Em entrevista ao jornal do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo, a sindicalista Marbe Cristina analisa a situação das mulheres no mercado de trabalho e, em especial, no Sistema Petrobrás. Diretora do Sindipetro Unificado-SP e da CNQ/CUT, ela também é integrante do Comitê Estadual de São Paulo de Defesa do Petróleo pela Soberania Nacional. Marbe entrou para a Petrobrás em 2007 e, apesar de morar em Sumaré (perto de Campinas), é lotada no Edisp e por isso viaja todos os dias para a capital paulista. Além de denunciar que menos de 7% dos cargos de confiança são ocupados por mulheres na Petrobrás, ela fala sobre a luta dos movimentos sociais pela retomada do monopólio estatal do petróleo.
Confira a íntegra da entrevista:
Entre 2009 e 2010 foram abertos 163 mil postos de trabalho para mulheres. Quantas mulheres entraram para a Petrobrás nas bases do Unificado?
Nesse período foram contratadas apenas 19 mulheres em nossa base (Recap, Replan e Edisp), sendo que a maioria foi para o Edisp. Esses números são muito flutuantes, entre 2007 e 2008, por exemplo, foi bem maior. Não existe nenhum programa diferenciado para contratação de mulheres no sistema Petrobrás. Como as contratações são feitas por meio de concurso público, a empresa diz que não há como fazer algo para incentivar mulheres a se inscreverem e nem como contemplá-las com número maior de vagas. Porém, para alguns cargos, principalmente para plataformas e navios, a empresa coloca no edital que são vagas “exclusivamente” para homens.
Hoje as mulheres representam 45% da população ocupada. No entanto, ainda há diferença salarial. Por que as mulheres ainda ganham menos que os homens?
Os empresários afirmam que o custo com as mulheres é maior, por conta dos constantes “afastamentos” para acompanhar filhos ao médico, reuniões escolares, licença gestante etc. Porém, já foram realizados diversos estudos que comprovam que esse discurso é um mito: os homens faltam mais e produzem menos do que as mulheres, o que invalida a tese dos patrões. O que prevalece, na realidade, são os pensamentos machistas e sexistas ainda existentes em nossa sociedade. No próprio Sistema Petrobrás, quando falamos em distorções salariais entre gêneros, a empresa vem com o discurso que todo pessoal contratado através de concurso público tem seus vencimentos equiparados.
Mas elas têm a mesmo crescimento profissional?
Para as mulheres, as oportunidades de avanço de nível, promoção, ascensão profissional e indicação a cargos de confiança ainda são reduzidas. Para se ter uma ideia, dos 7506 cargos de confiança existentes na companhia, 7027 são ocupados por homens e 479 por mulheres, o que perfaz um percentual de 6,38%. Temos, também, apenas uma mulher na direção executiva que é composta por seis diretores e o presidente da empresa, o que é pouco para o universo da Petrobrás. Atualmente, está sendo elaborada uma lista com “potenciais gerentes” no âmbito do Compartilhado Regional São Paulo/Sul e dos nove indicados, apenas duas são mulheres.
Há vários problemas no Edisp. Quem é o maior responsável, a Petrobrás ou as terceirizadas?
No meu entendimento, ambas: as empresas terceirizadas por desrespeitar os seus funcionários e a Petrobrás, por se omitir sem tomar nenhuma atitude que saneie esse desrespeito e, pior ainda, dizendo que não pode intervir nestas relações. A Petrobrás se apresenta perante a sociedade como preocupada com o respeito ao meio ambiente e às pessoas, mas não reproduz isso dentro de suas dependências. Infelizmente, a gestão deixa a “força de trabalho” da maior empresa do Brasil sofrer os mais diversos tipos de agressões, como assédio, preconceito, salários rebaixados e falta de oportunidades. A empresa está tentando certificação na ISO 26000 (Responsabilidade Social), mas nada faz para minimizar as diferenças existentes entre os funcionários dos diversos segmentos da empresa e suas subsidiárias e prestadoras de serviços.
Qual a ação do sindicato diante de uma denúncia ou problema?
No Edisp nos pautamos pelo diálogo. Sempre que há denúncias, antes de enviá-las ao jornal, tentamos conversar com o fiscal e o gerente do contrato, bem como com o preposto da empresa, para esclarecer e resolver os problemas. Caso não surtam resultados, procuramos o RH local e o gerente da área do contrato fazemos reunião, ainda tentando acordos. Só após esgotar estes recursos enviamos a denúncia para o jornal. Aqui no Edisp todos “temem” serem denunciados em matérias nos nossos boletins informativos, assim, usamos este meio como “última instância” e, geralmente, resolve!
Quais serão as próximas ações do Comitê Estadual de Defesa do Petróleo pela Soberania Nacional?
No começo de abril houve a V Plenária Nacional da campanha “O Petróleo tem que ser nosso!”, na qual foram tomadas algumas deliberações que verificaremos a possibilidade de adoção junto aos demais integrantes do Comitê. São elas: a elaboração de um curso sobre petróleo para militantes do movimento social e a continuidade na arrecadação de assinaturas, com uma marcha até o Congresso Nacional para entregá-las. Iremos realizar, nos próximos dias, uma reunião com as pessoas que foram à plenária e os membros do Comitê para nos alinharmos e auxiliarmos, no que for possível, na formatação do curso, no âmbito nacional.