Fórum Social Temático debaterá “crise do capitalismo, justiça social e ambiental” e deve reunir 50 mil pessoas.
Escrito por Leonardo Severo
O Fórum Social Temático “Crise do capitalismo, justiça social e ambiental”, que se realiza entre os dias 24 e 29 de janeiro em Porto Alegre contará com uma expressiva representação da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS).
“Frente ao agravamento da crise global do capitalismo, que cada vez mais penaliza a classe trabalhadora com a adoção de medidas de austeridade que geram desemprego, redução de salários, retirada de direitos, aumento da pobreza e mais violência”, as entidades que se articulam na CMS decidiram nesta terça-feira, durante reunião na sede nacional da CUT, aproveitar o FST para reafirmar “eixos comuns de luta”, definidos na última assembleia dos movimentos sociais, realizada em Dakar, Senegal, em janeiro de 2001.
Entre as prioridades encontram-se a luta contra a “política neocolonial” de sangria das nações pelas instituições financeiras internacionais e seu receituário de “ajuste fiscal” e corte de investimentos; contra as transnacionais, pela justiça climática e pela soberania alimentar; ´para banir a violência contra a mulher; e a luta pela paz e contra a guerra, o colonialismo, as ocupações e a militarização de nossos territórios. O combate às chamadas políticas “verdes” do Banco Mundial, que agravam o problema da fome, da desnutrição e do desemprego, é uma das prioridades, já que redundam em mais concentração e desnacionalização de terras e maior dependência dos agricultores dos pacotes químicos vendidos pelas transnacionais. O abuso de agrotóxicos pelo agronegócio brasileiro é um triste exemplo disso.
EM DEFESA DA PALESTINA LIVRE
Condenando a política de apartheid de Israel e o terrorismo de Estado praticado contra os povos árabes, as entidades também decidiram lançar o Fórum Social Palestina Livre, convocado para novembro deste ano. Desde já a CMS está convocando a assembleia dos movimentos sociais do Fórum para o dia 28 de janeiro, sábado, a partir das 14 horas na Usina do Gasômetro.
Para o presidente da CUT, Artur Henrique, a unidade dos movimentos sociais brasileiros tem possibilitado inúmeras conquistas no último período, como a política de valorização do salário mínimo, avanços que demarcam campo sobre o modelo de desenvolvimento, que afirma a produção contra a especulação.
“Nós somos pelo protagonismo do Estado, que deve ser agente indutor do desenvolvimento sustentável, com distribuição de renda e valorização do trabalho. Por isso defendemos menos juros e mais investimentos públicos, e um combate efetivo à especulação financeira”, acrescentou o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício. Conforme alertou, “os países que adotaram outro caminho, cortando investimentos sociais e arrochando salários para atender os especuladores, estão mergulhados na crise e sem perspectiva”. Para João Felício, “o Fórum será uma excelente oportunidade para a disputa no campo das ideiais, dialogando com a sociedade sobre qual o modelo que queremos, que tipo de país e de Humanidade”.
O representante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), Joaquim Pinheiro, acredita que o tema da crise internacional potencializa a aglutinação dos movimentos e aponta para uma boa jornada de lutas. Joaquim relatou sobre uma reunião recente com lideranças de 15 países da Articulação dos Movimentos Sociais pela Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) que têm sublinhado o papel da integração soberana para o enfrentamento e superação da crise. A Via Campesina estará em Porto Alegre com representantes da Argentina, Colômbia, Cuba, Equador, México e Venezuela.
Um dos pontos chaves do debate, avalia o representante do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz), Rubens Diniz, é o combate à visão mercadológica da “economia verde” e “fazer uma análise do motivo central do problema ambiental, que é fruto do modelo de desenvolvimento capitalista, do seu modo de consumo”,
LUTA PELA EFETIVA INDEPENDÊNCIA
Luiza Lafetá, diretora da UNE (União Nacional dos Estudantes, falou sobre a Jornada Continental de Lutas que reunirá 28 países e o significado da mobilização em defesa do ensino público e da ciência e tecnologia nacional para lutar pela verdadeira e efetiva independência. Há 10 anos da comemoração do bicentenário, informou, a UNE prepara uma grande caravana para circular pelas 100 principais cidades brasileiras e estimular uma maior reflexão sobre o tema.
Na avaliação de Alessandra Ceregatti, da Marcha Mundial de Mulheres, a somatória de contribuições expressa o que já vem sendo feito de luta comum e fortalece a mobilização em torno de um projeto para a superação das mazelas impostas por uma ordem internacional excludente.
Para Maria Pimentel, secretária de Relações Internacionais da CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil), o momento é de ampliar o leque de forças para “o combate à crise da dominação, da especulação e do neoliberalismo”. “No Brasil querem importar a crise com os juros altos, que só alimentam o desemprego e comprometem programas sociais”, condenou.
Também participaram da reunião Lúcia Stumpf, da União Brasileira de Mulheres (UBM); Edson França da Unegro (União de Negros pela Igualdade) e Sônia Leite, da Marcha Mundial de Mulheres; e Alexandre Bento, da assessoria internacional da CUT.