CNBB condena fake news e defende voto pela democracia

 

O secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, afirmou em entrevista nesta segunda-feira (9) ao portal UOL que “os padres não podem, pela legislação, defender um ou outro candidato, mas podem falar sobre a importância da preservação da democracia”. O líder católico disse esperar que no segundo turno o debate seja mais amadurecido e com “menos notícias falsas [fake news] e mais notícias verdadeiras”.

As declarações de Dom Leonardo reforçam nota da entidade divulgada dois dias antes do primeiro turno da eleição, na qual a CNBB reprova o voto em candidatos que pregam a violência e discriminação de mulheres, afrodescendentes, indígenas, pobres e crianças.

Na entrevista desta segunda, Dom Leonardo condenou o ódio. “Não podemos votar com o coração cheio de ódio, nem pensando que vamos mudar o Brasil de uma hora para outra: não existem salvadores da pátria, mas uma democracia que precisa ser permanentemente construída”, afirmou. “Como cristãos, somos sempre pessoas de esperança, e a pessoa de esperança vai construindo a democracia.”

O secretário-geral da CNBB reforçou que a igreja é a favor da democracia. “O que pedimos é que o eleitor católico observe se os candidatos pregam mais ou menos democracia; se buscam a convivência fraterna com base da educação, no respeito a justiça social, ou não.”

Ao ser perguntado sobre o perfil mais conservador da Câmara dos Deputados e do Senado, Dom Leonardo disse que é preciso aguardar se essa renovação veio “para o bem ou para o mal”. Ele acrescentou que foi cometido um erro: “Falamos muito pouco do Senado e das câmaras e não nos concentramos tanto nos candidatos à Presidência”.

Para Dom Leonardo o eleitor deve, assim como organizações da sociedade civil, atuar como fiscalizadores dos que foram eleitos para as casas legislativas e e cargos executivos. Ele finalizou criticando as notícias falsas que se proliferaram no primeiro turno e disse esperar um segundo turno um “debate mais amadurecido” e “menos notícias falsas e mais notícias verdadeiras”.

Confira nota divulgada no dia 5 de outubro pela CNBB

Eleições 2018

Dom Manoel João Francisco
Bispo de Cornélio Procópio

Estamos às vésperas do primeiro turno das eleições de 2018. Vamos eleger nossos governantes (Presidente da República, Congresso Nacional, governadores dos estados e deputados estaduais).

Sem dúvida, a possibilidade de escolher os próprios governantes é ato de cidadania que precisa ser exercido com muita responsabilidade. Se nem todo bom cidadão é católico, todo católico tem de ser bom cidadão. Neste sentido, é que se deve entender a afirmação do papa Francisco: “Envolver-se com a política é obrigação para um cristão. Nós, cristãos não podemos nos comportar como Pilatos, lavando-nos as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política, porque a política é uma das formas mais elevada da caridade”.

Mais recentemente, em sua viagem à Lituânia, na cidade de Vilnius, diante de mais de 100 mil pessoas que recordavam o 75º aniversário do massacre do povo judeu ocorrido naquela cidade em 23 de setembro de 1943, consequência das sandices do fascismo e do nazismo, o papa fez este apelo: “Façamos memória daqueles tempos e peçamos ao Senhor que nos conceda o dom do discernimento para descobrir a tempo qualquer novo germe daquele comportamento pernicioso, de qualquer aragem que atrofie o coração das gerações que, não o tendo experimentado, poderiam correr atrás daqueles cantos de sereia”.

No Brasil a Igreja católica sempre se preocupou em dar aos seus fiéis orientações práticas sobre o correto exercício da cidadania, principalmente, por oportunidade das eleições. Para este ano de 2018, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ainda no mês de abril lançou uma nota de orientação. O Regional Sul II da CNBB que abrange as 18 dioceses e as duas eparquias dos católicos de rito ucraniano, lançou uma cartilha, entitulada: “Os Cristãos e as Eleições 2018”. Depois disso, vários Bispos também se pronunciaram, esclarecendo seus fiéis, nas respectivas Dioceses. Na última semana, a Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil que representa uma significativa porção da Igreja de Deus em nossa Pátria, também fez um pronunciamento muito esclarecedor.

Com suas orientações a Igreja não pretende se sobrepor à consciência de ninguém, mas apenas oferecer critérios de discernimento.

Neste sentido vou repetir neste espaço alguns desses critérios apresentados pelos documentos acima citados.

Da Nota da CNBB, intitulada: “Eleições 2018 – Compromisso e Esperança”, destaco estes parágrafos:

“Nas eleições não se deve abrir mão de princípios éticos e de dispositivos legais, como o valor e a importância do voto, embora este não esgote o exercício da cidadania; o compromisso de acompanhar os eleitos e participar efetivamente da construção de um país justo, ético e igualitário; a lisura do processo eleitoral, fazendo valer as leis que o regem, particularmente, a Lei 9840/1999 de combate à corrupção eleitoral mediante a compra e a venda de votos e o uso da maquina administrativa, e a Lei 135/2010, conhecida como Lei da Ficha Limpa, que torna ilegível quem tenha sido condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado.”

“Não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se rendem a uma economia que coloca o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua meta, nem os que propõem e defendem reformas que atentam contra a vida dos pobres e sua dignidade. São igualmente reprováveis candidaturas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras vantagens.”

Do Pronunciamento da Conferência dos Religiosos do Brasil, eu chamo a atenção para:

Diante das eleições “é importante vencer a indiferença e o pessimismo. Em uma época de crise como a nossa, é importante cultivar a esperança. Evitemos votar em branco ou nulo. O voto branco ou nulo favorece aqueles que possuem mais dinheiro e já ocupam o espaço da política tradicional. O voto branco ou nulo é um voto de protesto e legítimo, mas, quando nós nos omitimos, corremos o risco de permitir que alguém inadequado ocupe o lugar de alguém íntegro”.

“Além disso, não podemos votar em candidatos que pregam abertamente a violência, como solução para a segurança pública. E não faz parte de nossas escolhas apoiar aqueles que, sem nenhum pudor, discriminam as mulheres, os afrodescendentes, os indígenas, os pobres e as crianças”.

“Procurem conhecer o perfil dos candidatos e candidatas a deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente da República. Cada cargo tem sua importância, para o nosso país. Examinem o que eles já realizaram, que projetos e causas defenderam em defesa da vida, dos pobres, das crianças e minorias. Analisem suas propostas para o futuro”.

É claro que diante desses critérios, precisamos estar conscientes de que “não existem partidos e candidatos ideais que correspondam 100% ao Evangelho. Joio e trigo crescem juntos e se misturam em diferentes proporções na política, como em qualquer outra realidade humana”.

Por isso, na política, é fundamental respeitar as diferenças e não fazer delas motivo para inimizades ou animosidade que desemboquem em violência de qualquer ordem.

[Via Portal Vermelho, com informações do UOL]