A Assembleia Internacional dos Povos (AIP) foi inaugurada no domingo (24/02) na capital venezuelana, Caracas, com a participação de mais de 400 delegados de 85 países diferentes. Organizado por movimentos populares de todos os continentes, o evento ocorre em meio à tentativa frustrada de golpe contra o presidente eleito Nicolás Maduro pelo opositor Juan Guaidó, com apoio de países como Estados Unidos e Brasil.
Stedile esclareceu os objetivos da articulação em torno da AIP, que envolve organizações de mais de 130 países de todo o mundo. “Aprendemos, com o intercâmbio que fizemos para construir esse processo internacional, que compartilhamos sonhos com todos os que estão aqui. Precisamos construir unidade através de uma reforma programática, e o estamos fazendo muito bem. Todas as formas nas quais o povo se organiza são importantes, seja associações, movimentos, partidos, sindicatos, igrejas”, ressaltou o dirigente brasileiro.
A mesa de abertura teve a participação de João Pedro Stedile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina Internacional, e da prefeita de Caracas, Érika Farías, além do diretor do Instituto Tricontinental, Vijay Prashad, e da representante do projeto Educação Popular dos Estados Unidos, Claudia de la Cruz.
Stedile esclareceu os objetivos da articulação em torno da AIP, que envolve organizações de mais de 130 países de todo o mundo. “Aprendemos, com o intercâmbio que fizemos para construir esse processo internacional, que compartilhamos sonhos com todos os que estão aqui. Precisamos construir unidade através de uma reforma programática, e o estamos fazendo muito bem. Todas as formas nas quais o povo se organiza são importantes, seja associações, movimentos, partidos, sindicatos, igrejas”, ressaltou o dirigente brasileiro.
O avanço dos governos de direita e extrema direita na América Latina e no mundo são o prncipal foco dos debates da Assembleia Internacional dos Povos.
Uma mesa de discussão será destinada a discutir especificamente a atual situação política e econômica na Venezuela e a resistência à ofensiva que começou em 2015 – quando foram realizadas eleições para os 167 deputados e deputadas da Assembleia Nacional venezuelana. Na ocasião, a oposição ao governo Maduro conquistou ampla maioria, e por somente quatro deputados não conseguiu a maioria qualificada de dois terços dos postos, necessária para a aprovação de emendas constitucionais. Ainda assim, com a Assembleia sob controle dos partidos de oposição, quatro deputados não eleitos foram empossados, o que gerou a imediata reação do Judiciário, que suspendeu algumas das atribuições do Legislativo.
Por conta dessa decisão judicial, em 2017, grupos opositores tomaram as ruas do país e promoveram ataques violentos contra pessoas e edifícios públicos – as ações ficaram conhecidas como “guarimbas”. Diante desse cenário, o governo venezuelano convocou uma mesa de diálogo, realizada na capital da República Dominicana, Santo Domingo.
Embora o governo venezuelano tenha atendido a quase todas as reivindicações dos grupos opositores, estes decidiram abandonar a mesa de diálogo, sob protestos dos mediadores – entre eles, o ex-primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodríguez Zapatero. Maduro, então, convocou a eleição para uma Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo de renovar os poderes do país e frear a onda de violência.
A eleição para a Assembleia Constituinte foi realizada no dia 30 de julho de 2017. No dia 20 de maio do ano seguinte, foi realizada a eleição para presidente da República. Embora muitos setores da oposição tenham decidido voluntariamente não participar do pleito e convocado à abstenção, a eleição teve a participação de 46% do eleitorado, resultando vitorioso o presidente Maduro com 67,84% dos votos, que renovou o mandato por mais seis anos.
Insatisfeitos com o resultado, países governados pela direita, principalmente a gestão de Donald Trump, nos Estados Unidos, decidiram intensificar as pressões sobre a Venezuela por meio de bloqueios de bens e divisas no exterior, provocando uma crise econômica sem precedentes no país. No dia 10 de janeiro de 2019, o deputado da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente interino do país, desconhecendo o processo eleitoral que elegeu Nicolás Maduro.
A legitimidade de Guaidó foi reconhecida por governos de direita em uma ação articulada por Trump em janeiro. As Forças Armadas, bem como os máximos representantes do Judiciário da Venezuela, reconhecem a autoridade de Nicolás Maduro como presidente legítimo, eleito pelo voto popular.
Os dirigentes da FUP, Cibele Vieira e Alexandre Finamori, acompanharam de perto as mobilizações do povo venezuelano e seguem participando da Assembleia dos Povos, que prossegue até quarta, 27. Veja o vídeo com o depoimento de Cibele:
Povo venezuelano resiste
O fim de semana foi marcado por tensões na fronteira da Venezuela com a Colômbia, onde manifestantes contrários ao governo bolivariano tentaram forçar a entrada de “ajuda humanitária” dos Estados Unidos em território venezuelano. O governo de Nicolás Maduro acusa a ação de ser uma tentativa de infiltrar um “cavalo de troia” no país para abrir caminho a uma intervenção militar. Após horas de conflito, o plano de Guaidó de furar o bloqueio venezuelano fracassou.
“Todos contribuíram, desde as mulheres que ontem no combate foram, em meio ao palco do conflito, levar água com limão para nossos soldados [para ajudá-los a enfrentar o calor seco da região], até as mulheres e homens que resistiram a mais de 15 horas de enfrentamentos, de ataques paramilitares, de ameaças”, afirmou o representante do governo nacional no estado venezuelano de Táchira, Freddy Bernal.
Ele se refere aos 1.500 civis venezuelanos que se uniram aos agentes militares na fronteira com a Colômbia para evitar que opositores de Maduro furassem o bloqueio e entrassem no país com uma suposta ajuda humanitária vinda dos Estados Unidos. Segundo o governo colombiano, o carregamento incluía 90 toneladas de alimentos.
A subserviência do governo Bolsonaro
Em entrevista ao jornal Valor nesta terça-feiram 26, o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim faz uma análise multilateral da crise na Venezuela e do comportamento dos principais atores externos. Segundo ele, “os militares (…) veem com muita restrição a maneira como o Itamaraty está agindo” e “graças a eles, o Brasil não se precipitou nesse conflito”. Amorin critica os Estados Unidos por utilizar a doação de “ajuda humanitária” como pretexto para desencadear uma ação militar intervencionista contra o país sul-americano. “Tudo vinha sendo feito para colocar uma eventual ação armada sob a capa de intervenção humanitária, que poderia dar alguma legitimidade à intervenção”, explica. “Hoje no Itamaraty o conceito não é mais o de soberania frente aos Estados Unidos, ou frente à China. É a soberania frente aos organismos multinacionais, o que é a mesma visão dos Estados Unidos. Você pode entender que o país mais poderoso do mundo não queira amarras, mas não é o caso do Brasil. Não pode atacar o sistema multilateral como ataca”, critica o ex-chanceler. Leia a íntegra da entrevista.
Já o o jornalista Gilvandro Silva, em artigo no Brasil 247, afirmou que “além de não ter dado em absolutamente nada, em termos práticos, o papel do Brasil na tentativa de intervenção americana na Venezuela está sendo um fiasco do ponto de vista político”. “A participação desnecessária e sem sentido, além de subserviente, expõe, mais uma vez, o Brasil a um vexame planetário. O mundo inteiro está nos vendo como um país ajoelhado e nu diante dos Estados Unidos, único interessado nessa patifaria que se comete contra um país que elegeu o seu governo de forma legítima. Um país cujo pecado é ser potencialmente rico em razão de suas reservas milionárias de petróleo, alvo único da ira de Donald Trump e seus miquinhos amestrados brasileiros e colombianos”, afirmou.
“Não é preciso ser defensor do governo de Nicolás Maduro para repudiar, com veemência, a intromissão absurda e criminosa dos governos dos Estados Unidos, da Colômbia e do Brasil nos assuntos internos da Venezuela”, declarou também o cientista político Aldo Fornazieli. “A farsa da ajuda humanitária ficou desnudada. Tratava-se de um ardil, de uma emboscada, para promover um golpe interno por meio de uma ação externa, visando derrubar o governo venezuelano e instalar um governo ilegítimo e golpista de Juan Guaidó”, destacou.
[Com informações da Opera Mundi , do Brasil de Fato, do Brasil 247 e do Valor]