Agência Carta Maior
A Argentina nacionalizou 51% das ações da YPF pertencentes à espanhola Repsol. A decisão soberana anunciada nesta 2ª feira pela presidenta Cristina Kirchner em rede nacional de rádio e televisão é uma resposta ao vampirismo que tem pautado a atuação do capital espanhol no setor. A Repsol detinha 57% da petroleira argentina privatizada em 1993 no proceso de desmonte do Estado argentino promovido pelo governo neoliberal de Carlos Menen. Em 2010 os investidores espanhóis extraíram um lucro de 1,4 bilhão de euros do subsolo argentino. A produção nacional de petróleo, porém, recuou quase 5,5%.
A Argentina foi a economia ocidental que mais cresceu na última década. Entre 2003 e 2010, o consumo argentino de petróleo e gás aumentaria respectivamente 38% e 25%. A oferta cairia no entanto 12% e 2,3%. A assimétrica evolução evidenciou o descompromisso do capital estrangeiro com o desenvolvimento do país. Os atritos entre o Estado e a Repsol se intensificaram. Em 2010, as importações de petróleo resultaram num déficit de US$ 3 bi na balança comercial argentina. Em 2011 a Argentina gastou US$ 11 bi com a conta petróleo.
O país tem reservas para atender as suas necessidades. Encontra-se em solo argentino a 3ª maior reserva de gás de xisto do mundo: a Repsol, em que pesem os apelos da Casa Rosada, sempre ignorou essa fronteira de soberania energética. Agia em relação ao xisto como a Vale do Rio Doce agiu, durante a gestão do tucano Roger Agnelli, diante dos apelos de Lula para que a empresa investisse na produção siderúrgica nacional.
Nos últimos três anos, o governo Cristina fixou um imposto sobre exportações de petróleo, a exemplo do que fez com as commodities agrícolas. O objetivo era justamente reter no país os ganhos extras gerados pela especulação internacional com matérias-primas. No Brasil, esses ganhos extras eram repassados pela Vale aos acionionistas e festejados pela caixa de ressonância tucano-midopatica.
A Repsol não furou um único poço de petróleo na Argentina desde 2009. Na Espanha, o governo do direitista PP disse que vai reagir à ‘expropriação’. Não demonstra a mesma energia ante a ação predatória que o capital financeiro mundial exerce sobre a sociedade espanhola nesse momento: hoje, o cartel rentista global exigia da Espanha um ganho extra de cinco e meio pontos acima da rentabilidade dos títulos alemães para continuar financiando a austeridade suicida de Mariano Rajoy.