A quem interessa uma Petrobrás assim?







Eis que então, em ano eleitoral e com Serra patinando nas pesquisas, O Globo resolve se preocupar com a segurança dos trabalhadores da Bacia de Campos e estampa em suas capas denúncias que o Sindipetro-NF faz há anos em relação à insegurança na Petrobrás. Faz parte da democracia e, como diz a máxima popular, antes tarde do que nunca. É inegável que a grande visibilidade de um jornal de circulação nacional ajuda a priorizar o tema e pressiona a empresa a tratar seriamente o assunto.

Internamente, no entanto, petroleiros sabemos que a situação da companhia na área de segurança parece muito mais uma ação orquestrada por setores da empresa interessados na volta do tucanato ao poder do que, especificamente, uma orientação geral do governo.

A absoluta prioridade que o Sindipetro-NF confere à defesa da segurança determina que a entidade assuma este risco de ter o tema utilizado pela imprensa para atacar a Petrobrás. Não foi por falta de aviso. O sindicato sempre manteve abertos todos  os canais de entendimento com a empresa para que as questões denunciadas fossem resolvidas sem prejuízo da imagem da companhia, mas sempre encontrou a negligência e a enrolação como respostas.

É verdade que o vazamento do Golfo do México também acionou este tipo de pauta na imprensa, que passou a associar a exploração de grandes volumes de petróleo no pré-sal aos igualmente gigantes riscos ambientais. Não foram poucas as matérias em veículos de comunicação que partiram da pergunta: e nós, estamos preparados? A resposta da empresa é, claro, um “sim”. A dos trabalhadores, que conhecem o dia-a-dia da companhia, é um temerário “depende”.

E o “depende” diz respeito às circunstâncias que determinada ocorrência se dá na empresa. Se houver “sorte” de não haver ninguém no local de determinada explosão, ou “sorte” de determinada carga que se deslocou no convés ter parado a um centímetro do trabalhador, ou “sorte” de a corrente marinha ter levado o óleo que vazou para longe da praia paradisíaca, então será possível contornar a situação.

Mas não é este nível de precariedade que se espera de uma empresa com a tradição de excelência da Petrobrás. As imagens publicadas pela edição da semana passada do Nascente, algumas delas reproduzidas por O Globo, envergonham a categoria petroleira e o País, além, mais importante, de ilustrar o risco de morte a que estão submetidos milhares de trabalhadores em nome da produção a todo custo ou, quem sabe, de interesses inconfessáveis.
A quem interessa uma Petrobrás assim? Esta é a pergunta que se fazem os trabalhadores do setor petróleo.