril de 1964) é uma oportunidade para resgatar a história e denunciar os resquícios deixados pela ditadura e que permanecem até hoje, seja a militarização da polícia, a repressão e a banalização da violência.
Mobilização nacional – a Jornada de Lutas da Juventude traz como diferencial a construção de uma pauta coletiva dos movimentos juvenis. As mobilizações nesta segunda edição ocorrerão entre os dias 26 de março a 9 de abril.
As bandeiras de luta construídas consensualmente entre as entidades que compõem a Jornada estão divididas em cinco eixos principais:
1 – Educação: financiamento público da educação
2 – Trabalho decente
3 – Por avanços na democracia brasileira – reforma política
4 – Direitos sociais e humanos: violência contra a juventude
5 – Democratização dos meios de comunicação
Jefferson Lima, secretário de Juventude do PT, enalteceu o amplo diálogo entre os setores mais progressistas do País que conseguiram unificar a pauta por mais avanços para a juventude. “Portanto, a Jornada tem que estar nas ruas, fazer o movimento de massas e combater qualquer forma de opressão.”
Raul Amorim, do MST, também exaltou a Jornada como exercício de construção da unidade. Para ele, é tarefa dos movimentos da juventude impedir o envelhecimento das organizações, “não apenas no aspecto dos dirigentes, mas também na nossa firmeza na construção de um projeto que contemple as reformas estruturais que tanto almejamos”.
Alfredo compactua da mesma opinião. “Nossa responsabilidade é manter viva e acesa a chama da história. Não estamos falando de guerra geracional, porque a história precisa ser reconhecida, mas ainda há muitos avanços a serem consolidados para a juventude”. Ele terminou sua fala citando uma frase de Paulo Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.”
A reunião do Coletivo Nacional de Juventude prossegue nesta quarta (19) com o debate sobre a 14ª Plenária Estatutária da CUT.