“Estou muito apreensiva, muito preocupada porque eu e minha mãe estamos recebendo ameaças, perseguições via Facebook e WhatsApp”, afirma Janaína Teles, filha de Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, que foi brutalmente torturada durante a ditadura civil-militar (1964-1985). As ameaças começaram após a ativista aparecer em um vídeo denunciando a barbárie daquele período, defendida pelo candidato da extrema-direita no segundo turno das eleições 2018, Jair Bolsonaro (PSL).
Para atacar Amelinha, os apoiadores de Bolsonaro estão utilizando, via redes sociais, uma das principais estratégias de campanha nesta eleição: a mentira. Acusam-na de ter cometido crimes que não existiram, sequer nos próprios registros da época. O candidato e a parte mais radical de seus apoiadores idolatram abertamente torturadores como o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido como tal pela Justiça. em seu voto no impeachment de Dilma Rousseff, o então deputado Bolsonaro homenageou o torturador.
“Muitas fake news. É muito preocupante para a vida política e social, para a democracia esse tipo de mensagem, sendo que apenas reiteramos as denúncias que fazemos desde 1989″, continua a filha de Amelinha. Janaína, aos cinco anos de idade, junto com o irmão, Edson Teles, com quatro, assistiram aos pais serem torturados por oficiais do Exército no Doi-Codi, em São Paulo.
A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos criou um abaixo-assinado em defesa da memória e da integridade daqueles que já sofreram nos tempos sombrios da ditadura. A FUP é uma das entidades que assina o documento. “Nós, familiares de mortos e desaparecidos políticos, defensores de direitos humanos, organizações e entidades abaixo-assinadas, nos solidarizamos com Amelinha Teles, ex-presa política e histórica defensora de direitos humanos e sua filha Janaína Teles, historiadora e defensora de direitos humanos. Ambas vêm sendo alvo de uma onda de ataques nas redes sociais”, afirmam.
O Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim) também se manifestou em repúdio aos ataques. “Queremos, mais uma vez, como já fizemos por ocasião do 24º Seminário Internacional de Ciências Criminais, agradecer à Amelinha Teles por sua incansável luta por memória, verdade e justiça em relação aos crimes contra a humanidade cometidos por agentes do Estado”, afirmam em nota.
“O IBCCRIM solidariza-se desde já, junto com familiares de mortos e desaparecidos políticos, defensores de direitos humanos e organizações parceiras, com esta ex-presa política e histórica defensora de direitos humanos e com sua filha Janaína Teles, historiadora e defensora de direitos humanos. Ambas vêm sendo alvo de uma onda de ataques nas redes sociais. As agressões começaram após Amelinha gravar um depoimento ao lado de Janaína, sobre as torturas às quais foram submetidas durante a ditadura militar. Amelinha relata o momento em que seus dois filhos foram levados ao centro de torturas, o DOI-Codi, em São Paulo, quando ambos não a reconheceram por conta das condições que estava após sessões de tortura”, diz o texto.
O instituto cita uma das mentiras que circulam nas redes contra a ativista histórica. “Entre tantos conteúdos, circula em mídias sociais uma foto de Amelinha com texto contendo acusações mentirosas sobre violências que ela teria cometido quando militava contra a ditadura. No processo que respondeu por conta de sua atuação política no período, contudo, não há nenhuma referência aos supostos crimes. De outra parte, em 2008, em uma decisão inédita, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi declarado torturador pela primeira vez. A decisão foi referendada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ)”, conclui.
Já os familiares clamam para que a sociedade não apoie a tortura e a barbárie. “Ditadura nunca mais! Tortura nunca mais!”, gritam neste momento em que “há um presidenciável que defende a tortura e tem como ídolo um torturador da ditadura declarado, é fundamental reforçar nosso repúdio à ditadura militar (1964-1985), que colocou o país sob um regime autoritário, perseguiu, estuprou, sequestrou, torturou, assassinou e ocultou os corpos de opositores políticos”.
Assista ao vídeo da Comissão em solidariedade a Amelinha e sua família:
[Via Rede Brasil Atual]