Barrar o golpe e fazer a Petrobrás voltar a ser a indutora do desenvolvimento nacional

O desemprego em massa e o empobrecimento dos municípios do interior dos estados brasileiros são reflexos diretos dos cortes de investimentos da Petrobrás que a gestão privatista de Pedro Parente vem impondo à companhia. As regiões Nordeste e Norte do país são as mais afetadas, daí a importância da mesa “O Petróleo como fonte indutora do desenvolvimento regional” ter denunciado as mazelas dessa política durante o Fórum Social Mundial, que reúne em Salvador cerca de 50 mil pessoas, entre lideranças políticas e ativistas sociais de 120 países. A mesa foi organizada pelo Sindipetro BA, com apoio e participação da FUP, e reuniu nesta quarta-feira, 14, à noite trabalhadores e estudantes no Auditório Margarida Alves, na tenda da CUT.

A pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), Caroline Vilain, teceu um panorama cronológico sobre a importância do setor de óleo e gás para os municípios do norte do Espírito Santo e estados do nordeste e norte do país. A Petrobrás teve um papel preponderante para o desenvolvimento dessas regiões, principalmente ao longo dos anos 2000, com investimentos que foram fundamentais para o crescimento do PIB e dos indicadores sociais de municípios historicamente castigados pela pobreza. “Hoje assistimos a um movimento inverso, com a Petrobrás abandonando seu papel desenvolvimentista, cortando investimentos e vendendo ativos cruciais para as economias dos municípios do nordeste”, destacou a pesquisadora.

O coordenador da FUP, José Maria Rangel, leu um trecho do histórico discurso que o presidente João Goulart fez há 54 anos, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, pouco antes de sofrer o golpe miliar: “A democracia que eles desejam impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos grupos a que eles servem ou representam. A democracia que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais”, disse na época o presidente, que foi taxado de instaurar no país uma “república de sindicalistas”.

José Maria ressaltou a similaridade entre os fatos do passado e do presente. “Não podemos, em hipótese alguma, esquecer o objetivo do impeachment e que esse golpe de hoje, assim como no passado, tem a digital da mídia, que, historicamente, sempre defendeu os interesses das elites brasileiras”, declarou, chamando a atenção para os ataques que os golpistas fizeram contra a Petrobrás, que deixou de ser a indutora do desenvolvimento do país e não tem mais qualquer responsabilidade social. “A saída que nós temos é pela esquerda, é um levante do povo brasileiro, é não permitir que Lula seja preso e retomar um projeto de nação onde quem esteja no centro do poder volte a ser o povo brasileiro”, afirmou.

O petroleiro Alexandre Castilho, diretor do Sindipetro Unificado de SP, lembrou que a Petrobras está sendo gerida como se fosse uma empresa privada, “a serviço de um plano de governo que não foi referendado pelo povo nas eleições”. Ele fez um paralelo entre o desmonte dos ativos da empresa no nordeste e o sucateamento do refino, reiterando que fazem parte da mesma estratégia de privatização que Pedro Parente vem colocando em prática. “Enquanto a atual gestão reduz o refino, as importadoras de derivados aumentam seus lucros”, denuncia, ressaltando que esse desmonte está levando o país a um neocolonialismo “Estamos exportando óleo cru e importando derivados”, lamentou.

O diretor do Sindipetro-BA, Radiovaldo Costa, denunciou os impactos do desmonte da Petrobrás na Bahia, onde a empresa é responsável por um quarto da arrecadação de ICMS do estado. “Há seis anos, tínhamos 45 sondas de produção aqui no nosso estado e 14 sondas de perfuração, o que representou a geração de 4 mil empregos, somente nesse segmento. Hoje, com o entreguismo de Parente, que busca exatamente o inverso, nós temos um total de 19 sondas e perdemos mais da metade dos postos de trabalho”, revelou.

Ele fez um chamado aos participantes do Fórum: “Precisamos discutir profundamente o ataque à Petrobras, que foi um dos principais eixos do golpe, e construir frentes de resistência ao desmonte da empresa, que está nos levando a perder o controle sobre uma fonte estratégica de energia”. Acesse aqui a íntegra do debate

[FUP]