Por Emir Sader
Tal qual nos outros países com governos pós-neoliberais, também no Brasil a oposição se situa sempre à direita do governo. Na Bolívia, no Equador, na Argentina, na Venezuela, no Uruguai e aqui também, a polarização se dá entre os governos e forças de direita. A ultraesquerda foi incapaz de construir força política, permanecendo no plano das denúncias. O forte apoio popular que as políticas sociais promovem nesses países dificultam a articulação da oposição de direita e levam a ultraesquerda a um isolamento.
Diante da dificuldade de tomar posição diante das políticas sociais bem-sucedidas desses governos, as oposições transitaram da negação à aceitação, ficando embaraçadas para se propor como alternativa diante de administrações que satisfazem as necessidades populares, negadas por eles quando governantes.
Já os setores historicamente, em tese, mais identificados com as causas populares, em vez de se posicionar mais à esquerda do governo – criticando seus erros, mas reconhecendo seus méritos –, em todos os países mencionados caíram na armadilha oportunista de se situar de forma equidistante entre governos e oposição de direita. E, na prática, tomando os governos como principais adversários, porque têm consciência de que enquanto esses governos mantiverem seu sucesso não há lugar para eles. Então, se aventuram a alianças de fato com a direita contra os governos progressistas.
Os governos pós-neoliberais latino-americanos encontram mais problemas no cerco internacional a seus países pelo capital especulativo e pelas campanhas da mídia externa e interna do que na oposição politica. A pressão recessiva vinda de fora encontra aliados internos, que canalizam investimentos para a especulação financeira, em vez de investimentos produtivos, pressionando para que as economias entrem em recessão – como segue acontecendo nos países do centro do capitalismo. A oposição busca explorar isso, valendo-se do monopólio privado dos meios de comunicação, para fomentar um clima de pessimismo, que tem efeitos sobre o grande empresariado, ele mesmo alinhado politicamente com a oposição.
Nas eleições brasileiras, com a provável vitória de Dilma – no primeiro ou no segundo turno –, o segundo mandato deve ser distinto do primeiro. A promessa de baixar as taxas de juros aos patamares internacionais deve ser um objetivo central, para poder concretizar o que ela anuncia como um novo ciclo expansivo da economia. O que só pode vir acompanhado da elevação do dólar, que ampare a competitividade externa do Brasil.
Será um outro governo, como tem expressado o ex-presidente Lula, ao dizer que o segundo mandato de Dilma será melhor que o primeiro. Um mandato em que o próprio Lula terá uma ingerência mais direta e que, segundo ele, terá de se fundar em um novo pacto político, que contorne alguns dos maiores obstáculos políticos existentes até aqui.
Entre os novos elementos estará, sem dúvida, a reforma política, que introduza o financiamento público, o voto por lista e as cotas nessas listas, talvez até mesmo o patamar de votação mínima para a existência de partidos. Um novo impulso nos processos de integração latino-americana poderia apontar até para ênfases novas na política exterior, de que o sucesso das últimas decisões dos Brics são uma demonstração.
Quanto à oposição, caso não triunfe agora, enfrentará muitas incertezas. Os tucanos devem sofrer sua pior derrota, mesmo que logrem manter São Paulo, diminuindo sua bancada e ficando sem um nome presidenciável. A morte de Eduardo Campos deixa a oposição sem alternativa, já que a candidatura de Marina não cumpre os requisitos para essa difícil função.