Centrais sindicais paraguaias repudiaram a abertura de um processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo, iniciado ontem (21) pelos deputados do país. A medida foi aprovada por 76 votos a um após 12 camponeses e seis policiais terem morrido durante reintegração de posse de terras na província de Curuguaty, a 250 quilômetros de Assunção. A destituição constitucional do chefe de Estado espera votação no Congresso, que ocorrerá hoje.
“Rechaçamos estas manobras, prática comum de parlamentares que dizem representar o povo, mas que respondem sistematicamente a interesses obscuros de empresários e latifundiários reacionários e neoliberais”, diz um comunicado da Central Nacional de Trabalhadores (CNT) “Convocamos a todos os trabalhadores e cidadãos a se dirigirem massivamente à praça em frente ao Congresso Nacional para defender as conquistas democráticas do povo.”
A Central Unitária de Trabalhadores Autêntica (CUT-A) exigiu que os deputados e senadores respeitem a decisão soberana do povo, expressada nas urnas. “Entendemos que o juízo político é absolutamente importuno devido à crispação política que provoca na sociedade”, expressou em comunidado. “O único que provocará será uma mudança de pessoas no Executivo, mantendo-se intacto o modelo político. Ou seja, será uma mudança para não mudar.”
A CUT-A interpreta a crise política aberta pelo pedido de impeachment de Fernando Lugo como um enfrentamento entre políticos que foram incapazes de solucionar os graves problemas sociais que assolam o povo paraguaio, e que trazem como consequência o aumento na população de camponeses sem-terra, desemprego e exclusão social.
“O julgamento político instaurado pelo Congresso contra o presidente é a última de uma série de manobras dos setores oligárquicos tradicionais que há décadas dominam a vida do país e que pretendem agora ferir a democracia que com tanto sacrifício foi conquistada pelo povo paraguaio”, condenou o secretário-geral da Confederação Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA), Víctor Báez Mosqueira.
A CSA avalia que o prazo de 24 horas dado a Fernando Lugo para que apresentasse sua defesa evidencia a atuação arbitrária e antidemocrática dos partidos Colorado e Liberal, que controlam o parlamento paraguaio. “O processo de impeachment instaurado contra o presidente colocará em risco a estabilidade do país e já está ocasionando um ambiente de confrontação que poderá derivar-se em violência”, prevê.
Movimentos acusam ação ‘fascista’ contra Lugo no Paraguai
Na opinião de organizações camponesas paraguaias, a abertura do processo de impeachment contra o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, aprovado ontem (21) pela Câmara dos Deputados, é uma manobra de grupos de direita, contrários aos interesses do povo.
Segundo Adriano Muñoz ,integrante da Organización Campesina del Norte (OCN) e da Via Campesina Internacional, é uma ação fascista mascarada como democracia. “Estão pisando na dignidade de nosso povo. Os deputados e senadores que estão a favor desse julgamento são em sua maioria corruptos, oportunistas e apoiadores dos latifundiários, quando não são eles mesmos os proprietários de terras no país”, afirmou.
Para o dirigente Sixto Cabrera, do Movimiento Campesino Paraguayo, a decisão é um golpe disfarçado de constitucionalidade, porque querem utilizar a legislação para depor o presidente. “Defendemos uma votação feita pelo próprio povo, que é contrário à saída de Lugo. Se algo assim ocorre, teremos um retrocesso para toda a América Latina, visto que hoje o Paraguai é um país que trata bem o seu povo e que está junto com outros países como Bolívia, Venezuela e Equador”, disse.
As organizações camponesas dizem que é urgente lembrar outros golpes ou tentativas, como os que ocorreram na Venezuela, em 2002; em Honduras, em 2009, e no Equador, em 2010. “A nossa reflexão, inclusive, é que a embaixada dos Estados Unidos e a CIA estão envolvidos nesse tipo de ação, por trás dos bastidores. Sabemos a guerra contra a democracia que fazem em nossa América Latina”, afirmou Cabrera.
Muñoz afirma que os movimentos cobram dos organismos internacionais que essa situação seja urgentemente denunciada. “São os títeres do império que querem tomar o poder, mas não vamos aceitar. Estaremos nas ruas e não permitiremos isso”, disse.
“Denunciamos a ação desses senadores e deputados que apoiam a saída de Lugo e foram os mesmos que impediram, por exemplo, a entrada da Venezuela no Mercosul. São interesses econômicos e políticos articulados em rede pela direita nacional e internacional, que tanto quer nossas riquezas como a terra e a água. Daremos a nossa vida, se preciso for, para defender o processo democrático real, em nosso país”, concluiu Cabrera.
Histórico
A medida aprovada ontem (21) na Câmara contra o atual presidente, Fernando Lugo, por parlamentares dos partidos Colorado e Liberal, teve 76 votos favoráveis ao impeachment, contra apenas um. O resultado ocorreu por causa das articulações políticas realizadas pelos legisladores dos partidos tradicionais. Eles trazem presente a ação de reintegração de posse da última sexta-feira (15), em Curuguaty, que teve como consequência a morte de 18 pessoas, entre policiais e camponeses.