Nesta quarta-feira (12), petroleiros e metalúrgicos do ABC ofereceram gasolina por R$ 3,50 o litro para motoristas de aplicativo e sócios dos sindicatos
Por Guilherme Weimann e Marcelo Aguilar
Fotos: Marcelo Aguilar
Nesta quarta-feira (12), o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC decidiu comemorar de um jeito diferente seu aniversário de 62 anos. Com um histórico de luta que não se restringe à categoria, os metalúrgicos se uniram ao Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) em uma atividade de conscientização sobre os prejuízos sociais e econômicos causados pela atual política de preços imposta pelo governo federal à Petrobrás.
Para isso, petroleiros e metalúrgicos disponibilizaram 15 mil litros de gasolina a preço justo a motoristas de aplicativos e sócios de ambos os sindicatos na cidade de São Bernardo (SP). Com um limite de 20 litros para carros e 10 litros para motos, cada litro do combustível foi vendido por R$ 3,50. Atualmente, de acordo com levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do litro de gasolina vendido no Brasil é de R$ 5,51.
Combustível a preço justo
A atividade faz parte da campanha “Combustível a preço justo”, criada pela Federação Única dos Petroleiros com o objetivo de denunciar a atual política de preços da Petrobrás, que se baseia no preço de paridade de importação (PPI).
Implementado em outubro de 2016 durante o governo de Michel Temer (MDB), o PPI vincula os preços praticados nas refinarias da estatal às variações do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional, além de embutir os custos de importação dos combustíveis.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, essa política privilegia acionistas privados em detrimento dos consumidores. “A gente trabalha o mês inteiro e recebe em reais, mas o preço da gasolina é calculado em dólar. O governo tem obrigado a Petrobrás a privilegiar quem recebe dividendos, ou seja, quem recebe o lucro das suas ações, e não o povo brasileiro”, opina.
Atualmente, grande parte dos dividendos da Petrobrás não fica nas mãos do Estado brasileiro, apesar de ser o controlador da empresa. Em 2019, 39% dos dividendos da estatal foram repassados a acionistas privados estrangeiros, 21% a acionistas privados brasileiros e apenas 40% à União.
De acordo com o diretor do Sindipetro-SP, Auzélio Alves, a atual política de preços está ligada com as privatizações em curso na petroleira, que resultarão em reajustes ainda maiores dos combustíveis.
“Essa política de preços é aplicada justamente para romper com a lógica que vigorou na Petrobrás desde a sua criação, em 1953. Se vendermos 8 refinarias das 13 que possuímos, como é o desejo desse governo, vamos criar oligopólios regionais privados. Os trabalhadores precisam tomar consciência disso, ou seja, de que privatizar ocasionará aumentos dos combustíveis”, alerta.
Impactos no bolso
O PPI tem gerado reajustes constantes nos preços dos combustíveis. Somente no acumulado deste ano, foi responsável pela elevação de 41,44% da gasolina vendida nas refinarias, 33,9% do diesel e 17,9% do gás de cozinha.
Trabalhador de aplicativo há 4 anos, Elisandro Farias, de 39 anos, tem sentido os efeitos dessas elevações no seu dia a dia. “Está cada vez mais difícil trabalhar, porque o combustível aumentou muito. Automaticamente, eu tenho que limitar as viagens, porque dependendo de onde for acabo gastando muito combustível. O valor que o aplicativo repassa é muito baixo. Essa política de preços atual tem impactado muito no nosso trabalho”, relata.
Para o metalúrgico aposentado da Volkswagen, Alexandre Silva, as consequências dos aumentos dos combustíveis não se restringem apenas ao setor de transporte. “O petróleo é extraído aqui no Brasil e querem cobrar o preço do dólar? A Petrobrás recebe em real, mas o governo quer vender combustível em dólar? É terrível o que está acontecendo. Isso se reflete em tudo, cada vez mais pessoas estão morando na rua, passando fome, a pobreza está cada vez maior. Fazer uma despesa hoje é cada vez mais complicado. Infelizmente, estamos pagando o preço da última eleição”, avalia.