A troca de comando na Petrobrás e a “prioridade” da segurança

Em seu discurso de posse e nas primeiras declarações à imprensa, Graça Foster destacou que a segurança será prioridade em sua gestão…





Imprensa da FUP

Pela primeira vez na história da Petrobrás, uma mulher assumiu a presidência da empresa. Graça Foster, 59 anos, é a única mulher no mundo a comandar uma grande petrolífera. Em seu discurso de posse e nas primeiras declarações à imprensa, ela destacou que a segurança será prioridade em sua gestão. Aliás, a “prioridade um”, como fez questão de frisar numa entrevista exclusiva ao Jornal da Globo, no último dia 14, onde ressaltou que a segurança é “capaz de interferir em qualquer plano de metas”. E disse mais: “um gerente na plataforma não precisa telefonar para pedir autorização em lugar nenhum para parar uma sonda, ele tem que parar. Ele tem autorização, ele tem o dever de, na dúvida, parar”.

Da mesma forma que os petroleiros reconhecem a importância histórica de terem uma mulher como presidente da Petrobrás, também sabem que a defesa da vida a cada dia torna-se mais urgente e presente em todas as atividades da empresa. Na agenda sindical e nas lutas da categoria, a segurança já é prioridade número um há muito tempo. A FUP e seus sindicatos continuarão mobilizando os trabalhadores, denunciando os riscos impostos pelas gerências e cobrando da direção da empresa uma política de SMS que de fato priorize a vida, como declarou a presidenta Graça. 

Um acidente após o outro

No mesmo dia em que Graça Foster assumiu o comando da Petrobrás, os trabalhadores da P-43, na Bacia de Campos, foram afetados por um vazamento de óleo, em uma tubulação da plataforma que já havia passado por reparo e mapeada como problemática há um ano. A empresa só comunicou o fato ao sindicato no dia 15. Em nota à imprensa, declarou que aproximadamente 30 barris de óleo vazaram para o mar e que a produção foi reduzida de cerca de 90 mil para 75 mil barris/dia.

Na semana anterior, um vazamento de petróleo no Terminal de São Sebastião (Tebar), no Litoral Paulista, interrompeu por dois dias a transferência do produto para a RPBC e Revap. O vazamento aconteceu no dia 09 e só foi contido no dia 14. A Transpetro só comunicou o fato no dia 11 e não informou a quantidade de óleo derramado. Foi o segundo vazamento em menos de um mês nos terminais da Transpetro. No dia 26 de janeiro, cerca de 1.200 litros de óleo atingiram o litoral do Rio Grande do Sul, após um vazamento no Terminal de Osório.

No dia 31 de janeiro, outro vazamento de petróleo, desta vez na área do pré-sal, jorrou no alto mar do litoral paulista cerca de 160 barris de óleo cru, durante um teste de longa duração no campo de Carioca Nordeste, na Bacia de Santos. Diferentemente dos acidentes ambientais, que ganham repercussão na mídia, sedenta para tentar desqualificar a Petrobrás como operadora única do pré-sal, os incidentes e acidentes de trabalho que colocam em risco a vida do petroleiro nem sempre têm a mesma visibilidade. E como tal, são também menosprezados pela empresa.

Recentemente, o rotor da cauda de um helicóptero tocou a escada de um navio petroleiro na Bacia de Campos, quando se aproximava para pousar. Em 2003, situação semelhante causou a morte de cinco trabalhadores, quando uma aeronave caiu no mar, após o rotor da cauda ter atingido o mastro de uma embarcação, também na Bacia de Campos. Ocorrências como esta expõem a insegurança diária dos petroleiros, em função de um modelo de gestão autoritário e voltado fundamentalmente para as metas de produção. A FUP e seus sindicatos esperam que a presidenta da Petrobrás demonstre na prática sua disposição política para alterar essa realidade.