Por Leonardo Attuch, jornalista e editor-responsável pelo Brasil 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste
Nos últimos três anos, a Petrobras, maior empresa brasileira, foi alvo de um processo sistemático de desmoralização. Como resultado, a companhia começou a ser esquartejada, com vários de seus ativos sendo vendidos sem nenhuma transparência, e o pré-sal, maior descoberta energética da última década, passou a ser entregue às grandes petroleiras internacionais. A legitimação desse desmonte se fez a partir de um discurso traiçoeiro: já que havia corrupção na estatal, como há em qualquer empresa de petróleo, mesmo as privadas, melhor que tudo seja entregue a empresas como a Shell.
O custo do entreguismo será sentido pelas próximas gerações, mas os primeiros impactos começam a ser medidos. Segundo um estudo do Unafisco, que reúne os auditores federais, o perdão tributário às petroleiras já soma R$ 54 bilhões. Se não bastasse, um estudo da Câmara aponta isenções de R$ 1 trilhão durante o tempo de exploração – e isso sem falar no impacto na indústria nacional de óleo e gás, paralisada após o fim da política de conteúdo local.
Agora, esse mesmo processo de desmoralização começa a atingir as universidades públicas. O episódio mais recente foi a operação “Esperança Equilibrista”, que usurpou um trecho de um hino contra a ditadura, desrespeitando os compositores João Bosco e Aldir Blanc, assim como a própria democracia, para batizar uma ação policial que humilhou professores e invadiu a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De um ano para cá, quatro instituições já foram alvo de investidas desse tipo – além da UFMG, as federais do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina. Neste último caso, com um desfecho trágico, que foi o suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier, preso e acusado sem provas.
Por trás do ataque às instituições de ensino superior, há uma disputa ideológica e também um projeto político, assim como havia no processo de desmoralização da Petrobras. Afinal, se há corrupção nas universidades federais – se é que há – melhor que sejam privatizadas. Iniciar a cobrança nas universidades federais é um velho projeto da direita brasileira, que conta com o apoio do ministro Mendonça Filho, que sempre foi um adversário de políticas de inclusão, como no caso das cotas.
Coincidência ou não, Mendonça Filho decidiu se manter em silêncio após o ataque à UFMG, que mereceu nota de repúdio assinada pelos reitores de todas as universidades e também um manifesto de intelectuais contra a agressão a direitos civis elementares. Numa situação como a que o Brasil enfrenta hoje, de semidemocracia após um golpe parlamentar, o ataque ao pensamento livre, representado pelas instituições de ensino superior, pode ter sido apenas o prenúncio de uma nova ditadura.
Via Brasil 247