Após receber o prêmio da ONU “Campeão do Mundo na Batalha Contra a Fome”…
Após receber o prêmio da ONU “Campeão do Mundo na Batalha Contra a Fome”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (10) que foi o consumo das classes menos favorecidas um dos responsáveis pelo fortalecimento da economia nacional, que se descolou do cenário internacional e sofreu menos com os efeitos da crise econômica mundial.
“A classes D e E do Norte e do Nordeste consumiram mais que as classes A e B do Sul e Sudeste, ou seja, os pobres foram à luta para comprar. (…) O que nós fizemos foi garantir um pouquinho para muita gente. E os pobres, que antes ficavam à margem, viraram gente de classe média e compraram coisas que só parte da classe media podia comprar”, destacou o presidente, durante a abertura da reunião Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar.
Mais uma vez, o presidente frisou que a soberania de uma nação só se conquista com a independência alimentar e que não se arrepende de ter alocado dinheiro aos mais pobres porque os programas assistenciais, na visão dele, não desestimulam os cidadãos a trabalhar, mas lhe dão força para trilhar suas vidas.
“Quem tem fome não pensa. A dor de estômago é maior do que muita gente imagina. E pessoa que têm fome não viram guerreiro, viram pedinte. A fome não faz guerreiro, faz o ser humano subserviente, humilhado e sem força para brigar contra seus algozes”, exemplificou.
Em seu discurso de improviso, Lula ressaltou que um dos “milagres” que aconteceram no Brasil, durante sua gestão, foi aumentar o valor do salário mínimo, que antes equivalia a 1,4 cesta básica e, atualmente, é avaliado em 2,4 cestas básicas. O presidente afirmou ainda que a “inflação está totalmente controlada”.
"Precisamos garantir a cada cidadão do país que ele possa ter o café da manhã, o almoço e o jantar de cada dia", continua Lula. "Se os dirigentes políticos no mundo não estiverem, cotidianamente, comprometidos com as pessoas que estão em piores situações em seu Estado, em seu país, fica mais difícil tomar decisão em benefício dos mais pobres. A verdade é que normalmente somos eleitos pelos mais pobres, mas quando ganhamos as eleições quem tem acesso aos gabinetes são os mais ricos."
Lula destacou a necessidade de reforma do Comitê de Segurança Alimentar, para que se torne mais representativo e que a cooperação com os países africanos deve ser ampliada após a aprovação do projeto de lei que deve encaminhar ao Congresso, permitindo que a Embrapa realize projetos países estrangeiros.
O mandatário defendeu ainda que os países mais ricos contribuam para melhoria na qualidade de vida e invistam em agricultura nos países africanos, pois, assim, eles passaram a ser “um mercado extraordinário de consumidores” para quem dispõe de produtos de alta tecnologia.
Cooperação Brasil-África
Já o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que a Reunião Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, no Itamaraty, pode levar à execução de medidas que reduzam as dificuldades enfrentadas pelos países em desenvolvimento no mercado externo.
“Esta aproximação nos tornará mais fortes para enfrentar as distorções no comércio internacional”, afirmou ele, referindo-se à existência de barreiras comerciais e imposições de subsídios principalmente sobre os produtos agropecuários.
Em seguida, Amorim afirmou que é um grande orgulho “copatrocinar” um evento como esse. “A África sempre esteve no nosso coração e no nosso espírito. Hoje temos grandes investimentos na África”. O chanceler lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou mais de 20 países africanos em busca de ampliar relações multilaterais.
E ao concluir seu mandato em dezembro, terá visitado 25 países africanos. Na primeira semana de junho, de 4 a 11 do próximo mês, Lula irá a cinco países africanos: Guiné Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul. O objetivo dele é encerrar a viagem assistindo à final da Copa do Mundo na África do Sul.
Participam da reunião hoje, no Itamaraty, representantes dos países africanos, ministros e especialistas. Eles discutirão alternativas para a promoção da agricultura, da segurança alimentar e do desenvolvimento rural a fim de intensificar a cooperação entre o Brasil e os países africanos.
De acordo com o Itamaraty, a cooperação técnica com a África tem aumentado nos últimos anos. Apenas os países africanos recebem atualmente cerca de 60% dos recursos da Agência Brasileira de Cooperação (ABC). Há 50 projetos na área de segurança alimentar operados pela ABC, em 18 países africanos.
Fome Zero como exemplo
Na solenidade, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Jacques Diouf, elogiou o programa Fome Zero. Segundo ele, o programa deve ser exportado para os países africanos com o objetivo de garantir a segurança alimentar e a qualidade de vida para quem vive nesses países. De acordo com Diouf, a FAO garante os financiamentos e a tecnologia necessários para a execução dos projetos.
“A intenção de executar versões do Fome Zero é importante para o desenvolvimento e levar adiante a experiência e a tecnologia desse programa para avançar nos projetos de segurança alimentar”, disse Diouf, que participa da Reunião Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, no Itamaraty.
De acordo com o diretor-geral da FAO, programas como o Fome Zero são um exemplo para o resto do mundo. “Essa iniciativa tem reduzido a pobreza e estimulado uma série de ações. Já reduziu em 28% a fome, de 2004 a 2006”, disse ele.
Produzem-se, hoje, alimentos suficientes para nutrir toda a população mundial. Apesar dos progressos socioeconômicos e tecnológicos, os esforços para redução da fome no mundo têm sido, contudo, insuficientes.
Dados da FAO demonstram que mais de 1,2 bilhão de pessoas no mundo sofrem de fome.