Depois de engavetar 83 pedidos de CPIs para investigar irregularidades e casos de corrupção envolvendo o PSDB…
Depois de engavetar 83 pedidos de CPIs para investigar irregularidades e casos de corrupção envolvendo o PSDB, a tropa de choque tucana na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp), comandada pelo governador José Serra, resolveu finalmente aceitar a instalação de uma CPI política: mas justamente uma que não envolve os tucanos ou seus aliados, e sim lideranças do PT.
O presidente da Alesp, deputado Barros Munhoz (PSDB), assinou na terça-feira (9), documento para a instalação da CPI da Bancoop. A comissão, pedida em requerimento de outubro de 2008 pelo deputado Samuel Moreira, líder do PSDB na Casa, investigará denúncias sobre a existência de um suposto esquema de desvio de dinheiro da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para campanhas eleitorais do PT. A denúncia foi requentada esta semana pela revista Veja e pelo jornal O Estado de S. Paulo a partir de informações sem provas dadas pelo promotor de Justiça José Carlos Blat.
Curiosamente, a mesma revista Veja que agora usa o promotor Blat como fonte de suas denúncias, publicou em 2006 uma matéria devastadora acusando Blat de envolvimento em uma série de casos de corrupção. (Leia mais aqui)
CPIs engavetadas
Dos 83 engavetamentos de CPI na Assembléia Paulista, 70 aconteceram na gestão Geraldo Alckmin, e 13 no atual governo. Sob Serra, os pedidos de investigação não obtiveram sequer o número de assinaturas necessárias para que as CPIs fossem protocoladas. Entre elas estão a CPI da Máfia caça níqueis, a CPI das Estatísticas criminais, que buscavba investigar a omissão de dados da violência no Estado; a CPI do Baixo desempenho escolar; a dos Cartões corporativos que tinha como alvo de investigação os gastos de R$ 108 milhões, "aplicados" até em casas noturnas; a CPI das Ongs no Governo Alckmin (60 contratos sem licitação e prejuízo de R$ 80 milhões); a CPI das Rodovias, para investigar as privatizações tucanas e os pedágios mais caros do país; a CPI da Alstom, que envolve contratos bilionários da multinacional francesa com o governo paulista; além de várias outras.
Direita se movimenta para amplificar o caso
Apesar de todas as inconsistências da denúncia, a oposição de direita tenta capitalizar politicamente o episódio, pois vê no caso Bancoop uma oportunidade de ouro para tentar voltar à ofensiva denuncista contra os petistas depois de ter ficado os últimos meses na defensiva tentando desesperadamente se desvencilhar do escândalo de corrupção que atinge diretamente suas lideranças no Distrito Federal.
Nesta quarta-feira (10), os oposicionistas do DEM e do PSDB no Congresso Nacional tentaram emplacar a convocação do promotor José Carlos Blat no Senado para falar do caso Bancoop. A audiência pública ocorreria na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ). Mas a proposta foi derrotada. A base do governo rejeitou a convocação por 10 votos a 9.
A base governista argumentou que o requerimento teria caráter de campanha eleitoral, uma vez que o assunto não está em debate na comissão, nem tampouco no Senado. "Não podemos trazer para a CCJ assuntos como esse para não politizar uma investigação que está em andamento em São Paulo. Esse requerimento é um desserviço à CCJ e ao Senado. O debate eleitoral deve ocorrer nos níveis de competência, que não são o Senado", afirmou o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-AP).
Já a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (PT), afirmou que os supostos desvios sob investigação do Ministério Público de São Paulo não envolvem dinheiro público e a denúncia sequer foi feita à Justiça. "Se a Justiça não foi acionada, por que a CCJ, que não tem a ver com dinheiro público, vai ouvir o procurador que não fez a denúncia?", questionou a senadora, que também subscreveu as declarações de Jucá de que o requerimento tem viés eleitoral.
PT repudia acusação e exige reparação
Ainda na terça-feira (9), o presidente do PT, José Eduardo Dutra, por meio de nota, afirmou que o partido buscará na Justiça a reparação "pelas infâmias" praticadas pelos dois meios de comunicação (Veja e Estadão) que publicaram as denúncias de Blat.
Ele também informou que representará no Conselho Nacional do Ministério Público contra o promotor, "fonte primária de onde brotam as mentiras, as ilações, as acusações sem prova e o evidente interesse em usar a imprensa para se promover às custas de acusações desprovidas de qualquer base jurídica ou factual".
Para o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente do PT, há um movimento para tentar atingir a campanha da ministra e o PT neste período pré-eleitoral e as denúncias são "requentadas".
Ainda assim, Berzoini disse que a estratégia do partido deve ser evitar uma troca de denúncias com a oposição, pois teria ficado provado nos últimos anos que o eleitorado reprova esse tipo de atitude.
"Vamos fazer um debate programático, porque é isso que o povo quer ouvir", argumentou.