A mídia jogando seu papel







A cobertura do Jornal Nacional sobre uma pretensa agressão ao candidato do oligopólio falou por si, forçando a barra e expondo o que entendem por “jornalismo”: a manipulação da pior espécie, a campanha mais torpe, o uso da mídia como um poder que interpreta os fatos sem qualquer correspondência com a realidade, negando o direito da sociedade à comunicação. Ao mesmo tempo, os pretensos defensores da “livre expressão” pedem censura ao jornal da CUT, ao blog do Artur e à Revista do Brasil, estampando que para eles democracia é o poder do DEM – e do PSDB.

O uso descabido de uma concessão pública para fins eleitoreiros, sem o mínimo pudor por esta direita reacionária é mais do que um acinte, uma agressão. Vale lembrar que o monopólio midiático manda e desmanda na telinha. A Globo controla 342 veículos, num poderoso conglomerado com ramificações em rádios, jornais e revistas que, com todos os seus filtros uniformizadores, deixam a opinião pública vulnerável na batalha pelo direito a uma informação veraz, minimamente isenta.

Assim, quantas pessoas sabem que a ação de Serra no calçadão de Campo Grande, no Rio, aconteceu próxima ao Sindicato dos Mata-Mosquitos, cuja categoria foi praticamente extinta por Serra quando ministro da Saúde de Fernando Henrique, com o corte de cinco mil trabalhadores? Que aquela demissão em massa fez explodir uma epidemia de dengue? Que eles só foram recontratados anos depois, pelo governo Lula? Que o conflito iniciou após os seguranças de Serra terem agredido os manifestantes e rasgado seus cartazes? Que os trabalhadores perguntaram para o “presidengue” quem é Paulo Preto? Que o vice, o Índio do DEM, declarou que “estava ao lado de Serra, abraçado com ele, quando veio aquele pacote enorme. Bateu na cabeça dele e fez até barulho. Negócio pesado. Devia ter uns dois quilos”? Que após a pretensa agressão Serra não foi a um neurologista, mas a um cancerologista?

E o silêncio sepulcral sobre o encontro “fechado” de FHC com “investidores” estrangeiros no Hotel das Cataratas, em Foz de Iguaçu, relatado pelo veterano jornalista mineiro Laerte Braga. E a confissão: “o assunto é a privatização da Petrobrás, de Itaipu e do Banco do Brasil, além de outras ‘oportunidades’ de negócios. FHC está assumindo o compromisso de venda dessas empresas em nome de José Serra. Cada um dos investidores recebeu uma pasta com dados sobre o Brasil, artigos de jornais nacionais e internacionais e descrição detalhada do que José Serra vai vender se for eleito. E além disso os investidores estão sendo concitados a contribuir para a campanha de José Serra, além de instados a pressionar seus parceiros brasileiros e a mídia privada a aumentar o tom da campanha contra Dilma Rousseff”. A própria assessoria de Fernando Henrique confessou o encontro após a direção do hotel ter confirmado a sua realização.

E a compra de votos realizada no Rio Grande do Sul, onde cestas básicas foram transformadas em moeda eleitoral, distribuídas por um caminhão de som da campanha de Serra?

O fato é que há mais perguntas do que respostas e que junto à concepção neoliberal do Estado mínimo, privatistas e entreguistas do patrimônio público tentam confundir liberdade de imprensa com liberdade de empresa, para continuar agindo impunemente. Daí as razões da histeria destes setores contra o controle social ou qualquer instrumento democrático de gestão, pois não querem assumir responsabilidades com a verdade, com a informação, com a cultura e a educação…

Como lembra o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), quando abrimos uma torneira e sai água suja, não bebemos. Mas quando ligamos a televisão ou o rádio e recebemos conteúdos de má qualidade, ainda não há praticamente nada a ser feito.

Diante da complexidade do embate e dos interesses contrariados em jogo, é preciso tirar do papel (não atirar papel!) as propostas aprovadas pela Conferência Nacional de Comunicação. Entre as principais diretrizes aprovadas está a “garantia de mecanismo de fiscalização, com controle social e participação popular, em todos os processos como financiamento, acompanhamento das obrigações fiscais e trabalhistas das emissoras, conteúdos de promoções de cidadania, inclusão, igualdade e justiça, cumprimento de percentuais educativos e produções nacionais”.

Tal ação deve estar articulada com a “criação de Conselhos de Comunicação nos âmbitos federal, estaduais e municipais de caráter paritário, com membros eleitos e estrutura de funcionamento para que possa acompanhar a execução das políticas públicas, que garantam o efetivo direito humano à comunicação. Entre suas atribuições, devem constar a regulação de conteúdo, políticas de concessões e mecanismos de distribuição”. Nossa compreensão é que estes são pontos medulares para a efetivação das políticas públicas, uma vez que estabelecem formas democráticas da sociedade gerir um espaço estratégico para o seu livre desenvolvimento.

Conscientes de que a comunicação é um palco central na disputa de hegemonia, sublinhamos a necessidade de que tais propostas, entre outras igualmente importantes, nos levem às ruas e urnas para a construção de uma nova sociedade, mais justa, solidária, igualitária e democrática. Para que alguns veículos de comunicação deixem de fazer papelão.