Após fim da greve na Jirau, mobilização vai pra dentro das usinas

A greve dos trabalhadores da usina de Jirau, em Porto Velho, capital de Rondônia, chegou ao final nesta segunda-feira (4), após 10 dias.





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A greve dos trabalhadores da usina de Jirau, em Porto Velho, capital de Rondônia, chegou ao final nesta segunda-feira (4), após 10 dias. Em duas assembleias uma pela manhã e outra à noite – a terceira, marcada para as 22h, foi cancelada para unificar a votação em só horário –, os operários resolveram aceitar a proposta que começou a ser negociada no Estado e foi fechada em Brasília, durante encontro entre o presidente da CUT, Artur Henrique, e dirigentes da Odebrecht, no dia 31 de março.

A construtora responsável pela hidrelétrica definiu seis itens que atendiam as reivindicações apontadas pelos funcionários da empresa: 5% de antecipação salarial, já no dia 1º. de abril; aumento do valor da cesta básica de R$ 110 para R$ 132; baixada de cinco dias a cada três meses trabalhados, com direito a passagem de avião até as capitais; avaliação para alteração da empresa que fornece o Big Card, uma espécie de vale alimentação, e opção de mais de um plano de saúde, com cobertura nacional, para os trabalhadores escolherem.

Também ficou acertado na conversa entre a central e a empreiteira que os dias de paralisação não serão descontados.

A partir de agora, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil de Rondônia (Sticcero) começa o diálogo com os operários para definir a pauta e a estratégia da campanha salarial da categoria, com data-base em 1º. de maio.

“Esse foi apenas o primeiro passo da luta, para deflagrar a abertura de um canal de diálogo. A próxima etapa já começa hoje”, afirmou durante a primeira assembleia o secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Feitas, destacado pela central para negociar os conflitos em Rondônia.

Entram nesse próximo passo do processo de debate pontos como o reembolso de passagens de ônibus daqueles que não moram nas capitais e, além do trecho aéreo, utilizam transporte terrestre. A discussão sobre a substituição do Big Card também é fundamenta porque muitos comerciantes cobram um ágio para que os trabalhadores possam utilizá-lo.

Como a Odebrecht apenas atendeu parte das reivindicações que seriam colocadas na mesa de negociação, numa forma de encerrar a paralisação, outros fatores tais quais aumento de salário, valor maior para a cesta básica e maior tempo de folga nas baixadas voltarão a marcar os encontros.O processo
A assembleia da manhã representou maior dificuldade para aprovação da proposta do que a do período da noite. Juntas, as duas reuniram cerca de 9 mil pessoas.

Representante da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira (Conticom), Cláudio Gomes, o Claudinho, atribui o fato à dificuldade de conversar com a grande quantidade de pessoas envolvidas na obra. “Não havia uma noção muito clara da reação do trabalhador, até por conta da situação de acirramento a que tinha chegado o movimento”, afirma.

A paralisação começou no dia 25 de março e é um exemplo de como a falta de diálogo e competência para resolver pequenos problemas pode prejudicar o andamento de uma grande construção.

Na ocasião, Jirau já estava parada por conta dos conflitos no dia 15 de março e o clima de tensão predominava no complexo hidrelétrico do Rio Madeira. No dia 18, o consórcio Santo Antônio Civil (CSAC) resolveu dispensar os trabalhadores por uma questão de segurança. Porém, para retornar, os operários exigiram a retirada de uma escada que levava ao centro do canteiro de obras. Isso porque alguns empregados do alto escalão chegavam ao local de ônibus, enquanto outros eram obrigados a seguir a pé pelos degraus. A manutenção do acesso gerou um problema com proporções acirradas pelos outros pontos que já eram reivindicados e estão presentes na pauta aprovada nesta segunda.

“Apesar da suspensão da greve, os trabalhadores permanecem mobilizados e isso vai ajudar a chegar a um bom acordo coletivo”, acredita Claudinho.

A construção em construção

O processo de negociação em Santo Antônio e Jirau não deixa dúvidas de que o perfil do trabalhador da construção civil mudou e muito.

Com o crescimento das ofertas de trabalho resultantes das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do aquecimento do mercado imobiliário, a categoria ganhou força, mobilização e se tornou mais exigente. Prova disso foi a criação de uma comissão de operários de ambas as usinas que caminhou ao lado do sindicato na negociação. “O trabalho da comissão e de suma importância e virou uma tradição nesses canteiros. No ano passado já tínhamos uma para Jirau e outra para Santo Antônio, que participavam ativamente do processo de aceitação e rejeição da proposta”, explica Claudinho.

O representante da Conticom ressalta que por estar diretamente ligada ao cotidiano do ambiente de trabalho, a comissão é fundamental para a atualização das questões que o sindicato deve tratar com a empresa e para levar as informações à base. “Ela serve também de termômetro porque capta a ansiedade e angústias dos trabalhadores no curso do processo de negociação”, indica.

Esse novo cenário não se desenha apenas na forma de organização no local de trabalho, mas também no recorte de gênero, conforme comprova a pedreira Maria Lúcia de Souza, presente na assembleia. Casada e mãe de três filhos, ela ingressou como ajudante na Santo Antônio em janeiro de 2009, logo após fazer um curso oferecido pela empresa. Após oito meses virou meio-oficial e, três meses depois, oficial pedreiro.

Batom e unhas pintadas na cor vinho, combinando com a mochila lilás, tom símbolo do movimento feminista, ela conta que jamais deixou de encarar um desafio, mesmo quando isso significa escavar concreto para tirar lama de dentro da vala. “Batalhei bastante para chegar onde estou, mas muitas amigas desistiram”, lembra a trabalhadora que encara de segunda a sábado uma jornada com início às 18h e término às 4h30, mesmo debaixo de chuva, para receber R$ 1246. Já incluído o valor do adicional noturno.

Após participar de três greves na Santo Antônio, ela espera que o sindicato esteja mais próximo para poder lutar por um melhor salário e mais diálogo. “É preciso que esteja mais próximo, dentro da obra, porque quando vamos reclamar de receber um valor diferente, mesmo fazendo o mesmo serviço que um colega da mesma turma, tentam fazer uma lavagem cerebral e não resolvem”, critica.

Acordo com Camargo Correa está próximo –A aprovação do acordo em Santo Antônio aumenta a responsabilidade da Camargo Correa, responsável pelas obras em Jirau. “As compensações importantes que fizeram os trabalhadores de Santo Antônio voltassem ao trabalho, devem também ser dadas aos operários de Jirau”

Na última sexta-feira (1), a CUT, a Conticom e o Sticcero negociaram um pré-acordo com a Camargo Correa que passa para Jirau o que também foi aceito em Santo Antônio.

Caso as reivindicações sejam aceitas durante encontro que deve ocorrer ainda nesta semana, a proposta vai para apreciação dos trabalhadores, em assembleia.

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