Sessenta anos depois da partilha da Palestina imposta pela ONU que criou em 1947-1948 o Estado de Israel, hoje um milhão e meio de palestinos cercados em Gaza sofrem um novo e terrível massacre.
Há dez dias bombardeiros, helicópteros e mísseis do exército israelense golpeiam incessantemente a faixa de Gaza e iniciou-se uma invasão por terra. Há mais de 500 mortos e milhares de feridos. Muitas crianças, mulheres e anciãos são atingidos em suas casas, alvos de ataques aéreos.
"O bombardeio de Gaza não é contra o Hamas, mas contra todos os palestinos", declarou a jornalista israelense Amira Hass no diário Haaretz de 29 de dezembro.
A primeira onda de bombardeios ocorreu num momento em que as crianças saíam das escolas para voltar para suas casas. Quando os aviões soltaram as bombas, milhares de crianças estavam nas ruas.
Desde o início da ofensiva o Estado de Israel proibiu o acesso de jornalistas, e os raros correspondentes de imprensa presentes em Gaza pintam cenas de horror: "Cadáveres estendidos no solo, com as carteiras de identidade à vista para que as famílias possam reconhecê-los. Tal era o espetáculo ontem ao meio-dia no hospital Shifa de Gaza, imerso na mais extrema confusão", informa o correspondente do diário francês Journal du Dimanche de 28 de dezembro. "Entre corpos destroçados, feridos estendidos em macas improvisadas, parentes que foram em massa identificar um familiar falecido ou desaparecido, os médicos fazem o possível com os meios que dispõem." Meios escassos por causa do bloqueio imposto há meses por Israel. A falta de medicamentos, de sangue, anestesia e instrumentos cirúrgicos condena os feridos mais graves à morte.
Desde o início da ofensiva, o exército israelense decretou "zona militar fechada" o setor que margeia a faixa de Gaza-leste. Todas as estradas estão fechadas para a circulação, exceto com autorização especial do exército à qual apenas os habitantes das localidades israelenses podem ter acesso. E agora começaram as operações terrestres, com novo cortejo de mortes e atrocidades.
Assim, depois de 60 anos – desde a partilha de 1947-1948 com a expulsão brutal e sangrenta dos palestinos de suas terras, sua vilas, seus lares; desde o massacre feito pelo exército jordaniano no Setembro Negro de 1970 até o praticado pelo exército israelense em Sabra e Shatila, no Líbano, em setembro de 1982- de massacre em massacre, que sempre voltam a reproduzir-se, o povo palestino sofre as conseqüências terríveis de um consenso internacional entre todas as grandes potencias imperialistas – começando pelo imperialismo dos EUA – com o aval da ONU e a cumplicidade de governos árabes; um consenso baseado na negação do direito de um povo a viver livre e soberano em sua terra.
E, uma vez mais, os mesmos que há 60 anos impuseram e instrumentaram esta política reacionária e desastrosa para o povo palestino e todos os povos da região, de acordo em acordo, de Camp David a Oslo, agora se dedicam a preparar sua continuidade:
Em Washington, "o presidente G.W. Bush fora informado de antemão", diz o diário francês Le Figaro, e evitou "pedir ao aliado dos Estados Unidos que interrompesse imediatamente os ataques", considerando que "Israel tem direito a defender-se". A população de Gaza é bombardeada por aviões F-16 com bombas dos EUA.
Quanto ao presidente eleito, Barack Obama, seu principal assessor David Axelrod acaba de reafirmar que "a relação particular entre os Estados Unidos e Israel continuará", declarando que "no momento há um só presidente que fala em nome dos Estados Unidos, o presidente atual, George W. Bush".
Na ONU, a sessão de emergência do Conselho de Segurança, que reúne todas as "grandes potencias", Estados Unidos, Rússia, China, França, Inglaterra, deu lugar a "um texto não vinculante que cada qual pode dar sua interpretação"
No Egito, no Líbano, na Jordânia, manifestações de massa gritam a cólera dos povos diante de um novo massacre infringido ao povo palestino e contra a cumplicidade de seus governos.
Até mesmo dentro das fronteiras do Estado de Israel, desafiando a proibição, cerca de mil jovens israelenses manifestaram-se contra a intervenção, enquanto os palestinos "do interior" organizavam greves e manifestações que sublinham a unidade do povo palestino.
Para evitar a engrenagem de uma guerra sem fim que se estende a toda a região, para estabelecer enfim a paz baseada no respeito aos direitos dos povos, não há outro caminho senão deixar para trás a partilha pela força imposta à Palestina pela ONU em 1947-1948.
Não haverá paz enquanto os palestinos estiverem condenados ao exílio em campos disseminados em toda a região, à prisão em cárceres sem teto como em Gaza e na Cisjordânia, ou a serem cidadãos de segunda categoria dentro das fronteiras do Estado de Israel.
O direito do povo palestino ao retorno a suas terras é um direito imprescritível. Um direito que nunca se acomodará e nem poderá ser cumprido com as fronteiras de um ou dois supostos "estados" em Gaza ou na Cisjordânia, rodeados por um muro de oito metros de altura, arame farpado e controles do exército israelense, recortados constantemente por novas colônias de ocupação. Um direito incompatível com a existência de um Estado teocrático baseado no terror e na pretensão de reconhecer somente aos judeus o direito de viver na Palestina. Um Estado que mantém no interior de suas fronteiras um milhão e meio de habitantes como indivíduos de segunda categoria, sem direitos, por serem árabes.
. Parar imediatamente os massacres em Gaza!
• Parar os bombardeios!
• Fim imediato do bloqueio!
• Abaixo a ocupação militar!