Carta Capital
O presidente da Bolívia, Evo Morales, completou a nacionalização do setor elétrico boliviano. Depois de expropriar quatro geradoras de energia elétrica em 2010, Evo confirmou nesta terça-feira a tomada das ações da Red Eléctrica Internacional (REI) na Transportadora de Electricidad (TDE), responsável por 74% das linhas de transmissão de energia da Bolívia. A REI é subsidiária da espanhola Red Eléctrica de España (REE), a operadora do sistema elétrico da Espanha. A REE é a segunda empresa espanhola atingida por nacionalizações na América do Sul em 15 dias – no começo do mês, o governo da Argentina assumiu o controle da petrolífera YPF.
A nacionalização da TDE seguiu o roteiro de outras nacionalizações que Evo promoveu durante seu mandato. Como fez em 2006 com empresas de hidrocarbonetos (incluindo a Petrobras), em 2009 com a italiana de telefonia ETI e em 2010 com quatro geradoras de energia elétrica, Evo escolheu o 1º de maio para fazer o anúncio. Foi à televisão e disse que agia “em nome do povo boliviano”. “[A nacionalização] é uma justa homenagem aos trabalhadores que lutaram pela recuperação dos recursos naturais e dos serviços básicos”, afirmou Evo de acordo com o jornal Los Tiempos. Momentos depois, emissoras de tevê bolivianas mostraram militares e policiais entrando nos escritórios da empresa espanhola na cidade de Cochabamba. Segundo Evo, as ações da REI na transportadora passarão para a boliviana Empresa Nacional de Electricidad (Ende), que deverá iniciar negociações com a REE sobre a indenização a ser paga. Cerca de 99,94% do capital da TDE estavam nas mãos da REI e 0,06% pertencia aos trabalhadores da empresa.
Oficialmente, a justificativa para a nacionalização é a falta de investimentos da empresa espanhola. Segundo o governo boliviano, a TDE recebeu, desde 1997, quando foi privatizada, apenas 81 milhões de dólares de investimento. A ministra das Comunicações da Bolívia, Amanda Davila, confirmou esta versão ao site da Bloomberg. “Energia é um setor estratégico que deve estar sujeito ao controle do governo”, disse Davila. “Os investimentos da Red Elétrica era excessivamente baixos”, disse. Vale notar, entretanto, que a nacionalização se dá em um momento no qual o governo Evo Morales enfrenta protestos de sindicatos e poderia estar tentando fazer um chamado ao nacionalismo. Os trabalhadores exigem um incremento salarial superior aos 8% oferecidos pelo governo e, nesta terça-feira, realizaram manifestações em diversas cidades pedindo melhores condições. Morales afirmou, em discurso também nesta terça, que um aumento maior era impossível pois “é preciso cuidar da economia do país”.
A Bolívia, um país rico em recursos naturais e com uma população de apenas 10 milhões de pessoas, sofre por ter uma economia fraca e grande desigualdade social. Um levantamento publicado pelo jornal boliviano El Diario afirma que apenas 17,1% dos empregados bolivianos possuem uma ocupação “plena e adequada”. Outros 24% têm um trabalho “moderadamente precário” e 58% trabalham em funções “extremamente informais”.