Bolsonaro agride presidente da OAB e diz saber como seu pai foi assassinado na ditadura

 

O presidente Jair Bolsonaro atacou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pela atuação na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do ferimento a faca que sofreu no período eleitoral, e disse que, “se a OAB quiser”, pode explicar como “o pai dele desapareceu no período militar”.

“Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB? Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, afirmou Bolsonaro.

O presidente da OAB é filho de Felipe é filho de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido após ter sido preso no Rio de Janeiro por agentes da ditadura, em fevereiro de 1974. Segundo documentos da Comissão da Verdade, que investiga os crimes da ditadura, não há registros de que Fernando tenha participado de luta armada contra o regime, ao contrário do afirmado por Bolsonaro.

Felipe Santa Cruz informou ao colunista de O Globo, Lauro Jardim, que irá interpelar Jair Bolsonaro na Justiça  “para que o presidente diga o que sabe” sobre a morte de seu pai, ocorrida em março de 1974.

Em nota, a OAB repudiu as declarações do presidente da República. “O cargo de mandatário da Chefia do Poder Executivo exige que seja exercido com equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e sociais, bem assim contra o cumprimento das leis”, afirmou a entidade. “A Ordem dos Advogados do Brasil, órgão máximo da advocacia brasileira, vai se manter firme no compromisso supremo de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, e os direitos humanos, bem assim a defesa da advocacia, especialmente, de seus direitos e prerrogativas, violados por autoridades que não conhecem as regras que garantem a existência de advogados e advogadas livres e independentes”. Leia aqui a íntegra

Pelo Twitter, o ex-candidato a presidente Fernando Haddad (PT) repudiou a declaração. “Vejo isso como uma ameaça do presidente da República ao presidente da OAB. Grotesco!”, afirmou. O senador Humberto Costa (PT-PE) foi assertivo: “Bolsonaro é um desequilibrado. Sua devoção a torturadores, sua defesa de assassinatos, seu desrespeito à vida são conhecidos. Mas, como chefe de Estado, o menoscabo à História e aos dramas das vítimas é um crime que precisa ser punido”.

Vários parlamentares já acusam Bolsonaro por ter cometido quebra de decoro e acobertado um delito.”Não podemos mais tapar o sol com a peneira. Bolsonaro tem que ser impedido. Ele é um criminoso que idolatra genocidas, torturadores e ditadores. Ele e seu clã miliciano conduzem o país para um estado policial autoritário que corroe a democracia e as instituições da república”, postou o deputado federal Paulo Pimenta (PT/RS), em sua conta no Twitter.

“Bolsonaro afirmou que sabe como desapareceu na ditadura o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, e que pode revelar o caso. Ele está acobertando um crime que é sabedor e se torna cúmplice do assassinato de Fernando Santa Cruz. Quebra o decoro do cargo e deve ser impedido”, postou o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) no Twitter.

[Com informações do Brasil 247, OAB, Globo e Twitter]