Ato no heliporto do Farol marca 12 anos da P-36

 

Sindipetro-NF

O Sindipetro-NF realiza nesta sexta-feira, 15, no Heliporto do Farol de São Thomé, em Campos, ato público para marcar a passagem dos 12 anos da tragédia da P-36. A atividade sindical também marca o encerramento do Seminário P-36: Uma história de luta pela vida, aberto na noite da terça, 12, no teatro do sindicato, em Macaé. Uma palestra, com lançamento de livro, e quatro painéis temáticos, transmitidos na íntegra, ao vivo, pela Rádio NF, produziram uma visão aprofundada sobre os temas ligados à segurança no setor petróleo. Desde 1998, morreram na Bacia de Campos 122 petroleiros, vítimas de acidentes do trabalho.

Conduzida pelo diretor de Formação do NF, Francisco Tojeiro, a primeira parte da noite de abertura foi uma atividade política que contou a participação do representante da CTB, Norton de Almeida, do representante da FUP, Francisco José de Oliveira e do coordenador geral do Sindipetro-NF, José Maria Rangel.

Face oculta

Na segunda parte do evento, Marcelo Figueiredo fez uma palestra sobre seu livro “A face oculta do Ouro Negro”, que foi lançado hoje no Sindipetro-NF. Falou sobre a precarização das relações e condições de trabalho, como elemento central na lógica insana da produção e lucro acima de tudo, e, por conseguinte, a causadora das mutilações, doenças e mortes que acometem os trabalhadores. Em seu livro narra casos de acidentes ampliados ocorridos no mundo do petróleo e acidentes fatais ocorridos na indústria, a partir da exploração humana e do desenvolvimento tecnológico.

“A industria do petróleo é marcada pela ganância e pelo poder e ela nos seduz porque se confunde com a história do capitalismo. No caso das plataformas e refinarias, sistemas complexos, o risco para quem trabalha nunca será eliminado”, disse Marcelo, que completou: “cada petroleiro carrega um pouco de óleo em sua alma.”

O dia 15 de março é uma data marcada pelo luto e tristeza na categoria petroleira. Há doze anos, onze trabalhadores morreram, vítimas de uma explosão em uma das colunas da plataforma P-36. O episódio da P-36 é uma mancha na história da Petrobrás, e encontra suas raízes na forma exploratória que o capital adota na condução dos processos produtivos.

Painel 1 – NRs

Os diretores do NF Norton de Almeida e Luiz Carlos Mendonça foram os palestrantes do primeiro painel, da manhã do dia 13. Northon iniciou sua palestra fazendo um histórico do surgimento das Normas Regulamentadoras pela Lei 3214 de 1978. Essa primeira lei criou 28 normas, hoje temos um total de 35, sendo que duas delas estão em fase de finalização, a 36 e a 37, e o Anexo 2 da NR 30 será transformado em uma norma voltada só para plataformas.

Luiz Carlos Mendonça comentou a aplicabilidade das NRs-09 (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA) e 15 (atividades e operações insalubres).  Para ele, antes da empresa distribuir EPIs para seus trabalhadores ela deve instalar equipamentos de proteção coletiva e sugere aos trabalhadores que peçam o seu PPRA que agora está on line na Petrobrás.

Painel 2 – Distorções na CAT

O médico do trabalho Ricardo Garcia Duarte, que assessora o Departamento de Saúde do Sindipetro-NF, apresentou contradições que apontam para a existência de subnotificação. Ele participou do segundo painel, junto aos diretores Norton Almeida e Francisco Tojeiro.

Duarte mostrou que há entre um ano e outro um padrão de redução no número de CATs, sugerindo não a diminuição real no número de casos, mas uma orientação geral no sentido de que os registros sejam evitados. Foram 249 CATs recebidas pelo Sindipetro-NF somente da Petrobrás em 2012, contra 372 CATs em 2011. E ao detalhar os números, ele cita alguns exemplos de incongruência. Em 2011, foram preenchidos como “sem afastamento” 60 casos de fraturas.  Em 2012, foram 65 também “sem afastamento”.

Painel 3 – Spie e Cipa

Potencializar a utilização de Cipas, certificações do Spie (Serviço Próprio de Inspeção de Equipamentos) e de Comissões de Investigação de Acidentes, em favor da segurança dos trabalhadores, foi o tema abordado por expositores do terceiro painel. Em mesa moderada pelo diretor do Sindipetro-NF, Wilson Reis, fizeram apresentações os também sindica-listas Raimundo Teles, Armando Freitas e Cairo Garcia.
Os expositores detalharam a formação históricas de normas de segurança no Brasil e destacaram que a legislação e os fóruns previstos legalmente podem ser instrumentos valiosos para promover a segurança. “Há um abandono completo de aspectos técnicos. Estamos perdendo o bom senso na aplicação da técnica”, disse Teles.

Painel 4 – Precarização

A precarização do trabalho na área de operação e manutenção na Bacia de Campos foi tema do último painel do Seminário. Participaram da mesa os diretores do NF, Francisco Tojeiro e José Maria Rangel, com moderação de Thiago Magnus. Segundo Tojeiro, a Petrobrás vem tendo um comportamento dramático de enxugamento do efetivo, que leva a sobrecarga de trabalho e aos adoecimentos dos trabalhadores. Tudo isso aliado ao fato dos gerentes não assumirem responsabilidades e da a falta de autonomia que os trabalhadores tem para desenvolver qualquer trabalho a bordo. “A realidade do setor petróleo no mundo é de ser uma fábrica de matar pessoas. A diretoria do Sindipetro-NF e o movimento sindical tenta minimizar esses efeitos. Nossa ação, por menor que seja, já evitou muitas mortes”, disse José Maria Rangel.