Candidaturas sindicais buscam espaço na política

 

José Maria Rangel, do PT do Rio de Janeiro, tem se colocado como um dos nomes dispostos a reunir esforços pela defesa dos interesses dos trabalhadores nestas eleições. Sindicalista de longa data, ficou ainda mais conhecido neste ano pela sua atuação durante a greve dos petroleiros, em maio.

Zé Maria começou sua atuação no movimento sindical em 1993, no Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. Em 2014, passou a atuar como coordenador geral da Fundação Única dos Petroleiros (FUP). Nessas eleições, ele é candidato à deputado federal pelo Rio de Janeiro. É a primeira vez que ele tenta um cargo na política institucional. “Tive um pedido do presidente Lula para que virasse candidato”, contou. “Também houve uma decisão da CUT, que orientou o lançamento de candidaturas”.

Os últimos anos não foram fáceis para os trabalhadores brasileiros. Em novembro do ano passado, a reforma trabalhista foi aprovada. A profunda mudança na legislação  alterou mais de cem itens da CLT. Em agosto deste ano, o Supremo deu aval à terceirização irrestrita.

Embora acuadas pela falta de recursos e pela provável reeleição dos representantes de bancadas conservadores, as candidaturas de trabalhadores tentam furar o bloqueio e aumentar a representação no Congresso dos sindicalistas.

A expectativa de uma frente trabalhista unida, afirma Zé Mariam minguou durante a corrida eleitoral, mas ele ainda acredita na presença de representantes dos trabalhadores no Congresso. Segundo o petroleiro, candidaturas como a sua, impulsionadas por centrais sindicais, tem sido criminalizadas, o que ele considera mais um desafio eleitoral.

Apesar de sua campanha não estar voltada apenas ao interesses dos petroleiros – uma das plataformas de Zé Maria é a melhora da segurança pública no Rio de Janeiro -, sua candidatura se calça na reconhecida atuação sindical.

O desmonte da Petrobras, as recentes retiradas de direitos trabalhistas e a pauta do pré-sal no Rio de Janeiro deram impulso à vontade de ocupar uma cadeira na política institucional. Na época da greve dos caminhoneiros, Zé Maria destacou-se pelas firmes críticas ao então presidente da estatal, Pedro Parente, conforme se pode ler nesta entrevista à CartaCapital.

“O que a gente vem assistindo ao longo das eleições é uma redução drástica dos candidatos que tem ligação com os movimentos sociais e sindicais”, explicou. “Hoje em dia, 72% do Congresso é formado por empresário ou fazendeiros. Isso demonstra o quanto a gente vem perdendo espaço.”

No começo do ano, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar traçou um cenário desalentador para o Congresso. A renovação deve ser baixa, segundo o Diap, com prevalência do poder do dinheiro, estimulado pelas regras de financiamento das candidaturas, que favorece quem tem mais recursos, e pela redução do período oficial de campanha.

“É importante que o trabalhador ocupe todos os espaços de poder porque quem move o País somos nós, com nossa força de trabalho. Conquistamos direitos que estão sendo ceifados nestes anos e precisamos lutar contra isso”, afirmou.

Em São Paulo, o Sindicato dos Professores do Estado (APEOESP), lançou a candidatura de sua presidenta, Maria Izabel Azevedo, que concorre ao cargo de deputada estadual, também pelo PT. A Professora Bebel, nome  usado em sua campanha, também integra a Diretoria Executiva Nacional da CUT.

Os professores, principalmente aqueles ligados à Apeoesp, formam nos últimos anos a principal linha de oposição às administrações tucanas em  São Paulo, cujos resultados na área de educação são pífios.

Segundo Bebel, a PEC 95, emenda constitucional que colocou um teto nos gastos públicos por 20 anos, atingindo principalmente a saúde e a educação, é um dos pontos de luta dos candidatos que representam a classe dos professores.

“Com a mobilização dos servidores públicos, na qual a APEOESP, sob minha presidência, teve atuação fundamental, e dos movimentos sociais esse projeto foi em parte esvaziado, retirando-se dele, por exemplo, a proibição de realização de concursos públicos e de reajustes salariais”, afirmou em sua rede social. A campanha tem se concentrado na defesa dos direitos da categoria e nas pautas da educação. Para superar a falta de recursos, Bebel recorreu a uma vaquinha online.

Aliança entre Solidariedade e PSDB não é consenso

No Rio Grande do Sul, Cláudio Janta, presidente do Solidariedade, concorre à reeleição ao cargo de deputado estadual. Janta, que atuou como metalúrgico e é secretário-geral do Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre, acredita que uma união dos candidatos sindicais poderia formar uma bancada dos trabalhadores. O metalúrgico vem centrando sua campanha nas necessidades diárias dos trabalhadores, não só dentro do local de trabalho.

O Solidariedade, dominado por Paulinho da Força, retirou a pré-candidatura de Aldo Rebelo à presidência na convenção do partido em julho. A sigla decidiu apoiar Geraldo Alckmin, do PSDB, agregando-se aos Centrão em apoio ao  tucano.

Para alguns, a aliança enfraqueceu a ideia da formação de uma bancada que articule a defesa dos interesses trabalhistas, pois o PSDB foi um dos partidos que votou majoritariamente a favor da reforma trabalhista na Câmara e no Senado.

Entretanto, a posição da Direção Nacional do Solidariedade não é um consenso nas bases do partido, principalmente entre alguns candidatos que concorrem pela sigla neste ano. Janta inclui-se entre os críticos.

“Fui contrário a essa decisão. A agenda do PSDB é uma agenda ultrapassada, que não representa os anseios dos trabalhadores e da população”, declarou. Não se sabe ainda qual o impacto do fraco desempenho de Alckmin nas candidaturas do Centrão, incluídas aquelas de candidatos do Solidariedade.

Via Carta Capital