A Mídia Livre e o Senhor dos Anéis


Um dos filmes mais instigantes dos últimos anos foi A Trilogia do Anel. Apesar de baseado em uma história escrita nos anos 60, o filme ganhou uma atualidade extraordinária, tornando-se um dos ícones da era da internet. Nele, além da fantasia, do mergulho em ondas de imaginação, chamava a atenção a grande guerra contra os invasores, na qual apareciam do nada várias espécies de tribos, juntando-se aos guerreiros.

No fim de semana passado estive no 2º Fórum de Mídia Livre, em Vitória, reunindo blogueiros e interneteiros de todo o país. Como na Trilogia, há várias tribos circulando, cada qual com sua mitologia, com seus heróis.

Mckenzee, um jovem radialista que criou o sistema Videolog (de compartilhamento de vídeos) fala sobre esses limites entre realidade e fantasia. Diz que quem tem mais de 30 acredita só na realidade; entre 15 e 30, mistura realidade com a virtualidade, Monteiro Lobato com mundo real; e os que nascem agora verão um mundo só.

A tribo de Mídia Livre que foi a Vitória politicamente se define como de esquerda. Mas longe da esquerda antiga e suas palavras de ordem. Os dois conceitos que mais cultivam é individualidade e individualidade coletiva – uma espécie de ser coletivo que emerge da vontade individual dos blogueiros.

São contra o status quo, vestem-se como garotões – a maioria é muito jovem. São ativos na adesão às lutas coletivas, como a mobilização em defesa do blogueiro que recebeu uma notificação extrajudicial da Folha, por colocar banners contra o jornal.

Muitos são blogueiros que defendem causas específicas, como Altino Machado, blogueiro do Rio Branco, Acre. Ou como as duas irmãs do Amapá, alvos de uma saraivada de processos do senador José Sarney.

Alguns deles enveredaram pela atividade do marketing digital. Outros procuram se virar desenvolvendo sistemas, participando de comunidades de desenvolvedores que, ao menos no campo dos blogs e das redes virtuais, lograram desenvolver sistemas muito mais eficientes do que o das grandes multinacionais do setor.

Esse universo mítico tem suas divindades. Tem a rainha Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ou o “professor” Idelber Avelar, que leciona em universidade de Nova Orleans. Tem os “traidores”, também, como o blogueiro ligado a uma determinada política de São Paulo, que se especializou em falsificar blogs na internet.

De minha parte, conheci esse mundo fantástico há dois anos, quando me propus a enfrentar a revista Veja através de meu Blog.

No início, era uma luta solitária. De repente, das profundezas da internet começaram a aparecer as adesões, blogueiros de norte a sul reproduzindo os capítulos da série, montando discussões, campanhas de apoio.

Nas noites solitárias em minha casa, depois das grandes batalhas, entrava por esse fascinante mundo da internet e, a exemplo do filme Senhor dos Anéis, me reconfortava sabendo que existiam tantas tribos que eu nem supunha, me apoiando na grande batalha.