Centrais brasileiras se unem em apoio a trabalhadores da Nissan nos EUA

Rede Brasil Atual

CUT, Força Sindical e UGT se reuniram terça-feira (12) em São Paulo para anunciar o apoio aos trabalhadores da unidade da montadora japonesa Nissan no estado de Mississipi, sul dos Estados Unidos. A fábrica fica na cidade de Canton, região metropolitana da capital, Jackson. Com 70% dos trabalhadores afro-americanos, a unidade é denunciada por descumprir convenções internacionais e fazer pressões para que seus empregados não se associem ao sindicato do setor, a United Auto Workers (UAW).

“Vivemos um momento histórico aqui, sabemos da importância do movimento sindical brasileiro”, disse o presidente da UGT, Ricardo Patah. Ele afirmou que é preciso os sindicatos do resto do mundo ficarem atentos à situação. “Essa é uma prática absurda que acontece nos Estados Unidos, é uma política que não aceitamos. Precisamos cortar o mal pela raiz.”

As centrais assinaram uma carta endereçada ao presidente mundial da Nissan, Carlos Ghosn, que é brasileiro, lamentando a “tentativa de intimidação do exercício do Direito Fundamental de organização sindical, que vai desde ameaças de demissão em massa até mesmo ao fechamento da unidade fabril”.

A carta ainda relata uma declaração do vice-presidente de comunicações corporativas da empresa, David Reuter, que teria dito a frase “se você é pró-sindicato, você é anti-Nissan”. A denúncia feita na carta é de que a Nissan, ao adotar práticas antissindicais, descumpre o Pacto Global das Nações Unidas e a Declaração da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho.

Os documentos colocam como princípios fundamentais o apoio à liberdade da associação do trabalho e a liberdade sindical, “com reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva”.

O secretário-geral e de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM-CUT), João Cayres, lembrou da visita feita em janeiro ao estado do Mississipi e disse que, “não por acaso”, será no Japão a reunião do setor automotivo da Federação Sindical Mundial (FSM), prevista para o fim do ano. “A proposta que temos é exatamente fazer um ato, manifestação pública na fábrica da Nissan, para que o sindicato de lá fique por dentro da realidade.”

“O que estamos fazendo é muito importante do ponto de vista de uma ação global, é uma experiência positiva”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna. Ele ressaltou a importância da mobilização dos trabalhadores atualmente. “A luta sindical não é apenas ideológica agora. Com a globalização, a empresa faz o que quiser, abre aqui, fecha acolá.”

Ele ainda afirmou que, do ponto de vista da organização sindical, os Estados Unidos estão atrasados em relação a outros países, como o Brasil. “Apesar de [Barack] Obama ser mais próximo aos sindicatos, a legislação sindical é atrasada. Para ter um sindicato, tem de haver votação na fábrica. O patrão diz não, o operário diz sim, e o patrão faz campanha contra o sindicato.”

O presidente da CUT, Vagner Freitas, ressaltou que é importante “mostrar solidariedade pelo enfrentamento”. 

“Fiquei escandalizado com a situação, eles estão ferindo um direito fundamental”, disse. Ele também afirmou que o conhecimento sobre episódio precisa alcançar maiores espaços na sociedade, para que todos se mobilizem e parem de comprar os produtos da Nissan, em represália.

Rafael Messias Guerra, representante da UAW, explicou que as votações para que os trabalhadores decidam se querem ou não se filiar a sindicatos, são abertas e realizadas dentro das fábricas. “Os representantes das empresas então discursam contra os sindicatos, sobre como os trabalhadores irão perder o seu dinheiro se se filiarem, fazem reuniões pessoais com os trabalhadores e alegam que, se houver sindicalização, todos irão perder seus empregos.”

Ele ainda afirmou que vídeos que discorrem sobre os males e prejuízos que a prática da sindicalização traz a todos são exibidos aos trabalhadores, que também já receberam camisetas com os dizeres “Quem quer se sindicalizar, que vá para Detroit”. Detroit é uma cidade de Michigan, norte do país, e tem sua economia basicamente baseada na indústria automobilística. As sedes mundiais de empresas como a General Motors, a Ford e a Chrysler estão em Detroit.

Lula

Em janeiro, um grupo de parlamentares ligados aos movimentos sociais do Mississippi recebeu integrantes de uma campanha mundial pelo direito à democracia nas relações de trabalho na montadora Nissan. Vagner Freitas e João Cayres estiveram nesse primeiro encontro. A campanha é liderada pela UAW e apoiada por lideranças estudantis, religiosas, políticas e comunitárias.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também esteve nesse encontro e pediu, durante o congresso da UAW, mais engajamento político dos trabalhadores, reforçando o papel do movimento sindical.

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