Para a FUP, o contrato assinado entre RLAM e o fundo Mubadala não significa que o negócio chegou a um ponto final. Estamos longe disso. Muitas etapas serão enfrentadas.
[Da assessoria de comunicação da FUP]
Embora a atual gestão da Petrobrás tenha anunciado na semana passada (24/3) a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, para o fundo Mubadala, de Abu Dhabi, às vésperas da substituição da diretoria da estatal, o fechamento do negócio ainda depende de aval de órgãos de controle e da definição de pendências jurídicas.
Até o momento, três ações civis públicas de autoria do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro/BA) tramitam na Justiça Federal, contestando a venda da RLAM e seu preço abaixo do mercado. Há também denúncia feita ao Tribunal de Contas da União (TCU), que, da mesma forma, questiona a legitimidade da operação e argumenta que o baixo valor do negócio impõe prejuízos ao patrimônio da Petrobrás.
A sustentação oral deste processo no TCU, prevista para ocorrer na tarde desta quarta-feira, 31, foi adiada, para que sejam analisados pleitos dos deputados Bohn Gass (PT/RS), líder da bancada petista na Câmara, e Arlindo Chinaglia (PT/SP), líder da minoria. Os dois parlamentares pediram para serem habilitados na denúncia contra a venda da refinaria, o que será decidido pelo ministro Augusto Nardes, relator do processo no Tribunal.
“O ingresso dos parlamentares contribuirá para fortalecer a denúncia e sua sustentação oral”, afirma o advogado Ângelo Remédio, do Escritório Garcez, especializado em Direito Administrativo e Societário. Ele representa o Sindipetro/BA neste processo.
Para o coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, “o contrato assinado entre RLAM e o fundo Mubadala não significa que o negócio chegou a um ponto final. Estamos longe disso. Muitas etapas serão enfrentadas”.
Além dessas ações, o Sindipetro/BA apresenta na próxima semana queixa ao Ministério Público Federal (MPF), também contra o valor da transação e sustentando que a venda da RLAM vai gerar monopólio privado regional. Também ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) será encaminhada nova denúncia contra a formação de monopólio e seus impactos para o consumidor.
“Há ações judiciais que questionam a venda da RLAM em vários aspectos, entre eles a subavaliação de preço de um ativo, que é a segunda maior refinaria do país e uma das maiores produtoras de derivados de alto valor agregado”, diz o advogado. Remédio se refere ao fato de o preço de venda da RLAM, avaliado em US$ 1,65 bilhão, ser 50% abaixo do valor de mercado, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), e 35% aquém do preço justo, de acordo com o BTG Pactual. O valor foi questionado também pela XP Investimentos. Ele lembra que também o Cade ainda não deu parecer sobre a operação. No fim de fevereiro, o órgão determinou que a Petrobrás não venda refinarias sem sua aprovação prévia.
Em paralelo a essas iniciativas, também a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) deu entrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com representação por eventuais atos lesivos ao patrimônio da Petrobrás e aos interesses de seus acionistas, considerando a venda ruim para a estatal. O processo foi encaminhado à CVM no dia seguinte ao anúncio da venda da RLAM. A ação, bastante recente, ainda não gerou investigação.
“Tem ações contra a venda da refinaria baiana que entraram em 2919, 2020 e em 2021 e podem ter decisões que afetem o negócio”, afirma Remédio. Segundo ele, o trâmite dos processos poderá se arrastar ao longo de todo o ano.
A primeira ação data de 2019
Segundo o advogado do Escritório Garcez, a primeira ação popular contra a privatização da RLAM deu entrada na Justiça Federal, em Brasília, em meados de 2019, logo após o Termo de Compromisso de Conduta (TCC) firmado entre o Cade e a Petrobrás, que permitiu a estatal vender 50% do potencial de sua capacidade de refino. Entre as refinarias, está a RLAM, que responde por cerca de 14% dessa capacidade.
Também de autoria do Sindipetro-BA, esta ação argumenta a existência de “ilegalidades no TCC, tanto de competência do Cade para firmar um termo desse tipo, quanto de resultados, pois esta privatização não vai gerar concorrência; ao contrário, vai gerar monopólios regionais”, afirma Remédio. Este processo aguarda sentença.
Já a ação civil pública que deu entrada em março de 2020, na Justiça Federal da Bahia, tem como base estudos do Ineep, do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), e do governo da Bahia mostrando os impactos negativos, para a Bahia, da saída da Petrobrás do estado. São impactos econômicos e sociais, ligados à geração de emprego, arrecadação de impostos, crescimento da atividade econômica.
Esta ação pede a paralisação do processo de venda da RLAM para que sejam feitos estudos de políticas públicas e de impactos econômicos e sociais para estado baiano e municípios. “A Petrobrás está fazendo um processo muito assoberbado de privatização e não leva em conta esses aspectos”, avalia Remédio.
Em março deste ano, ingressou também na Justiça Federal da Bahia a ação popular contra o preço de avaliação da RLAM. O processo é de autoria dos Senadores Jacques Wagner (PT/BA) e Otto Alencar (PSB/BA), do coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar e do coordenador do Sindipetro-BA, Jairo Batista. Baseada nos estudos do Ineep, a ação destaca que a perda em relação ao preço de venda gira de R$ 8 bilhões a R$ 12 bilhões. E ressalta que bancos de investimento e financeiras, como BTG Pactual, admitem que o preço foi R$ 5 bilhões abaixo do valor de mercado. A exemplo das demais, esta ação pede a paralisação do negócio.
Remédio reconhece que as pendências na esfera jurídica não são impeditivas para assinatura de contrato de venda e compra entre as partes. “Mas representam um risco, pois a operação pode ser anulada conforme a decisão final”, diz o especialista, lembrando que o negócio ainda tem que passar pelas instâncias de controle.