Trabalhadores de diversas categorias e movimentos sociais manifestaram apoio à greve dos petroleiros durante ato realizado nesta sexta-feira (7) no Acampamento Resistência, em frente à sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro. A paralisação contra as demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR) completa uma semana e atinge 70 unidades da estatal em 13 estados. Os participantes também prestaram solidariedade aos petroleiros que desde a última sexta-feira (31) ocupam uma sala no edifício sede para forçar a direção da empresa a negociar.
O ato dos petroleiros contaria com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não compareceu devido à falta de segurança no local, segundo os organizadores. Os participantes protestaram não apenas pelas mais de 900 demissões na Fafen-PR, marcadas para ocorrer a fevereiro. Eles também denunciaram o desmantelamento da estatal, que anunciou a venda de oito refinarias, além da venda de subsidiárias, como a BR Distribuidora.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) criticou o presidente Jair Bolsonaro pelo seu “total alinhamento e submissão” aos Estados Unidos. Jandira disse que o projeto de destruição da Petrobras atende a interesses externos, prejudicando o desenvolvimento nacional. “Há um planejamento que certamente não saiu da cabeça do Bolsonaro ou dos seus assessores. Esse planejamento vem de fora para dentro”, afirmou.
Pressão no Congresso
Devido à pressão dos trabalhadores e dos deputados da oposição, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se comprometeu a interceder junto ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, por uma negociação, informou Jandira. Ela também anunciou que a Câmara vai cobrar explicações da direção da Petrobras, depois de ela ter sido impedida de entrar na sede da estatal na última segunda-feira (3), uma violação às suas prerrogativas como parlamentar. “Cobramos publicamente que o presidente Maia ajude na negociação e faça cumprir o acordo coletivo de trabalho (ACT)”, disse a parlamentar.
Segundo Tezeu Bezerra, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), que integra a Federação Única dos Petroleiros (FUP-CUT), apesar da ofensiva jurídica promovida pelo governo, a greve vai continuar. “Na hora em que os petroleiros entram em greve, não tem governo que não trema nas bases. Por isso estão em conluio com a Justiça para tentar barrar a nossa paralisação. Essa luta é de todo mundo, de cada brasileiro que luta por um país melhor e mais democrático.”
O petroleiro Marcelo Bernardo, que trabalha na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), desafiou o governo Bolsonaro a reduzir o preço dos combustíveis, mas não a partir da guerra tributária estimulada pelo atual governo em relação aos estados. Ele criticou a política de preços atual, que acompanha as variações internacionais. Segundo ele, a elevação nos preços dos combustíveis, bem como a privatização das refinarias, serve para garantir a importação de produtos refinados que poderiam ser produzidos no Brasil.
“Crime de lesa-pátria”
“Nós somos capazes de produzir combustíveis para todo o país, é só colocar as refinarias para produzir em carga máxima. A desindustrialização e desnacionalização da economia afetam em cheio a Petrobras. Fechar uma fabrica de fertilizantes num país que exporta produtos agrícolas é um crime de lesa-pátria”, criticou Bernardo. Ele também destacou o fato inédito de a greve atual envolver os petroleiros das plataformas do pré-sal.
A petroleira Náustria de Albuquerque, da BR Distribuidora, disse que ocorreram mais de 1.200 demissões desde que a subsidiária foi privatizada no final do ano passado. Ela instou aos funcionários do setor administrativo da Petrobras a aderirem a paralisação. “É preciso a solidariedade dos trabalhadores dos setores administrativos. Quatro refinarias estão em fase vinculante (etapa preliminar do processo de privatização). Se forem privatizadas, as demissões vão chegar para a galera do administrativo também”, ressaltou.
O deputado estadual Waldeck Carneiro (PT-RJ) destacou que o estado do Rio de Janeiro é o epicentro da resistência contra a “agenda entreguista” do governo Bolsonaro, porque é na capital que estão localizadas as sedes de diversas empresas estatais. Ele também relacionou o projeto de desmonte do serviço público com a crise de desabastecimento enfrentada pela população da cidade. “A crise da Cedae (a companhia de água e esgoto) é também um projeto para viabilizar a sua privatização.”
Solidariedade
Segundo o vice-presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, as categorias do serviço público estão entrando em greve, como foi o caso do Dataprev e também na Casa da Moeda, porque a situação econômica do país está “uma desgraça”. “Estão em greve por conta do preço do óleo diesel, da gasolina, do botijão de gás. Por causa do preço do quilo de carne. O país não tem rumo, nem política econômica. É um Brasil que voltou para trás”.
A vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Élida Elena, destacou os laços históricos da entidade com a Petrobras, desde a campanha “O petróleo é Nosso”, na década de 1950, que antecedeu a criação da estatal. “A Petrobras é fruto da luta dos trabalhadores e dos estudantes. O petróleo tem que estar a serviço da criação de emprego e do desenvolvimento nacional, e não dos interesses dos estrangeiros”. Os participantes do ato entoavam o grito “Não à privatização. A Petrobras é nossa, orgulho da nação”.
Além de comitivas de petroleiros de diversos estados do país, também participaram da manifestação os servidores da Dataprev, da Casa da Moeda, dos Correios, professores e profissionais da saúde do Rio, metalúrgicos da indústria naval, bancários. O ato também contou com apoio da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Levante Popular da Juventude, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), dentre outros.
[Texto: Rede Brasil Atual | Fotos: Luciana Fonseca (Sindipetro-NF) e Marcelo Aguillar (MAB)]