Rede Brasil Atual
A permanência de um cenário de incerteza na economia internacional e previsões de crescimento menor no Brasil fazem com que se dividam as apostas sobre a decisão de hoje (10) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na penúltima reunião de 2012, sobre a taxa básica de juros. Há um ano, a Selic está em queda – em agosto do ano passado, foi de 12,5% ao ano para 12%, e em agosto último chegou a 7,5%, seu menor nível histórico. Há quem aposte agora em uma nova e pequena redução, de 0,25 ponto percentual, que representaria certa estabilização daqui em diante. Mas muitos acreditam que o Copom adotará uma linha mais cautelosa desde já, esperando os indicadores que sairão até a última reunião do ano, em 27 e 28 de novembro.
As seguidas reduções da taxa básica – nove, a partir de outubro do ano passado – refletiram a queda da atividade econômica e a avaliação predominante de que a inflação era um risco menor, embora merecesse acompanhamento. De lá para cá, o governo adotou medidas para estimular a economia – com resultados ainda tímidos – e a Selic foi cortada em cinco pontos percentuais, de 12,5% para 7,5%. Para alguns, é possível diminuir mais, enquanto outros receiam um repique inflacionário. Ou alegam o risco, talvez para cevar ganhos. O IPCA passou de 0,41%, em agosto, para 0,57% em setembro, e novamente estacionou na casa dos 5% em 12 meses.
Assim, diferente de reuniões anteriores, quando havia praticamente consenso sobre a redução da taxa, desta vez o chamado “mercado” se divide. Consulta feita pelo jornal Valor Econômico, por exemplo, mostrou 16 economistas considerando a possibilidade de nova redução (0,25 ponto) e 18 mantendo a previsão de manutenção da taxa em 7,5%. Selic mais baixa significa, também, juros bancários menores – e desde o ano passado o governo trava uma “batalha” nesse sentido com o setor financeiro.
O economista e consultor Amir Khair considera possível e desejável levar a taxa até os 5% ao ano no menor prazo possível. Ele argumenta que isso aumentaria os recursos disponíveis para investimentos. “A dívida líquida do setor público foi marcadamente influenciada pela Selic. No início do governo FHC, estava em 28% do PIB e, mesmo com a mega venda de patrimônio público com privatizações, ao final do governo chegou a 60,4%. A elevada Selic foi a responsável por isso. No fim do governo Lula, tinha baixado para 39,2% e em julho estava em 34,9%. Caso a Selic continue caindo, é possível que, ao final do governo Dilma, seja possível retornar próximo da que estava no início do governo FHC”, afirmou, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo. “Com essa crescente disponibilidade de recursos, o setor público poderá ampliar sua ação no campo social, na infraestrutura e no estímulo à economia.”
Ele espera que o governo não caia no “engodo” do mercado financeiro, que ao mesmo tempo em que ameaça com o fantasma da inflação, aponta como “cura” a alta da taxa básica. “Resta ver qual política o governo pretende seguir daqui para a frente. Caso posicione rapidamente a Selic em 5%, terá economias sem precedentes para estimular a economia. Caso recue, atendendo à pressão do mercado financeiro para elevar a Selic, terá perdido a oportunidade de ouro que lhe caiu aos pés.”