População está sem luz e sem água em plena pandemia, por responsabilidade de uma empresa privada e da omissão da Aneel e do governo Bolsonaro
[Com informações da Rede Brasil Atual, da Agência Estado e do G1]
O Amapá entrou nesta sexta-feira, 06, no quarto dia de apagão. De 16 municípios do estado, 13 estão sem eletricidade, o que atinge 89% da população. A capital Macapá decretou estado de calamidade pública por 30 dias e abriu exceções sobre a restrição a atividades econômicas em função da prevenção da covid-19.
A falta de energia elétrica é motivada por um incêndio, na noite da terça-feira (3), na subestação localizada na Zona Norte de Macapá. Mesmo com o início do trabalho de reparo no local, ainda não houve restabelecimento do serviço, que passa por testes.
De acordo com o portal G1, os postos de combustíveis, que usam geradores para obter energia, estão com filas enormes. Eles foram autorizados a ficarem abertos por 24 horas. As filas também são registradas em supermercados e em locais de revenda de água, principalmente na capital.
A falha afeta o funcionamento das redes de telefonia fixa, móvel e de internet, que atuam de maneira limitada. Os hospitais e o sistema de tratamento de esgoto utilizam geradores. Além disso, para recarregarem os celulares e contatar outras pessoas, os macapaenses têm buscado alternativas para utilizar eletricidade e foram aos shoppings e ao aeroporto, que também possuem geradores.
Privatização
O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) cobrou nesta sexta-feira uma ação mais dura da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em relação à operação da espanhola Isolux, dona da subestação no Amapá, que teve um dos seus três transformadores incendiado e provocou um apagão no Estado que já dura quatro dias.
Sem luz e sem água em plena pandemia de covid-19,o Estado entrou no Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2015, através da linha de transmissão de 500 kv Tucuruí-Macapá-Manaus,que permitiu a ligação de Amazonas, Amapá e oeste do Pará à usina hidrelétrica de Tucuruí.
Que fique esclarecido que a empresa PRIVADA Isolux é a responsável pelo “apagão’ no Amapá. A estatal Eletrobras/Eletronorte, com seus técnicos competentes, é quem foi socorrer.#EletrobrasPública#PrivatizarNÃO#EnergiaNãoÉMercadoria#FNU #CNU #FNUCUT@PRV10Z1TERMINA2 pic.twitter.com/d8xuzSp3Ra
— FNU (@FNUCUT) November 6, 2020
O CNE informou que em outubro se reuniu com a Casa Civil para reivindicar a construção de uma segunda casa de força na hidrelétrica Coaracy Nunes para reforçar o sistema do estado, com a adição de mais 220 megawatts à geração elétrica do Amapá.
Em documento entregue nesta sexta a órgãos do governo, o CNE destaca que o Estado é alvo de intensas descargas atmosféricas, apontadas como a provável causa do incêndio no transformador, mas observa que segundo informações de trabalhadores da empresa, o segundo transformador estava em manutenção e o terceiro apresentou vazamento, o que causou a tempestade perfeita que desencadeou o apagão.
A carta do Coletivo alerta que a Aneel já havia impedido a Isolux de participar de leilões de transmissão por não cumprir compromissos assumidos com o governo, e que em 2016 retomou dois contratos de linhas de transmissão adquiridas em leilão pela companhia para construção em Rondônia e no Pará, também pelo descumprimento de regras como assinatura do contrato e depósito de garantias.
O CNE destaca ainda que a Eletronorte, empresa estatal, foi acionada para ajudar o restabelecimento da energia no estado, o que não aconteceria se o governo levar adiante o plano de privatizar a Eletrobras. “Embora o setor elétrico esteja sujeito a intempéries climáticas, o que ocorre no Amapá só demonstra o equívoco de privatizar a Eletrobras e suas empresas, que no Estado é representado pela Eletronorte”, afirmou na nota.
Governo federal
O Gabinete de Crise do governo federal deve lançar três planos para reverter o apagão no Amapá. Entre as propostas, está a recuperação de um dos transformadores queimados e que pode restabelecer cerca de 70% da energia do Amapá.
No encontro emergencial realizado nesta quinta-feira, estiveram presentes o governador do estado Waldez Góes (PDT), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, secretários estaduais, que compõem o comitê de crise do estado, como as pastas de Segurança e Saúde, Defesa Civil, e a gestão da Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA).
Em coletiva de imprensa, Albuquerque informou que os três transformadores da subestação que pegou fogo ficaram comprometidos e que não houve a possibilidade de remanejamento, substituição ou reaproveitamento de peças. Segundo ele, a recuperação de uma das máquinas deve demorar até o fim desta sexta-feira.
Enquanto o Amapá vive uma crise, o presidente Jair Bolsonaro acompanha, nesta sexta-feira, outra “pauta prioritária”. O líder do Executivo viajou para o Sul do país para acompanhar a formatura de 600 novos policias rodoviários federais em Santa Catarina, além de uma inauguração de uma pequena central hidrelétrica, no Paraná.