Ação política de Dallagnol demonstra que Lula é um preso político

 

Por Leonardo Attuch, jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste

A afirmação de que o ex-presidente Lula é um preso político sempre foi um truísmo, ou seja, uma verdade tão óbvia que nunca careceu de demonstração. Lula jamais poderia ter sido processado pela Justiça Federal do Paraná, porque Guarujá se localiza no estado de São Paulo e porque o próprio ex-juiz Sergio Moro admitiu que as tais reformas no triplex nunca tiveram relação com a Petrobrás. Seu processo furou a fila no TRF-4 porque os inimigos de Lula, comandados pelas organizações Globo, fizeram uma conta de chegada para que a sua condenação em segunda instância – que retiraria seus direitos políticos – acontecesse antes das eleições presidenciais de 2018. Tudo com a precisão de um relógio suíço. Lula foi preso, portanto, para não ser presidente – o que confirma que ele é um preso político.

Apesar desta obviedade ululante, como diria Nelson Rodrigues, muitos setores da opinião púiblica mantiveram uma certa má vontade com Lula nos últimos anos, mesmo reconhecendo que seus governos foram aqueles em que mais prosperaram. O massacre de denúncias foi tão intenso na mídia corporativa que muita gente passou a pensar da seguinte forma: Lula foi um bom presidente, mas santo também não é. E se ele foi condenado, num processo juidicial confirmado por instâncias superiores, deve ter feito coisa errada.

Essa percepção é o que ainda explica a letargia da sociedade brasileira em relação à pauta Lula Livre. Embora a mais recente pesquisa Vox aponte que 53% dos brasileiros defendem um novo julgamento para Lula contra 35% que dizem que a condenação deve ser mantida, a vantagem pró-Lula deveria ser muito maior. O certo mesmo, que aconteceria com qualquer outro réu, seria a anulação sumária dos processos.

O que ainda impede uma vantagem maior de Lula é o fato de os meios de comunicação dominantes, especialmente a mídia televisiva, estarem escondendo as revelações da Vaza Jato, ou até tentando questioná-la, como aconteceu no Roda Vida desta semana, em que o jornalista Glenn Greennwald foi colocado num pelotão de fuzilamento formado por outros jornalistas!!!!

No capítulo de ontem da Vaza Jato, o Brasll descobriu que o chefe da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol, dialogava consigo próprio no aplicativo Telegram. Deltan se via como um messiânico predestinado a salvar o Brasil da corrupção. Mais quais eram seus métodos? Empresários investigados que financiassem suas pretensões, como a empresária Patrícia Coelho, eram blindados. O político que lhe oferecesse legenda, como Alvaro Dias, do Podemos, também era protegido. E o fundo de R$ 2,5 bilhões da Lava Jato iria para uma fundação que, como bem definiu o ministro Gilmar Mendes, formaria o fundão eleitoral da do “Partido da Lava Jato.

O problema é que nada torna tão evidente a prisão política de Lula como o fato de Dallagnol ter feito do encarceramento do ex-presidente – algo que mereceu seu jejum e depois permitiu a ascensão do neofascismo no Brasil – uma escada para suas pretensões políticas. Isso se chama concorrência desleal. Deltan abateu um adversário – e mirou outros “inimigos”, como Gleisi Hoffmann e Roberto Requião – para ter pista livre, como disse o jornalista Leandro Demori, editor do Intercept.

Isto não é normal, não é aceitável e não seria aceito em nenhum país do mundo. Deltan se valeu de seu poder institucional, garantido e pago pela sociedade brasileira para que ele atuasse com neutralidade, para disparar contra adversários e alimentar suas pretensões políticas e econômicas. Até quando essa monstruosidade institucional será tolerada?

[Via Brasil 247]