Aprendendo a não desperdiçar o sofrimento


Quem de nós consegue explicar, com segurança, os verdadeiros motivos dos sofrimentos, dores e perdas que muitas vezes, à revelia da nossa escolha, insiste em escrever parte da nossa história de vida aqui?
Vamos nos agrupar, fazer rodinhas, oficinas sobre o assunto, chegaremos a várias citações, conclusões e até poemas, mas a dor da perda da separação, do susto causado por um acidente, seja ele de grandes ou pequenas proporções, é algo  inexplicável.
A Dor é algo que não se pode medir ou comparar. Ela tem o potencial enorme de cruzar histórias, encurtar distâncias, unir pessoas.
A Dor é um dos episódios de maior força na capacidade de unir etnias, povos, classes das mais variadas; sim, porque a Dor não faz acepção de pessoas e por isso acaba sendo um forte elo para a união.
A história de P-36 não é apenas parte da vida de onze viúvas, onze famílias.
P-36 se tornou história de tantos quantos conseguiram chorar, de tantos quantos se fizeram heróis na tentativa de resgate, quer seja das vítimas como da própria plataforma.
P-36 se tornou história de cada funcionário da Petrobrás que acompanhou e acompanha as seqüelas desse evento que já completa sete anos.
P-36 compõe os sete dos quase onze anos de Sindipetro-NF, que desde o início se empenhou para sublinhar essa tragédia com tomadas importantes de atitudes e conquistas nas questões de Segurança nos sistemas offshore e tudo que o abrange.
P-36 há sete anos vem marcando de forma trágica e definitiva as nossas vidas. Das onze viúvas e seus filhos, de parentes e de amigos diversos que compartilham até hoje a dor da ausência dos que se foram.
Vocês sabem o que significa Dor de Ausência?
É a dor que Helena sente ao olhar Serginho fazendo descobertas ou necessitando de um herói mais de perto e ele não tem.
É  a dor que Luzineide sente ao ver Eimel tornando-se um homem, vivendo conflitos da sua idade e tentando proteger sua irmãzinha e mãe sem saber se vai dar conta do recado.
É a dor que Marilena sente ao ver Philipe desejar a presença do pai para compreendê-lo melhor e servi-lhe de referência, quando ver Joana Alice tornando-se uma moça, temendo alimentar o sonho que toda menina tem de se casar, por receio de se tornar viúva e perder o homem de sua vida tal qual sua mãe.
Dor de Ausência é quando a vida atesta diariamente a cada uma de nós que os desaparecidos, assim intitulados pela empresa à mídia, jamais tornarão aparecer.
Fomos mais que traumatizadas por este evento, mas estamos aqui, como guerreiras incansáveis, buscando aprender a não desperdiçar o nosso sofrimento. Antes, tentando de alguma forma oferecê-lo, para que extraiam dele valores transformadores para compor o trabalho offshore com todas as suas implicações; repensando, reciclando e criando condições melhores de trabalho, com a SEGURANÇA, o RESPEITO e a DIGNIDADE que a VIDA merece.
É por isso que estamos aqui.