A Petrobrás da mentira


Um pressuposto essencial a qualquer negociação é a credibilidade do interlocutor. Mentir numa negociação coletiva é, antes de agredir ao outro lado, desmoralizar a si mesmo.

Também na relação de liderança, onde o exemplo é fundamental, a mentira aos subordinados, mais do que agredir a estes, desqualifica o mentiroso para o desempenho do cargo.

O primeiro exemplo diz respeito ao Gerente de Recursos Humanos da Petrobrás, o Senhor Diego Hernandez. O último aos diversos gerentes da Bacia de Campos. Vejamos como;

Na vitoriosa greve de 2008 as gerências da Bacia de Campos foram orientadas a desembarcar os grevistas com a esfarrapada mentira de realização de um “curso”. Mentira lastimável, que joga na lama toda a construção de liderança que se deve esperar da parte de quem, enquanto responsável pelas unidades, toma decisões das quais depende a vida de todos a bordo. Não havia curso algum, nem agenda, nem providências para que houvesse.

Agora, com pouca imaginação – qualidade que um bom mentiroso deveria ter – os mentirosos repetem a mentira, e insistem no “curso da carochinha”.

Mentem também na tentativa de obrigar os trabalhadores a desembarcar. A Petrobrás tentou mais um infame interdito proibitório, no qual a Juíza de plantão no sábado, Gisele Bondim, reconheceu o direito dos grevistas permanecerem pacificamente a bordo. Como o resultado a desagradou, a Petrobrás o omitiu, e continuou a mentir para os trabalhadores.

Mas o exemplo vem de cima. Na já famosa videoconferência unilateral (os trabalhadores só podiam ouvir e ver) o Senhor Diego Hernandez mentiu ao afirmar que a FUP e os sindicatos não estavam dispostos a negociar, e mentiu em cada um dos pontos de reivindicação:

– MENTIU ao dizer que a Petrobrás tinha propostas para o SMS, a manutenção dos postos de trabalho na indústria, e o regramento da PLR, pois a empresa nada apresentou, senão uma vaga resposta de que “estaria disposta” a discutir os pontos, coisa que quanto à SMS os trabalhadores vêm ouvindo há anos, sem que as mortes cessem;

– MENTIU sobre ter uma proposta de PLR, pois esta é a mesma de antes e, sem um teto definido, tenta embutir na PLR dos gerentes a lógica de bônus individuais, política de FHC e do neoliberalismo que quebrou a economia norte-americana mas à qual o Senhor Diego Hernandez tenta permanecer fiel;

– MENTIU em dizer que a negociação foi apressada, como se não soubéssemos que a PETROBRÁS descumpriu o adiantamento da PLR a que se comprometera, e que a FUP e os sindicatos tentam negociar tanto o pagamento como o adiantamento desde Novembro de 2008;

– FOI EXTREMAMENTE SINCERO ao defender, quanto às dobradinhas, a posição do roubo neoliberal: não pago, não reconheço, não devo, tirei na mão grande e fim!

E nada mais lhe restando além das mentiras, preferiu fechar com a declaração do “fim da impunidade” na Petrobrás, o que deve significar que a Empresa finalmente começará a punir gerentes corruptos e responsáveis por acidentes de trabalho. Isso é bom!

Pateticamente, ao final de um cabedal de mentiras, o Senhor Diego Hernandez pretendeu desmoralizar as direções sindicais, afirmando que “continuará tomando seus conhaques com os companheiros” dirigentes.

Vale lembrar que companheiro é quem divide o mesmo pão, e não quem toma o pão do outro!