O Globo
– A Agência Nacional do Petróleo (ANP) concluiu que a petrolífera americana Chevron cometeu diversas falhas nos seus procedimentos, descumprindo as regras brasileiras de segurança operacional e as de seu próprio manual de gestão de risco, o que provocou o vazamento de petróleo durante a perfuração de um poço no campo de Frade, na Bacia de Campos, em novembro do ano passado. Ao todo, a ANP identificou 25 infrações que resultaram no vazamento de cerca de 3.700 barris de petróleo.
O resultado do relatório de 68 páginas foi divulgado ontem pela diretora-geral da ANP, Magda Chambriard. Ela explicou que nos próximos 30 dias será calculado o valor total das multas que a petrolífera terá que pagar. A multa não passará dos R$ 50 milhões, segundo Magda, porque a Lei de Penalidades prevê um valor máximo de R$ 2 milhões por cada infração.
— Deve ficar em torno de R$ 40 milhões, o que é pouco para uma empresa do tamanho da Chevron e para o porte do acidente. Por isso é que estamos solicitando uma mudança nessa lei — afirmou Magda.
Passados oito meses do primeiro acidente, ainda estão vazando cerca de 20 litros de petróleo por dia, incluindo a região onde ocorreu o segundo derramamento, em março deste ano. A diretora da ANP destacou, contudo, que esse petróleo está sendo coletado pelos equipamentos instalados pela Chevron no fundo do oceano.
Apesar do relatório, a petrolífera poderá em breve ser autorizada pela ANP a voltar a produzir petróleo no campo de Frade. Segundo Magda, a solicitação da companhia será analisada pela diretoria em reunião no próximo dia 27. A executiva voltou a dizer que a empresa não deverá ter problemas em voltar a produzir, uma vez que a suspensão da produção foi solicitada pela própria Chevron após o segundo vazamento.
De 15 de março, quando a produção foi suspensa, até ontem, a perda de receita do consórcio que explora o campo de Frade com a suspensão da produção de 60 mil barris por dia foi de US$ 824,3 milhões. Desse total, US$ 426,5 milhões são perdas da Chevron. A americana é operadora do consórcio com 51%, associada com a Petrobras (30%) e com o consórcio Frade Japão Petróleo (19%).
Falha na interpretação da geologia causou acidente
Em nota, a Chevron contestou o resultado do relatório da ANP, destacando que sempre atuou de forma diligente, usando as melhores práticas da indústria petrolífera e de acordo com a legislação brasileira, seguindo o Plano de Desenvolvimento da produção aprovado pela ANP. A companhia destacou que perfurou 62 poços no campo de Frade e em 19 deles chegou até o mesmo reservatório onde ocorreu o problema do vazamento. O poço, a 120 quilômetros da costa do Rio, começou a ser perfurado no dia 7 de novembro. No dia 10, foi descoberta uma mancha no mar. O abandono do poço começou no dia 17 de novembro e foi concluído no dia 11 de fevereiro de 2012.
— O acidente poderia ter sido evitado caso a Chevron tivesse conduzido suas operações seguindo a regulamentação da ANP, em conformidade com as boas práticas da indústria e com seu próprio manual de procedimentos — afirmou Magda.
No relatório, a ANP afirma que a Chevron não foi capaz de interpretar corretamente a geologia local, o que causou o acidente. Segundo Magda, essa falha na interpretação da geologia levou a uma interpretação incorreta da pressão do reservatório.
A ANP concluiu também no relatório que a companhia não usou os resultados dos testes de resistência da rocha feitos anteriormente em três outros poços. Se isso tivesse sido feito, o projeto utilizado no poço em questão teria se mostrado inviável.
Segundo Magda, foi incorreta também a colocação de uma última sapata (emenda na coluna do poço), a cerca de 600 metros do solo marinho:
—A Chevron não executou uma análise de risco conforme a legislação brasileira, nem usou seus próprios procedimentos de gestão de risco.
Óleo vazou por fissuras no solo marinho
O primeiro vazamento de petróleo no campo de Frade, operado pela Chevron, começou no dia 7 de novembro do ano passado com o início de perfuração de um poço. Nesse dia, ocorreu um “kick”, ou seja uma falha na perfuração. O “kick” não indica necessariamente a ocorrência de um acidente.
No dia seguinte, a Chevron foi comunicada pela Petrobras, sua parceira no campo, da existência de uma mancha de óleo na região. Foram, então, acionados Marinha, Ibama e ANP para conter a mancha. No dia 10 de novembro, foram descobertas, então, várias fissuras no solo marinho, de onde vazava o petróleo. No dia 13, a Chevron conseguiu fechar o poço, interrompendo a fonte do derramamento. Os órgãos envolvidos continuaram a recolher e a dispersar o óleo. A Polícia Federal deu início a um inquérito, que está hoje na Justiça Federal. O óleo que continua vazando até hoje é do produto que ficou nas rochas, e passa pelas fissuras no solo.
Em março, surgiram novas fissuras em outra área do campo de Frade. A ANP vai agora fazer o relatório referente a esse segundo vazamento.