O argentino Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz em 1980, viaja a Curitiba nesta quarta-feira (18) e se reúne durante a noite com ativistas e artistas, em evento no Circo da Democracia, que ocorrerá no Teatro da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Na quinta (19), ele pretende visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso na sede da Polícia Federal na capital paranaense.
Em ofício encaminhado à presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e à Justiça Federal de Curitiba, Esquivel comunica que “na condição de Prêmio Nobel da Paz e presidente de Organismo de Tutela Internacional dos Direito Humanos (Serpaj), além de “amigo” de Lula, fará inspeção na Polícia Federal em Curitiba e conversará com o ex-presidente.
O ativista argentino esteve terça-feira (17) no Museu da Maré, no complexo de favelas do Rio de Janeiro que leva o mesmo nome. Em conjunto com movimentos populares e representantes de entidades que da Comissão Popular da Verdade, ele prestou homenagem a vereadora Marielle Franco, assassinada há cerca de um mês. Lá, Esquivel também denunciou os chamados “golpes brancos”, que conjugam parlamentares, setores da mídia e de da Justiça, que já ameaçaram o Equador, a Bolívia, e foram consumados em Honduras, no Paraguai e também no Brasil. “A democracia está ameaçada em todo o continente. A única forma de reverter isso é a unidade dos povos”, disse ele em entrevista coletiva.
Indicação de Lula para Nobel da Paz já tem 230 mil assinaturas
Na conversa com os jornalistas, Adolfo Pérez falou sobreas chances do ex-presidente Lula ganhar a edição de 2018 do prêmio Nobel da Paz. A campanha que ele lançou para apoiar a indicação de Lula já tem mais de 230 mil assinaturas. A meta é chegar a 300.
“Lula é um homem que em todo o seu trabalho pensou nos mais necessitados, nos marginalizados. Tirou da pobreza e da fome mais de 30 milhões de brasileiros. Lula tem reconhecimento da ONU, FAO, OEA e Unesco”, disse.
O ativista explicou que está conversando e trocando informações com outros ganhadores do Nobel da Paz de países como Espanha, Alemanha, Itália e Egito, entre outros, para entregar uma documentação sobre Lula ao Comitê do prêmio e lançar sua candidatura, no próximo mês de setembro, época das inscrições. “As possibilidades de Lula ganhar são muitas. Seria o primeiro Prêmio Nobel do Brasil e seria muito importante esse reconhecimento”.
Esquivel disse ainda que muitos países estão preocupados com a situação do Brasil, que é preciso trabalhar a resistência, não ser cúmplice das injustiças, não permitir as injustiças, lutar contra a impunidade, e por isso quer Lula Livre.
Segundo o Nobel da Paz, estão destruindo o sistema progressista do continente latino-americano. A democracia está em perigo com os povos perdendo direitos e liberdade.
Ele citou ainda o assassinato e a prisão de mais de 100 jornalistas no continente latino-americano, e lembrou que as forças policiais e armadas desses países, incluindo o Brasil, estão sendo treinadas na Palestina, por Israel. Esquivel ressaltou que o parlamento israelense aprovou a tortura como forma de repressão. “É um treinamento para controle social, e aplicam essa política, essa metodologia repressiva aqui no continente”, alertou.
De acordo com ele, é uma obrigação moral lutar pela liberdade e fortalecer a unidade entre os povos, ressaltando que não é preciso que os movimentos sociais pensem de forma igual, mas que tenham objetivos comuns. “Precisamos encaminhar a palavra, com uma palavra podemos amar e com uma palavra podemos destruir como uma arma. A palavra nesse momento é unidade, para pensar juntos, para construir”, afirmou. “O dia que deixarmos de sorrir pela vida, é porque perdemos do capitalismo e o capitalismo nasceu sem coração”, completou.
O ativista incentivou a busca por alternativas de economia solidárias, economias regionais e, em especial, a educação. Citando Paulo Freire como exemplo, lembrou que a educação existe como prática da liberdade. “Muitas vezes pensamos que a liberdade não é fazer nada. Liberdade é lutar pela justiça, se não há justiça, não há paz e não há liberdade”, disse.
“Devemos incluir nos direitos dos povos a sua identidade, seus valores e sua espiritualidade porque ser povo não é contar muita gente, é ter identidade, pertencer a algo, é o sentido da vida, é a força para construir novas possibilidades de vida”, declarou o Nobel da Paz.
[Com informações da Rede Brasil Atual e CUT | Edição: FUP | Foto: Jaqueline Deister/ Brasil de Fato]