Chega de Temer!

 
Por EMIR SADER. Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

O anonimato de Michel Temer no Maracanã, diante do mundo, simboliza perfeitamente o esvaziamento total da sua capacidade de governar, mesmo interinamente. Pronunciando, de forma balbuciante, duro como um boneco de madeira, ele revelou ao que está reduzida sua presidência.

Para terminar de configurar o cenário de fim de interinidade, as pesquisas revelam que ninguém quer as propostas do seu governo, ninguém o quer na presidência, enquanto as denuncias de corrupção recaem diretamente sobre ele e completam o quadro de um governo todo ele salpicado por denuncias cada vez mais frequentes e contundentes.

O poder está entregue nas mãos do mercado – dos banqueiros, em particular – e dos meios de comunicação. Que gostam de governos fracos, que cedem facilmente a pressões. Mas que precisam ter um mínimo de legitimidade, de apoio popular, de capacidade de governar.

Michel Temer foi o que conseguiram, para configurar o golpe que precisavam. Bem que tentaram que ele encarnasse um projeto de reunificação nacional, de retomada do crescimento econômico, de pacificação politica e social. Mas fracassaram. Ele não foi capaz de nada disso.

Seu governo interino, entre medidas duras de ajuste e aprofundamento da recessão, de compra de apoios para tentar obter os 2/3 de votos no Senado e de repressão, fracassou. Mesmo para quem precisa de um governo frágil, Temer passa dos limites. Ninguém o respeita, todos o desprezam.

Temer promete medidas duras, caso o Senado ratifique o golpe. Mas sua falta de legitimidade como governo e sua falta total de apoio popular, faz temer, mesmo aos que o apoiam, de que seja capaz.

Ainda mais quando as acusações de corrupção se tornam evidentes, comprometendo-o e quase obrigando a PGR a abrir processo contra ele. Um presidente interino, que já é ficha suja, pode tornar-se reú, mesmo antes de eventuais delações do Eduardo Cunha, não teria as mínimas condições de implementar medidas duras que o grande empresariado exige e que Henrique Meirelles está plenamente disposto a colocar em pratica.

Com um processo de deslegitimação geral do sistema político, não se vê como um presidente sem força alguma, com um Congresso assediado pelas acusações de corrupção, um governo composto de corruptos, poderia responder às demandas dos que o colocaram no governo: os banqueiros e a mídia. Por mais que escondem a gravidade da situação do governo, pelo menos até a votação do Senado, ninguém se ilude sobre a fragilidade do governo Temer.

Poderiam tentar a nova aventura de empurra-lo até janeiro, faze-lo renunciar e entregar ao Congresso o poder de eleger um presidente do pais por dois anos mais, valendo-se de um artigo que se presta a todo tipo de manipulação antidemocrática, inclusive essa. Instituiriam assim um parlamentarismo de fato, que não teria maior legitimidade tampouco, vindo de um Congresso cuja imagem diante do pais é a pior possível.

Na realidade as condições políticas estão mais que maduras para a convocação de uma Assembleia Constituinte que não apenas reforme o sistema politico, mas o próprio Estado, que não se demonstrou, de forma alguma – nos seus três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário – ser um instrumento capaz de enfrentar a grave crise que, mais que uma crise de um governo, é uma crise política do Estado brasileiro.

Em qualquer dos casos, Temer esgotou seu tempo. Longe de reunificar o pais, se isolou e não conta com apoio para resgatar o país da dura crise em que se encontra. Constituiu um governo vulnerável e incompetente, desprestigiado. Sua imagem como presidente é a de um personagem medíocre, sem nenhuma credibilidade, vacilante, incompetente politicamente.

Por outro lado, o mundo tem hoje a dimensão real tanto da insignificância de Temer, como da imensa rejeição dos brasileiros por ele. Sua penosa aparição no Maracanã parece um fim de linha. Nem os que o apoiam acreditam que ele possa corresponder ao que exigem dele, nem a imensa maioria que o rejeita, o aguenta mais.

Depois de uma longa, profunda e sofrida crise, se esgota mais um momento. Não é mais possível, o pais não aguente, nem como interino a Temer. Menos ainda recebendo um mandato para governar o pais por dois anos mais.

Chega de Temer! Chega de temer!  

VIA BRASIL 247