Chevron descumpre ação emergencial

Petroleira não foi capaz de identificar vazamento, e descumpre ação prevista em caso de acidente





O Globo

Por Daniela Nogueira e Liana Melo

A empresa americana Chevron não estava preparada para identificar o vazamento de petróleo iniciado há 11 dias no campo de Frade, na Bacia de Campos, e seu plano de emergência para acidentes não vem sendo cumprido, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO que acompanharam a inspeção da Polícia Federal na plataforma da petrolífera, realizada no último dia 15 de novembro. De acordo com essas fontes, quem identificou a presença de óleo em alto-mar no dia 7 foi a Petrobras, que, além de parceira da Chevron no Campo do Frade, opera outra plataforma numa área contígua, o Campo de Roncador.

A estatal quem verificou que a fonte de vazamento de petróleo não estava na área de Roncador e, imediatamente, avisou a operadora do campo vizinho. Só então a Chevron mobilizou sua equipe e usou um robô para tentar identificar a origem do derrame. O equipamento, no entanto, tinha capacidade limitada de operação e não conseguia fazer uma leitura precisa das coordenadas do local de onde vinha o petróleo.

Por falta de equipamento adequado, a Chevron teve de recorrer à Petrobras, que lhe emprestou dois robôs capazes de colher dados mais precisos. Foi a partir desses dados que a petrolífera americana pôde, finalmente, arregaçar as mangas para tentar conter o vazamento.

É mais vantajoso pagar multa, diz Zee

Após passar a manhã de sexta-feira sobrevoando o Campo do Frade, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, constatou que o vazamento continua e que a Chevron não está recolhendo o óleo que vem poluindo o litoral fluminense. A empresa está usando outra técnica, a de dispersão mecânica, o que significa jogar areia sobre o óleo derramado. Seis navios faziam ontem o trabalho de "jateamento de areia sobre a mancha de óleo", segundo Minc.

— A estratégia de jogar areia sobre o petróleo visa a empurrá-lo para baixo. É mais ou menos assim: quando você tem um defunto boiando e não quer que ele boie, você faz o quê? Essa estratégia, na verdade, empurra o custo ambiental do vazamento para a natureza, pois esse óleo não será removido — criticou o oceanógrafo da Uerj David Zee, nomeado perito pela Polícia Federal para acompanhar a investigação sobre o vazamento na Bacia de Campos.

Zee afirma que a dispersão mecânica não é ideal na contenção de vazamentos de petróleo. O mais adequado, defende, é recolher o óleo. Mesmo constando do Plano de Emergência Individual da Chevron, o recolhimento mecânico do óleo vazado não está sendo adotado.

— Recolher o óleo é caro, é mais fácil pagar uma multa. Tá ficando vantajoso, né? — ironiza Zee.

A ironia expressa pelo oceanógrafo é porque, no Brasil, a multa máxima que pode ser aplicada por vazamento de óleo é de R$ 50 milhões. Valor, na opinião de Zee, insuficiente para inibir desastres ambientais.

Ainda assim, Minc quer impor o máximo de punições à empresa, já que o acidente acendeu o "sinal vermelho para o pré-sal que vem aí":

— A Chevron terá que pagar pelos impactos ao meio ambiente, independentemente de não ter tido intenção em causá-los. Para isso, nós nos baseamos no Princípio da Responsabilidade Objetiva, previsto na Constituição. A empresa terá que investir em projetos de preservação da biodiversidade, como o da Baleia Jubarte.

Onze dias depois do início do vazamento, o governador do Rio, Sérgio Cabral, divulgou um comunicado ontem. Ele se disse preocupado com os danos ambientais que o vazamento pode causar à costa fluminense. E ressaltou a importância dos recursos dos royalties aos estados produtores para se lidar com esse tipo de problema.

— É um momento de tensão para o Rio, para a nossa costa, para a fauna. Esse acidente é a demonstração clara do que significa um dano ambiental num estado produtor de petróleo. Temos que somar esforços para mitigar, reduzir os danos e punir os responsáveis — afirmou o governador.

Na segunda-feira, Minc vai se reunir com o presidente do Ibama, Curt Trennepohl. O secretário está disposto a cobrar reparação da Chevron, já que os danos à biodiversidade são "inquestionáveis", afirmou.