Coadjuvantes ou protagonista?







“(…) com a ponta da língua pude sentir a semente apontando
sob a polpa. Varei-a. O sumo ácido inundou-me a boca. Cuspi
a semente: assim  queria escrever, indo ao âmago do âmago
até atingir a semente resguardada lá no fundo como um feto".

Trecho do conto “Verde Lagarto Amarelo”,  de Lígia Fagundes Teles

A importância do momento político atual deriva do fato de que ele permite extrair alguns ensinamentos gerais da experiência do período de conflitos de hegemonia de classes que se inicia com a eleição de FHC, em 1994, e atinge sua máxima intensidade com a disputa do segundo turno para a Presidência da República, em 2010. Entre 2003 e 2010, que formam os oito anos de Governo do presidente Lula, cometemos erros gravíssimos do ponto de vista da luta de classes pelos quais pagamos uma parcela bem cara nesta eleição de 2010, ao elegermos a presidente Dilma somente no segundo turno.

Tomo como exemplo o fato plantado no dia 29 de outubro pela grande imprensa burguesa nos panfletos oficiais da candidatura demo-tucana de Serra (Folha de SãoPaulo, O Estadão e O Globo). Suas manchetes alardearam a interferência do Papa Bento XVI na eleição brasileira quando conclamou os eleitores a não votarem em candidatos que defendem o aborto, induzindo os bispos a fazerem campanha contra a candidata do PT.

 Relembremos as manchetes da época da Folha de São Paulo: “Papa pede ação de bispos contra aborto”; do Estado de São Paulo: “Papa repele aborto e diz que é dever dos bispos orientarem fiéis em matéria política”; do Globo: “Interferência papal: mobilização de bispos faz Bento XVI defender participação do episcopado em questões políticas”.

Em matérias de página inteira, jornalistas “imparciais” pregaram o Inferno de Dante para Dilma, aquela que é a favor da morte de criancinhas, segundo a mulher do Serra. Também com a mesma “imparcialidade”, os jornalistas pregaram o Paraíso de Dante para Serra, aquele que, segundo depoimentos de ex-alunas de sua mulher, permitiu o aborto de Mônica, quando se encontrava no Chile, junto com FHC, fugindo da ditadura militar brasileira, no mesmo período em que a CIA  preparava o golpe de Estado contra o governo chileno do presidente Salvador Allende.

Felizmente, às vésperas do segundo turno, este novo estelionato eleitoral não influenciou no resultado final.

Um dos mais preciosos ensinamentos de Lênin foi de que devemos estudar muito aprofundadamente as opiniões de nossos inimigos de classe. Se forem verdadeiras as informações veiculadas nas matérias aqui citadas, parte da CNBB carece de uma benção apostólica, neste caso, não de Bento XVI, mas, sim de Dom Hélder Câmara, seu fundador, que fez do Evangelho a sua vida e, a exemplo de Jesus Cristo, se fez pobre. A nossa Igreja brasileira tem que deixar os prazeres da Casa Grande (a elite) e partilhar e viver os sofrimentos da Senzala (os pobres de Jesus Cristo). O governo do presidente Lula pregou e viveu este modelo. O da presidenta Dilma não será diferente.

Espero, sinceramente, que o bispo de Guarulhos, D. Luiz Gonzaga Bergonzine, e tantos outros tenham uma vida longa para que possam  continuar em vida o seu Inferno. “Deixai fora toda esperança, vós que entrais”.

Pátria ou Morte, venceremos.