Aos petroleiros da Bacia de Campos: A greve que nos muda para sempre

 

A categoria petroleira empreendeu ao longo destes 20 dias de greve uma das mais importantes lições políticas da sua história recente. Além de ser a maior greve das últimas duas décadas, o movimento que por ora se suspende teve a característica única de ser eminentemente ideológico, a favor de uma visão de mundo baseada na justiça social e no uso das riquezas naturais em benefício de todos. Uma greve que teve a coragem de ultrapassar pautas corporativas e debateu com a empresa, com o governo e com a sociedade uma Pauta pelo Brasil.

O Sindipetro-NF tem imenso orgulho de ser a entidade que representa estes trabalhadores que exerceram com altivez e firmeza o direito de interferir nos rumos políticos da maior empresa do Brasil, em favor do povo brasileiro, estabelecendo um marco definitivo na própria história da empresa. Nunca mais ousarão tentar entregar a empresa sem que esperem uma forte reação dos petroleiros.

O sindicato avalia que a formação do Grupo de Trabalho, com representantes da FUP e da Petrobrás, para discussão de alternativas ao Plano de Negócios e Gestão que vinha sendo implementado pela companhia, é uma conquista sem precedentes no campo da influência dos trabalhadores sobre a condução dos destinos da empresa. Nele, os petroleiros chegarão com a força política de uma greve histórica e com a racionalidade objetiva de propostas concretas.

Também deve ser celebrada como vitória deste movimento a manutenção de todos os direitos previstos em Acordo Coletivo de Trabalho. Para que se tenha a medida real desta conquista, basta que se relembre qual era o cenário da empresa no início deste ano, as perspectivas de negociação e as ameaças de cortes em benefícios. Ninguém, antes desta grande luta dos trabalhadores, poderia supor que os petroleiros passariam por este ano sem sofrerem abalos em direitos conquistados na última década. Todo o empenho da empresa vinha sendo edificado na perspectiva de arrocho sobre os trabalhadores.

Os petroleiros estão em um novo patamar. Nunca mais serão os mesmos após esta greve. Assim como a paralisação de 1995 e outros importantes movimentos, esta greve de 2015 tem reservado o seu papel de referência para futuras lutas, que não cessam, em defesa constante por um Brasil para os brasileiros. Pois todos sabemos que seguem à espreita pautas conservadoras no Congresso Nacional, ajustes também conservadores do governo, projetos de lei como o do senador José Serra (PSDB-SP) que querem entregar o pré-sal, entre outras ameaças contra as quais os trabalhadores estarão prontos para se insurgir a qualquer momento.

Também não faltará determinação de luta — uma vez que a categoria permanece em Estado de Greve — caso a empresa venha a ter a audácia de descumprir algum dos pontos acordados com a FUP e os sindicatos, ou que mantenha postura arbitrária em relação aos dias parados ou a eventuais sanções aos grevistas.

Nossa força foi demonstrada neste movimento vitorioso, que uniu de forma emocionante e produtiva a experiência de antigos petroleiros, que viveram outros momentos tensos da companhia, com a determinação de uma juventude formada por novos empregados que mostraram que estão prontos para seguir adiante com a organização dos trabalhadores. Algo que está presente na própria diretoria do sindicato, que equilibra antigos com novos petroleiros, foi constatado na militância durante este movimento, em uma integração ombro a ombro, respeitosa, democrática e guerreira. Todas as gerações saem mais experientes deste convívio em um ambiente de ensinamentos foram mútuos.

Muito embora exista uma velha máxima segundo a qual companheiros não agradecem uns aos outros, mas firmam compromissos de luta, o Sindipetro-NF não pode deixar de registrar, ao encerrar esta greve, alguns agradecimentos: em primeiro lugar, ao empenho de todos aqueles militantes de base que atenderam ao chamado para as mobilizações diárias nos aeroportos, bases administrativas e no Terminal de Cabiúnas; também aos funcionários do próprio sindicato, que foram incansáveis no suporte às nossas ações; aos familiares dos petroleiros, diretores do NF e militantes, que suportaram as tensões e ausências deste momento; aos sindicatos das demais categorias de trabalhadores, como bancários, metalúrgicos e professores, entre outros, que estiveram conosco em várias ações durante o movimento; e, finalmente, aos movimento sociais, como o MST e movimento estudantil, que emprestaram mentes e braços nesta causa que é de todos.

Agora, é questão de seguirmos firmes, fortes e unidos. Todos na luta sempre.

Macaé, 20 de Novembro de 2015

Diretoria do Sindipetro-NF