A necessidade privatizante de Pedro Parente

 

 

Em entrevista concedida ao jornal “O Globo” na terça-feira, 14, o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, mais uma vez deixou claro que seu papel não é recuperar a empresa e sim dilapida-la, como vem fazendo desde que assumiu a companhia pelas mãos de um governo golpista.

 Ao comentar os questionamentos do TCU, que colocam sob suspeita o seu feirão de ativos, ele afirmou que vender ativos não é uma escolha e sim “uma necessidade”, insistindo na falácia de que não há alternativas para a companhia. “Fizemos operações de alongamento do perfil da dívida. Trocamos dívida velha por dívida nova, mas isso não muda o tamanho da dívida”, declarou Parente, exacerbando, mais uma vez, sua obsessão em reduzir a dívida da Petrobrás, o que, é um grande mito.

“Na realidade, essa afirmação do presidente esconde uma estratégia extremamente rígida para lidar com o endividamento da companhia”, destaca a assessoria econômica da FUP, em nota técnica que se contrapõe às declarações de Pedro Parente. Até 2018, a Petrobras pretende reduzir em mais de 50% a sua relação dívida líquida/LTM EBITDA, que diz respeito aos lucros operacionais acumulados nos últimos 12 meses, antes dos juros, amortizações, impostos e depreciação, ou seja, recursos oriundos das atividades operacionais. Esse indicador, que em 2015 era de 5,3, passará para 2,5 no ano que vem, o que confirma a decisão deliberada dos gestores por vender ativos.

“Além de uma perda expressiva de valor dos ativos num momento de discrepância entre vendedores e compradores no mercado de petróleo, é uma estratégia equivocada que ignora mudanças importantes do cenário macroeconômico que devem permitir um maior controle da relação dívida líquida/LTM EBITDA”, revelam os economistas que assessoram a FUP.

Para eles, essa “redução draconiana” imposta pelos gestores da Petrobrás força a venda de ativos operacionais, pois desconsidera completamente as mudanças do cenário atual. “Em primeiro lugar, com a queda da inflação, a política de repressão dos preços dos derivados não deve ocorrer. Em segundo lugar, a taxa de câmbio parece não ter espaço para uma nova desvalorização e os preços do petróleo, ao contrário dos últimos anos, devem apresentar um aumento gradual – estimativas apontam que devem se situar próximo a US$ 80 até 2020”, afirmam.

Além disso, a gestão da Petrobrás não leva em conta os efeitos das perdas de caixa nos médio e longo prazos, em função da venda de ativos operacionais lucrativos e da redução de sua participação na exploração do Pré-Sal.

Ao contrário do que afirma Pedro Parente, não seria necessário vender ativos rentáveis para fazer caixa no curto prazo, se a meta da relação dívida líquida/EBITDA fosse alterada para 3,1 em 2018, em vez de 2,5, como revelam estudos recentes. Somam-se a isso, as reservas que a Petrobrás detém no Pré-Sal e que a colocam à frente de outras petroleiras do mundo, em termos de médio e longo prazos, uma vez que detém novas áreas produtoras competitivas que poderão gerar fluxos de caixa futuros.

“A decisão de forte desalavancagem da Petrobrás parece ser uma necessidade não para resolver a situação financeira da companhia no longo prazo, mas para atender aos interesses estrangeiros no tabuleiro geopolítico do petróleo”, conclui o estudo da assessoria econômica da FUP.