[Por Paula Moreira Leite, articulista do Brasil 247]
Lançado na noite de quinta-feira, no Rio de Janeiro, numa cerimônia que contou com a presença de Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras entre 2005 e 2012, além de economistas do gabarito de José Luíz Fiori e Marcio Pochmann, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível Zé Eduardo Dutra (INEEP) tem a vocação de cumprir uma função essencial num país que procura encontrar caminhos para interromper o processo de destruição iniciado pelo golpe de 2016.
A proposta do INEEP é debater ideias, avaliar tendências e estudar as opções estratégicas necessárias para fazer o necessário um caminho de volta, num cenário mais adverso, no qual o esquartejamento da Petrobras e o leilão na bacia das almas das reservas do pré-sal promovidos pelo governo Temer não podem ser vistos como episódios locais.
Devem ser compreendidos como lances importantes para um novo desenho no mercado mundial de petróleo, no qual as reservas brasileiras se tornarão mais importantes — e mais preciosas — do que se imagina.
“Não podemos fazer papel de avestruz”, alertou Sérgio Gabrielli em sua intervenção. Com a autoridade de quem presidia a Petrobras na descoberta do pré-sal, Gabrielli se referia a uma gigantesca mudança em curso nos mercados mundiais, em cuja base vários fatores se somam para desenhar uma paisagem muito diferente daquela construída nas décadas seguintes a Segunda Guerra Mundial, quando os países do Oriente Médio — em particular a Arábia Saudita — ganharam um poder hegemônico sobre a principal fonte de energia do planeta. Na segunda década do XXI, assiste-se a uma dinâmica inversa, que irá reforçar a importância do pré-sal brasileiro.
De um lado a produção do Oriente Médio tende a se tornar cada vez mais cara em função de investimentos tecnológicos necessários para extrair petróleo em áreas de exploração mais antigas. De outro, mesmo a extração em países com grandes reservas pouco exploradas, como Estados Unidos e Canadá, encontra um limite essencial — as pressões dos movimentos ambientalista.
Neste quadro, explicou Gabrielli, que deve chegar a seu ponto de inflexão entre 2024-2025, a tendência mais compensadora para as produtoras que controlam o mercado mundial será explorar o pré-sal brasileiro – o que ajuda a entender a cobiça em relação aos lotes da Petrobrás e confirma a natureza absurda da concessões feitas por Michel Temer-Pedro Parente.
“A guerra pelo petróleo é disputa de cachorro grande”, avaliou José Luiz Fiori, em sua intervenção, quando se debruçou sobre a reconcentração das grandes reservas mundiais nas mãos de poucas e grandes companhias.
Nesta situação de mudança, a formação do INEEP tem um aspecto didático. Na década passada, a Petrobras e os petroleiros estiveram na linha de frente de construção de um modelo de desenvolvimento que ampliou a distribuição de renda, gerou empregos de qualidade e esboçou um lugar melhor para o país no mundo.
Em 2018, quando essa arquitetura se encontra desmontada, seus herdeiros organizam uma resistência que faz questão de olhar o futuro. O apoio ao INEEP assegurado pela Federação Única de Petroleiros, a FUP, é significativo. Sua atitude nos anos FHC, quando organizou uma greve dura que impediu a privatização da Petrobras, a entidade pavimentou o que veio depois.
Na quinta-feira, numa intervenção que fazia um valioso apanhado histórico, Marcio Pochmann sublinhou que, além de defender salários e seu padrão de vida, vive-se um momento em que os sindicatos são obrigados a entender o presente para serem capazes de planejar o futuro. Mais do que nunca, este é o caso do petróleo.